Eu sinceramente não sei se crianças de hoje devem ler o Monteiro Lobato. Eu o achava chato para diabos e nunca li.
Basta ler qualquer coisa produzida no começo do século XX para esbarrar em eugenia e racismo. O Veblen, que tanta bola dentro deu, tem capítulos e mais capítulos estranhíssimos sobre as raças. No Brasil, os trechos do
Gilberto Freyre enchendo a bola da Ku Klux Klan são um exemplo mais radical.
O Caio Prado Jr., comunista literalmente* de carteirinha, deu umas escorregadas tardias (1942). Falando da colonização do Brasil:
"Conservará um acentuado caráter mercantil; será a empresa do colono branco, que reúne à natureza, pródiga em recursos aproveitáveis para a produção de gêneros de grande valor comercial, o trabalho recrutado entre raças inferiores que domina: indígenas ou negros africanos importados. (Formação do Brasil Contemporâneo - grifos meus)
Ele também falava da "cultura inferior" dos índios:
“O índio brasileiro, saindo de uma civilização muito primitiva, não podia se adaptar com a necessária rapidez ao sistema e padrões de uma cultura tão superior à sua, como era aquela que lhe traziam os brancos”. (Formação do Brasil Contemporâneo- grifos meus)
Como eu sabia que o Caio Prado Jr. cometeu outros deslizes, além dos que eu tinha no meu fichamento, dei uma googlada e caí
nesse texto com citações bem piores (grifos meus):
"É verdade que Caio Prado atribui em boa parte o aviltamento e degradação de índios e negros no Brasil sobretudo à escravidão, denunciando pois o racismo da sociedade colonial – no que faria escola –, mas é inegável que seu marxismo convive com a “raciologia científica” típica do século XIX.
Não pode ser outra a conclusão sobre Caio Prado ao lermos seu juízo de que a escravidão “incorporou à colônia, ainda em seus primeiros instantes, e em proporções esmagadoras, um contingente estranho e heterogêneo de raças que beiravam ainda o estado de barbárie, e que no contato com a cultura superior de seus dominadores, se abastardaram por completo”. Caio Prado é reiterativo: índios e negros eram povos “de nível cultural ínfimo”... acrescentando adiante que “a contribuição do escravo preto ou índio para a formação brasileira é, além daquela energia motriz, quase nula”. "
Reitero: eu sei lá se as crianças devem ler o Monteiro Lobato, se os livros devem ser retirados das escolas ou se basta uma nota explicativa. Eu só quis lembrar que na hora de julgar um autor não custa olhar o ambiente intelectual da época. No começo do século XX, o Lobato não estava sozinho. Racismo era mato. E atingia até os "progressistas".
*"literalmente" aqui está sendo usado no sentido literal. Literalmente.