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29/09/2010

"O preço de uma resposta"

Um amigo meu, professor de uma universidade federal meridional, me envia a seguinte troca de e-mails:
Prezado Prof.,

Tenho 63 anos e sou aluno do Curso de Economia, aqui em Fortaleza, Ceará.
Peço, por gentileza, resolver a questão abaixo:

"Suponha que, para uma determinada economia, durante um certo período, os investimentos tenham sido iguais a 100, que os gastos do governo tenham sido iguais a 75, que os impostos líquidos tenham sido fixados em 100 e que o consumo (C) tenha sido expresso pela função consumo C = 25 + 0,8Yd, onde Yd é a renda disponível e Y é o PIB.
a) Qual é o nível de renda de equilíbrio (Y)?
b) Qual é o valor do multiplicador dos gastos do governo (∆Y/∆G)? E o multiplicador dos impostos (∆Y/∆T)?
Suponha que os investimentos tenham caído em 40 unidades, para um nível de 60. Qual será o novo nível de renda de equilíbrio?"
Abraços,
José das Couves
63 anos e ainda cara-de-pau! Bem, mas não pára por aí. O meu amigo, debochado, respondeu:
Prezado José das Couves,
Recebi sua solicitação e a responderei com prazer.
Mas antes preciso que você responda a seguinte pergunta:
Minha hora de consultoria é de R$ 215,00.
Resolvo a questão em 45 minutos.
Quanto custará para você a resposta da questão?
Abraço,
Não é que o infeliz achou que era para para calcular mesmo?!?!?:
Prof.,

Grato pela gentileza.
Vide ANEXO cálculo da remuneração, sem os descontos legais.
Abs

José das Couves

E o anexo, maravilhoso...

ABC
1O PREÇO DE UMA RESPOSTA
2215.0060
3x45
4diferença15
5crédito do mestre161.25
6sobra do aluno53.75
7valor transação215.00

27/09/2010

Gambetta e Primo Levi

Eu fui até a página do Diego Gambetta atrás dos seus papers sobre o pacto de mediocridade na academia italiana.
Com muita surpresa descobri que ele investigou a morte do autor de "É isto um homem", um dos meus dez livros prediletos. Ele argumenta de maneira muito convincente que a morte de Primo Levi foi acidente e não suicídio. Apesar das duas possibilidades serem trágicas, a primeira me parece mais de acordo com a sua obra.

25/09/2010

Meus pitacos irresponsáveis sobre Cuba

Antes de tudo, tenho que avisar: estou longe de ser um especialista em Cuba. Tudo que você ler neste post pode ser besteira. Bem, só fui para lá duas vezes, com motivação bem turística: muita praia e uma pitada de curiosidade econômica. Em Havana, a patroa e eu fomos ao Restaurante La Guarida. (A reserva teve que ser feita com duas semanas de antecedência). Em um daqueles (muitos) prédios residenciais caindo aos pedaços (mesmo), uma porta do terceiro andar se abriu e nos deparamos com um um restaurante lotado comparável a qualquer um- bom - internacional. Ambiente estiloso e comida excelente. Imagino os milagres que os donos operavam para preservar a qualidade. (Infelizmente, os preços - em euros - também eram comparáveis aos bons restaurantes europeus.)
Eu ia fazer um post curto e otimista sobre a Perezcastro (copyright NPTO) e escrever sobre o restaurante, como exemplo do empreendedorismo e capacidade dos cubanos. Fui procurar pelo restaurante na web e o google instant search me sugeriu "La guarida closed". Closed?!?!?!
Umas googladas depois, eu encontrei duas explicações não-excludentes para o fechamento do restaurante no fim de 2009: 1) pressão do governo face ao seu sucesso ; 2) os donos foram receber um prêmio na Espanha, aproveitaram a deixa e nunca mais voltaram.
Seja como for, o fim do "La Guarida" mostra uma parte do problema que Cuba enfrentará na transição. Ao que parece, o combo chinês "controle-político-com-abertura-econômica" faz parte dos planos do Raúl Castro. Bem, ele não não tem a abundância de mão-de-obra dos chineses, nem o mercado consumidor dos EUA (ao menos inicialmente). Serviços e turismo serão a solução? Sei lá. A questão é que a abertura econômica é irreversível e completa. O Fidel tem que dizer algo como "É glorioso ficar rico" - ainda em vida - para a reforma tenha credibilidade. Se for aquela história de "um-passo-atrás-para-dois...blá-blá-blá" que já se viu no passado recente, babaus. Vai ser, claro, um avanço, mas longe da mudança necessária.
Outra coisa: alguns "especialistas" em Cuba não entendem bulhufas de Economia. São aquelas pessoas que acham que o número de empregos em uma economia é dado. Ok, as 178 ocupações que foram liberadas são algo cômicas ("Cartománticas", "Servicio de paseo de coches coloniales"), mas já dão para o gasto: os 500 mil demitidos arrumarão emprego rapidinho. Nenhuma grande coisa, mas - até para sobreviver- os cubanos (tal como os chineses) nunca deixaram de ser empreendedores.

23/09/2010

A proximidade das eleições me lembra a frase do Frank Zappa:

“Politics is the entertainment branch of industry.”
- O Tiririca Islandês. (Obrigado ao Acir pelo envio);
- Jefferson Camilo (Tirem as crianças da sala).
Eu estaria tranquilo se esses fossem os únicos palhaços...

ANPEC e SBE 2010

Parabéns a todos que tiveram artigos selecionados na ANPEC e na SBE!

22/09/2010

Por que a Public Choice não é mais popular no Brasil?

Eu conheço um monte de economistas ótimos, mas que quando vão analisar corrupção, aparelhamento de agências reguladores e afins, baseiam sua explicação em ideologias ou aspectos pessoais dos ocupantes dos cargos públicos. Ora, Olson, Buchanan e Tullock ensinaram justamente que essas ditas "distorções" são previstas pela teoria econômica!
Por que os economistas não aplicam a Public Choice? Eu chuto que uma parte da explicação vem do enfoque dos cursos de pós-graduação. Como não dá tempo de ensinar tudo, os caras de Public Choice acabam ficando de fora. O outro motivo é que a Public Choice tende a estar associada a uma postura militante libertária, Tea Party e meio paranóica. (A memória pode me trair, mas um dos grandes da área argumentou que o princípio de liberdade de expressão na Constituição Americana é resultado do lobby dos donos de gráfica. Pelamordedeus...). Fica parecendo que você tem que comprar o pacote completo e não - como eu considero adequado - usar os instrumentos de análise quando apropriado.

19/09/2010

Cátedras para o Desenvolvimento IPEA/CAPES

O prazo para a inscrição foi prorrogado até o dia 30 de setemembro. A grana é bem boa.
(Eu não tenho qualquer relação com esse programa.)

10/09/2010

O inferno de uns é o céu de outros


O seminário está ótimo. O único problema de conferências em Paris é o custo de oportunidade colossal de assistir às sessões. O próximo encontro deveria ser Maringá. No domingo já estou de volta.

08/09/2010

10th and 11th of September : 3rd International Conference Migration & Development (Paris)

O evento é promovido pela Agência Francesa de Desenvolvimento e Banco Mundial (a propósito, a minha viagem é financiada por estas instituições). Vou lá apresentar o trabalho "How Bodo became Brazilian" feito pelo Irineu de Carvalho Filho e por mim (admito que ele contribuiu bem mais do que eu). Tentarei fazer bonito porque trabalhos selecionados serão publicados em um número especial da Regional Science and Urban Economics.
Mais detalhes sobre o paper estão aqui e, em breve, circularemos uma versão mais completa. Volto já!

07/09/2010

06/09/2010

Outra evidência de que Tyler Cowen é um gênio

Why so much BS in the corporate world?
My speculation: People disagree in corporations, often virulently, or they would disagree if enough real debates were allowed to reach the surface. The use of broad generalities, in rhetoric, masks such potential disagreements and helps maintain corporate order and authority.
Ainda sobre a vida nas organizações, este paper (via Tim Harford) mostra como as pessoas são motivadas por um cartão de agradecimentos, um aperto de mão e um título de seu cargo.
(A frase mais sábia que ouvi sobre incentivos foi dita no Bar Cervantes-RJ, muitas luas atrás. O preparador de sanduíches, cansado de ouvir palavras elogiosas, disse : "Elogio aqui é dinheiro na caixinha")

Links


05/09/2010

Blog do Irineu de Carvalho Filho.

Aqui. Por enquanto, ele só preparou a página sobre suas pesquisas. Mas ele promete posts em breve.
Vida longa e prosperidade ao blog!

04/09/2010

"Five Unrelated but Interesting Papers"

A programação da AEA meeting é sempre supimpa. Em 2011, contudo, os organizadores criaram o melhor nome possível de sessão:
Five Unrelated but Interesting Papers (??)
Presiding: ALLEN SANDERSON (University of Chicago)
Driving Under the (Cellular) Influence
SAURABH BHARGAVA (University of Chicago)
VIKRAM SINGH PATHANIA (Cornerstone Research)
Do Public Subsidies Change Private Vehicle Selections? Evidence from the U.S. Cash for Clunkers Program
EDWARD HUANG (Harvard University)
A History of Violence: The "Culture of Honor" as a Determinant of Homicide in the U.S. South
PAULINE A. GROSJEAN (University of San Francisco)
The Lion's Share: An Experimental Analysis of Polygamy in Northern Nigeria
ALISTAIR MUNRO (National Graduate Institute for Policy Studies, Japan)
ARJAN VERSCHOOR (University of East Anglia)
MARCELA TARAZONA-GOMEZ (University of East Anglia)
CECILE JACKSON (University of East Anglia)
BEREKET KEBEDE (University of East Anglia)
White Men Can't Jump, But Would You Bet on It?
DENIZ IGAN (International Monetary Fund)
MARCELO PINHEIRO (George Mason University)
JOHN SMITH (Rutgers University-Camden)