Quais são os furos de roteiro da história brasileira?

Inspirado por essa discussão no reddit, aí vão os maiores problemas na história do Brasil:
  • Os furos de roteiro começam já no Tratado de Tordesilhas. Cuméquié? Antes do descobrimento já havia um tratado garantindo as terras para Portugal? Estranho, mas vamos dar um crédito porque os roteiristas estavam começando;
  • A chegada da família real portuguesa caiu meio de paraquedas na história. Entendo como uma tentativa de criar um núcleo rico no folhetim. Funcionou bem e rendeu grandes momentos;
  • A escravidão foi preservada por tanto tempo pelo seu apelo dramático. Vide Raízes, Escrava Isaura.... Os roteirista a mantiveram até ficar muito ridículo mesmo^2 ainda haver escravos no Brasil;
  • O segundo governo Vargas foi uma tentativa de trazer de volta uma personagem que tinha tido sucesso em temporadas anteriores. Não funcionou e aí resolveram tirá-lo da série abruptamente;
  • Jânio foi uma comic relief na história. (Que solução bizarra fazer com que presidente e vice fossem eleitos separadamente!).
  • Doença do Tancredo às vésperas da posse. Pura apelação para ganhar audiência;
  • No Governo Collor assumiram uns roteiristas de novela mexicana, com toques sub-rodrigueanos. Teve até cunhada envolvida. Inventar o câncer do irmão e a longa doença da mãe foi muito forçado mesmo;
  • Recentemente, os roteiristas têm exagerado nos plot twists. Líder sindical de esquerda segue uma política econômica ortodoxa e dá tudo certo. E agora os juízes escolhidos pelo próprio partido mandam as principais lideranças para a cadeia. Reviravolta muito improvável.
Esqueci de algo?

Borges, Teoria dos Jogos e Sinalização

I remember I once saw a man challenging another to fight, and the other caved in. But he caved in, I think, because of a trick. One was an old hand, he was seventy, and the other was a young and vigorous man, he must have been between twenty-five and thirty. Then the old man, he begged your pardon, he came back with two daggers, and one was a span longer than the other. He said, “Here, choose your weapon.” So he gave the other the chance of choosing the longer weapon, and having an advantage over him; but that also meant that he felt so sure of himself that he could afford that handicap. The other apologized and caved in, of course.
Entrevista aqui.

Diversos internacionais

Antropometria e condições de vida

Eu não tenho tido tempo para voltar a trabalhar com antropometria histórica, mas esbarrei em dois papers legais:
Mais saneamento, mais altura;
Ser feto durante um desastre climático traz problemas o desenvolvimento posterior.

"Will Ugly Betty ever find a job in Italy?"

Eu gosto de títulos engraçadinhos, mas esse passou dos limites. (Dica do Urban Demographics.)
De cabeça, meu título engraçadinho predileto na Economia é: Das Human Kapital. Se serve de consolo, em outras áreas os caras perderam completamente a noção e a educação.

PS: Só agora eu vi o sobrenome de um dos autores. Bonus points.

O verbete "Defesas" do Manual de Sobrevivência na Universidade

Começou a temporada anual de defesas de monografia, qualificações e assemelhados. Para dar uma força para os desesperados e esperançosos, aí vai o verbete "Defesas" do Manual:

"Defesas

Você está prestes a entregar a versão para a banca, não aguenta mais ver a cara do orientador (e vice-versa). Chegou a hora.
Fique tranquilo. Se o seu orientador aceitou que você vá para a banca existem duas possibilidades: a) Seu trabalho é no mínimo razoavelmente bom e, apesar de sofrer, você será aprovado no final das contas. Uma coisa que qualquer orientador morre de medo é de passar vergonha na frente dos colegas. b) Seu orientador é doido ou um mau-caráter (ou ambos) e quer levar você para os leões como jantar. Se isso acontecer, o que é muito improvável, você não tem muito que fazer. De qualquer modo, você vai ter de fazer o seu melhor na apresentação.
A sua defesa é tão importante quanto a sua primeira vez. E tão apavorante quanto. Outra semelhança: por mais que você tenha praticado sozinho, a outra parte é mais experiente do que você. A principal diferença – eu imagino – é que na defesa de tese ninguém estará bêbado.
Procedimentos para uma defesa feliz: 
      Leia o verbete Apresentações.
      Leia o verbete PowerPoint.
      Você viu um erro horroroso depois de ter enviado a tese? Não entre em pânico. Faça uma errata e envie por e-mail para o seu orientador avaliar e encaminhar aos membros da banca. Na hora da defesa, peça desculpas e distribua cópias da errata antes do começo da defesa. Mas isso só para erros feios mesmo. Para pequenos tropeços, deixe estar e só corrija na versão final. A banca precisa de algo para se alimentar.
      Tenha uma versão da tese com a mesma paginação da que foi distribuída para a banca. Nada pior do que ficar indo e voltando nas páginas para achar o trecho que o membro da banca está se referindo.
      A defesa não é o momento para sentimentalismos nem agradecimentos rasgados. Você pode ser mais informal e até contar um pouco dos bastidores e motivação da pesquisa, mas não exagere na informalidade.
      Não discuta com a banca. Defenda seu ponto e o seu trabalho. Você vai ser criticado e algumas críticas serão injustas. Você não precisa sair da sala tendo convencido toda a banca de que tem razão. Esfrie a cabeça e responda sempre tentando evitar o confronto direto. Exemplo. Se o membro da banca disse uma sandice completa, ao invés de dizer: "Que absurdo! Nunca houve bobagem maior na vida", você pode dizer - sem tom de ironia: "Infelizmente, eu não conheço a literatura ou os autores que defenderam esse ponto".
      Não tente responder a todas as perguntas. O normal é o membro da banca fazer as perguntas em sequência. Vá anotando e, quando for a sua vez de falar, responda aquelas que você está seguro. Às vezes, o membro da banca não entendeu um ponto trivial e vai ser fácil responder. Se for mesmo impossível saltar as questões mais cabeludas, não há problema em agradecer a "ótima" pergunta e dizer que não tem certeza para a resposta, mas que vai examinar a questão.
      Curada a ressaca da comemoração, corra para fazer as correções sugeridas pela banca. Procrastinação é imperdoável nesses casos. Livre-se logo do encosto e toque a sua vida!"

Mais aqui.

"Economic Development and the Biological Standard of Living in Brazil, 1830-1960" por Franken

Os alemães devem ter uma palavra para expressar a sensação de alívio quando você descobre que alguém fez o paper que você se sentia obrigado a fazer e - ainda por cima- fez bem melhor do que você seria capaz. Foi isso o que eu senti, quando soube do texto:
I utilize anthropometric evidence to estimate secular and regional trends in the biological standard of living in Brazil from 1830 to 1960. I utilize two new sources of height data—military records (that capture typical Brazilian males) and passport records (that represent elite Brazilians). I find substantial improvements in the biological standard of living of the middle and lower classes during the period of rapid export-led industrial growth (1870-1913), yet no significant increase for the elite. Furthermore, soldiers from the North and Northeast were consistently shorter than those from the South and Southwest, irrespective of time period. I present preliminary evidence on the climatic variables that underpinned such persistent regional inequity. Rainfall intensity and the absolute temperature range are both economically and statistically significant. The final section concludes the paper and details plans for additional research. (Grifos meus)
(No Abstract, ficou esquisita a expressão "rapid export-led industrial growth". Ficou parecendo que ele acha que as exportações eram industriais. No texto fica claro que não é isso.)




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