Produção recente em Economia Regional e o XI Enaber

Este ano fui um dos pareceristas da Anpec na área de Regional e Urbana. Foram 50 trabalhos e tivemos que escolher 18 (número indicado pela organização). Tirando um ou dois artigos aberrantes, a qualidade foi muito boa mesmo.
O que mais me impressionou, contudo, foi o volume de artigos sobre avaliação de impacto que usaram os métodos típicos da microeconometria (PSM, diff-in-diff, descontinuidade, essas coisas). Impressionante o quão rápido as novas gerações se apropriaram do instrumental. Os métodos tradicionais não foram excluídos- e nem deveriam ser - mas as novas ferramentas são mais do que bem-vindas para revitalizar a área.
Ainda sobre congressos: a Economia Regional tem, sem dúvida, o melhor papo de todas as áreas da Economia no Brasil. Não sei o porquê. Talvez, por sorte, os grandes nomes fundadores sejam gente muito boa, ótimos de conversa e atraiam outros caras legais para o campo. (Não me digam que é porque trata-se de um área de baixo status relativo e pequena. Existem áreas com menor reputação compostas por malas-primícia-com-rodinha-quebrada-em-piso-de-pedras-portuguesas).
Enfim, digo isso para explicar a minha tristeza em não rever os amigos no XI Enaber  em Foz do Iguaçu. Três dias para rever os amigos, conhecer outros, estragar o fígado e, sem perceber, aprender um monte. Sucesso e vida longa à ABER

Gary Becker X Lei Maria da Penha

Preços relativos importam. Quer no mercado de bens, quer nos crimes. A Lei Maria da Penha aumentou o custo de agredir uma mulher, mas não o de matar uma mulher. Acrescente a isso o fato de que um mulher assassinada é uma testemunha à menos de agressão e pronto:  a taxa de feminicídios ficou estável ou até aumentou. Enfim, como Tio Becker já sabia, até covardes e doidos respondem à curva de demanda.
O próprio estudo e a CPMI sobre o assunto concordam com a solução: tornar o feminicídio agravante nos casos de homicídio.

Deu no Granma: Cuba com mais jeitão chinês

Eu já tinha ouvido que o plano do Raul Castro é seguir modelo chinês. Dizem também que o complexo turístico-all-inclusive-enche-o-bucho-e-a-cara-em-hotelões-de-rede-internacional de Varadero é seu projeto pessoal. (Faz quase uma década, eu conheci o sucesso do lugar com este fígado cansado que a terra há de comer). Agora parece que a mudança é mais profunda. Acabaram de legalizar a criação da Zona Especial de Desarrollo Mariel. Nas palavras do Granma:
"en dicha Zona se pondrán en práctica políticas especiales, con el objetivo de fomentar el desarrollo económico sostenible estimulando la inversión extranjera y nacional, la innovación tecnológica y la concentración industrial."
O Porto de Mariel já recebeu uma grana boa do BNDES e a Odebrecht toca a obra. Sem o Fidel para trazer insegurança, é provável que dê certo. Por "certo", entenda-se: ganhos de bem-estar para os cubanos, mas concentrados em certos amigos da revolução.

Minha lista de leitura de Economia Brasileira

...para a turma do doutorado da UCB. Pessoal, tendenciosa e incompleta. Aceito sugestões.

Parte 0: Introdução

Preâmbulo:

História como o laboratório da Economia

Cliometria versus abordagem tradicional

A visão adquirida da economia brasileira

Séries históricas da Economia Brasileira

·         REIS, E. et al. O Século XX nas contas nacionais. Estatísticas do século XX, 2002.

·         LEFF, N. H. Subdesenvolvimento e desenvolvimento no Brasil. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1991. 2 v.

Parte I: Temas clássicos da Economia Brasileira

Abordagem econômica da escravidão no Brasil

·         MELLO, P. C. de. Aspectos econômicos da organização do trabalho na economia cafeeira do Rio de Janeiro. 1850-1888. Revista Brasileira de Economia, v. 32, n. 1, p. 43-67, 1978.

·         MELLO; SLENES, R. W. Análise Econômica da Escravidão do Brasil. In: Economia brasileira: uma visão histórica. Rio de Janeiro: Campus, 1980. p. 411.

·         MONASTERIO. FHC errou? A economia da escravidão no Brasil Meridional. História e Economia Revista Interdisciplinar da Brazilian Business School. São Paulo: Terra Comunicação Editorial, v. 1, n. 1, p. 13–28, 2005.

·         REIS; REIS, E. P. As elites agrárias e a abolição da escravidão no Brasil. Dados: Revista de Ciências Sociais, v. 31, n. 3, p. 309–341, 1988.

·         VERSIANI. Brazilian slavery: Toward an economic analysis. Revista Brasileira de Economia, v. 48, n. 4, p. 463–477, 1994.

Custo de transporte e desigualdade regional no longo prazo

·         MONASTERIO. Brazilian spatial dynamics in the long term (1872–2000):“path dependency” or “reversal of fortune”? Journal of geographical systems, v. 12, n. 1, p. 51–67, 2010.

·         Reis, Eustáquio ; Monasterio, Leonardo Monteiro . Mudanças na concentração espacial das ocupações nas atividades manufatureiras do Brasil, 1872-1920. In: Tarcísio R. Botelho, Marco H. D. van Leeuwen. (Org.). Desigualdade social na América do Sul: perspectivas históricas. 1ed.Belo Horizonte: Veredas e Cenários, 2010, v. , p. 243-274.

·         SUMMERHILL, W. R. Big social savings in a small laggard economy: railroad-led growth in Brazil. The Journal of Economic History, v. 65, n. 1, p. 72–102, 2005.

Industrialização antes de 1930

·         Peláez, C.M. História da indústria brasileira. Rio de Janeiro: Apec, 1972.

·         FISHLOW, A. Origens e conseqüências da substituição de importações no Brasil. Estudos Econômicos, v. 2, n. 6, p. 7–75, 1972.

·         SUZIGAN, W. Indústria brasileira: origem e desenvolvimento. São Paulo: Hucitec, 2000.

Crise de 1929 e industrialização

·         SUZIGAN, W. Indústria brasileira: origem e desenvolvimento. São Paulo: Hucitec, 2000.

·         PELÁEZ, C. M. A balança comercial, a grande depressão e a industrialização brasileira. Revista Brasileira de Economia, v. 22, n. 1, p. 15–47, 1967.

·         SILBER, S. D. Política econômica: defesa do nivel de renda e industrialização no periodo 1929/1939. 1973.

Parte 2: Exercícios cliométricos

·         Delfim Neto, Antônio. O problema do café no Brasil. São Paulo, FEA-USP, 1959

·         COLISTETE, R. P. Productivity, Wages, and Labor Politics in Brazil, 1945–1962. The Journal of Economic History, v. 67, n. 01, p. 93–127, 2007.

·         MONTEIRO, S. M. M.; FONSECA, P. C. D. Credibility and populism: the economic policy of the Goulart administrations in Brazil. Estudos Econômicos (São Paulo), v. 42, n. 3, p. 511–544, 2012.

·         NARITOMI; SOARES, R. R.; ASSUNÇÃO, J. J. Institutional Development and Colonial Heritage within Brazil. The Journal of Economic History, v. 72, n. 02, p. 393–422, 2012.

·         KANG, T. H. Instituições, voz política e atraso educacional no Brasil, 1930-1964. Master Thesis, Universidade de São Paulo, 2010.

·         SANTOS; COLISTETE, R. P. REAVALIANDO O II PND: UMA ABORDAGEM QUANTITATIVA. [s.l.] ANPEC - Associação Nacional dos Centros de Pósgraduação em Economia [Brazilian Association of Graduate Programs in Economics], 2011. Disponível em: <http://econpapers.repec.org/paper/anpen2010/190.htm>. Acesso em: 4 ago. 2013.

Parte 3: Temas recentes

Desigualdade regional ou desigualdade pessoal?

·         LANGONI. Distribuição da renda e desenvolvimento econômico do Brasil. [s.l.] FGV Editora, 2005.

·         PESSÔA, S. Existe um Problema de Desigualdade Regional no Brasil?Salvador: ANPEC, 2001

·         SILVEIRA NETO; AZZONI, C. R. Non-spatial government policies and regional income inequality in Brazil. Regional Studies, v. 45, n. 4, p. 453–461, 2011.

·         SOUZA, Pedro Herculano Guimarães Ferreira. Os efeitos das desigualdades regional sobre a desigualdade interpessoal de renda no Brasil, Estados Unidos e México. Texto de Discussão Ipea, no prelo. 2013.

Doença Holandesa ou Doença Soviética?

·         BONELLI, R.; PESSOA, S. A. Desindustrialização no Brasil: um resumo da evidência. Rio de Janeiro: Ibre/FGV, 2010.

·         OREIRO, J. L.; FEIJÓ, C. A. Desindustrialização: conceituação, causas, efeitos e o caso brasileiro. Revista de economia política, v. 30, n. 2, p. 219–232, 2010.

·         SQUEFF, G. C. Desindustrialização: luzes e sombras no debate brasileiro. 2012.  Texto de Discussão Ipea.

Evolução da Produtividade Total dos Fatores

·         BACHA; BONELLI, R. Uma interpretação das causas da desaceleração econômica do Brasil. Revista de economia política, v. 25, n. 3, p. 163–189, 2005.

·         BARBOSA FILHO; PESSÔA, S. DE A.; VELOSO, F. A. Evolução da produtividade total dos fatores na economia brasileira com ênfase no capital humano-1992-2007. Revista Brasileira de Economia, v. 64, n. 2, p. 91–113, 2010.

·         FERREIRA; ELLERY JR, R.; GOMES, V. Produtividade agregada brasileira (1970-2000): declínio robusto e fraca recuperação. Estudos Econômicos (São Paulo), v. 38, n. 1, p. 31–53, 2008.

·         ELLERY. Produtividade total dos fatores e acumulação de capital no Brasil. Revista Economia & Tecnologia, v. 9, n. 1, 2013.

·         Ipea. Boletim especial radar 28. 2013. http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/radar/130911_radar28.pdf

Por que o Brasil poupa pouco?

·         BONELLI, R.; BACHA, E. Crescimento Brasileiro Revisitado. Desenvolvimento Econômico—Uma Perspectiva

·         HOLANDA BARBOSA FILHO, F. DE. Crescimento acelerado no Brasil: as pedras em nosso caminho. ECONOMIA & TECNOLOGIA, 2010.

·         BRESSER-PEREIRA, L. C. Déficits, câmbio e crescimento. Revista Economia & Tecnologia, v. 6, n. 2, 2012.

·         PASTORE, A. C. Câmbio real e crescimento econômico. Revista Economia & Tecnologia, v. 6, n. 2, 2012.

 

Crescimento recente do Estado: ilusão fiscal, rent seeking ou escolha dos eleitores?

·         ALSTON et al.. Changing social contracts: Beliefs and dissipative inclusion in Brazil. Journal of Comparative Economics, v. 41, n. 1, p. 48–65, Fevereiro. 2013.

·         SILVA; SIQUEIRA, R. B. Demanda por gasto público no Brasil no período pós-redemocratização: testes da lei de Wagner e da hipótese de Mill de Ilusão Fiscal. 2013.

·         BARROS LISBOA, M. DE; LATIF, Z. A. Democracy and Growth in Brazil1, [S.d.]. Disponível em: <http://inctpped.ie.ufrj.br/spiderweb/dymsk_5/5.3-10S%20Lisboa%20Latif.pdf>. Acesso em: 24 set. 2013

A distribuição da população mundial

Se o mundo fosse dividido em territórios de 10 milhões de pessoas:

Mais aqui.

Porém, para enfatizar a concentração da população mundial vale a pena lembrar outro mapa mais impressionante:

Diversos links ótimos

Fonte dos links: múltiplas. Perdi o controle.

Como questionar pesquisas das quais você não gosta

Minha homenagem (atrasada) ao 7 de setembro, com auxílio do Google Autocomplete

Dúvidas dos estrangeiros sobre os brasileiros:
(Como sou ignorante em futebol, eu não tinha entendido a do "one name".)

Poderia ser pior:

Ou terrivelmente pior:

Fonte: eu mesmo usando o Safari. Não funciona no Chrome. Roubei a ideia daqui.

Quando vierem te falar de desindustrialização, saque dois belos textos:


  • Regis Bonelli e Samuel Pessoa Desindustrialização no Brasil: Um Resumo da Evidência (Olha que eles fizeram o trabalho a pedido da CNI!)

  • "Em suma, a evidência passada não autoriza diagnosticar a existência de um processo de desindustrialização no Brasil. Na verdade, até a década de 1980 a estrutura econômica brasileira impulsionada pela substituição de importações foi viesada em favor da indústria. As perdas de participação observadas em fases específicas do desenvolvimento brasileiro depois daí foram devidas principalmente à instabilidade macroeconômica, à liberalização comercial (que em parte corrigiu um padrão de alocação de recursos que se traduzia em estagnação) e, não menos importante, em mudanças estruturais operando a longo prazo na economia global."

  • Gabriel Squeff Desindustrialização: Luzes e Sombras no Debate Brasileiro (O Gabriel, mesmo simpático às teses kaldorianas, olhou os dados com notável rigor e imparcialidade)

  • "...a redução da indústria como proporção do PIB também decorre de mudanças nos preços relativos e é fruto de um artefato estatístico, o que contradiz a hipótese de desindustrialização prematura. Adicionalmente, dados relativos à produção intraindustrial e à participação (constante) do emprego do setor manufatureiro nas ocupações totais reforçam os argumentos contrários à referida hipótese."


    O que aconteceu com a produtividade no Brasil?

    O mais recente boletim Radar Ipea está todo bacana. São quatro textos curtos, mas que cobrem bem os problemas empíricos e teóricos na estimação da evolução da produtividade.
    (Para os colegas com pegada mais empírica: o Lucas Mation encontrou um erro nos dados de Barro-Lee (2012) sobre educação no Brasil)

    Resumo dos últimos dias

    • Drunkeynesian no Estadão. Parabéns!
    • Schwartsman limado do Valor. Baita absurdo. Azar do Valor.
    • Breaking news: em breve, o ótimo Urban Demographics mudará de sede física. Parabéns e continue bloggando!
    • Jaélio X Waldomiro . (A propósito, apesar de desconfiar de uns nomes, eu não sei quem são).
    • Shikida vai concorrer com a MR University.
    • Ah, o Coase morreu. Todos já disseram tudo sobre suas geniais sacadas. Bem, quase tudo. Esqueceram de comentar que ele, em 1937,  criticou o modelo teia de aranha usando o preço dos leitõezinhos. Brilhante.

    Rouanet, Prestes, Olavo de Carvalho e eu

    Senta que lá vem a estória: era o ano da graça de 2002 ou 2003. Sabe-se lá o porquê, eu fui chamado para um debate sobre Economia da Cultura com o Olavo de Carvalho e o Luis Carlos Prestes Filho na PUC-RS. Eu, admirador do jerry-springer, wilton-franco, jacinto-figueira-júnior, et caterva, aceitei."Vai ser ótimo. Vai rolar um telecatch entre os dois! Jerry! Jerry!"
    Para minha decepção, ambos se trataram muito bem. Gentileza inglesa. Paciência japonesa. (Ou será o contrário?). Nenhum palavrão. Nada de sangue. Nada. Enfim, o clima foi amistoso, quase amoroso.
    Eu vim com o meu papinho de que Lei Rouanet é um horror, porque é regressiva, ineficiente e uma porta aberta para rent-seeking e umseteuns. A solução para incentivar a cultura seria um sistema de vouchers, tal como o proposto por Baumol e Bowen. Para minha surpresa, Olavo e Prestes Filho gostaram da idéia e a noite (era noite?) terminou bem chocha.
    Hoje: nada mudou. Desfiles de moda, o tal fora do eixo, e um monte de outros escândalos são decorrência direta da farra da Lei Rouanet. O mais esquisito é que a mãe do Supla propôs o sistema de vouchers, ao mesmo tempo que defende a tal Lei. Enfim, ao invés de aproveitar a oportunidade para abolir as leis de incentivo à cultura, tudo ficará igual (ou um pouquinho pior).

    Daniel da Mata ganha o Epainos Award 2013

    O Daniel da Mata levou o prêmio de melhor paper de jovem cientista no Congresso da ERSA em Palermo. Parabéns!
    Com a volta do Daniel ao Ipea, o hotspot universal de prêmios Epainos ficará a apenas 20 metros de mim. Afinal, o Guilherme Resende ganhou um Epainos em 2009. Tomara que eu me beneficie do transbordamento do conhecimento.
    Tecnologia do Blogger.