A biblioteca da FEE e suas publicações são essenciais para pesquisas sobre a economia e a história econômica do Rio Grande do Sul. Sua publicações sempre me foram utilíssimas e a biblioteca me traz ótimas memórias. Foi nos textos clássicos dos grandes Alonso e Bandeira - pesquisadores da FEE - que eu e muitos outros aprendemos sobre as questões regionais do RS. E, hoje, há novas gerações de pesquisadores da FEE produzindo muita coisa interessante.
Torço mesmo que o -necessário -ajuste fiscal no RS não leve à extinção da FEE. Seria uma pena. Podem dizer que minha visão é tendenciosa, uma vez tenho muitos amigos lá (nenhum deles me pediu para escrever isso) e trabalho em instituição semelhante. Que seja. Mesmo assim, seria um erro acabar com a FEE.
Agora, um trabalho novo propõe um método que permite utilizar regressão com descontinuidade, mesmo quando há manipulação da variável de alocação. Parece muito bacana:
A key assumption in regression discontinuity analysis is that units cannot affect the value of their running variable through strategic behavior, or manipulation, in a way that leads to sorting on unobservable characteristics around the cutoff. Standard identification arguments break down if this condition is violated. This paper shows that treatment effects remain partially identified under weak assumptions on individuals' behavior in this case. We derive sharp bounds on causal parameters for both sharp and fuzzy designs, and show how additional structure can be used to further narrow the bounds. We use our methods to study the disincentive effect of unemployment insurance on (formal) reemployment in Brazil, where we find evidence of manipulation at an eligibility cutoff. Our bounds remain informative, despite the fact that manipulation has a sizable effect on our estimates of causal parameters.
Seria interessante aplicar essa técnica aos trabalhos antigos para ver se os resultados se mantêm.
Por que um manifestante faz algo que evidentemente é contra seus objetivos declarados? Ontem opositores da PEC 55 atearam fogo em carros civis, destruíram pontos de ônibus, placas de sinalização, picharam o museu e tudo mais. Isso só contribui para afastar a opinião pública da sua causa.
Hipótese: o vândalo age para elevar seu status dentro do grupo. Como o status é vago, quebrar um banheiro químico sinaliza: "Vejam só! Eu sou mais comprometido que vocês!".E daí se isso afasta a população? O importante é a posição em relação aos seus pares. Se vocês xingam a polícia, eu jogo pedra. Se vocês jogam pedra, eu esfaqueio um policial... É a mesma corrida por status que faz, sei lá, que exista carinhas que se endividam para ter o melhor carro do condomínio. Ou aquele que malha até ficar tão bombado que parece o boneco da Michelin.
No caso presente, contudo, há um descompasso maior entre o resultado dessa corrida individual e o interesse do grupo. A analogia é com o membro do grupo criminoso que provoca a polícia, mesmo sabendo que isso pode gerar retaliação violenta. Ele quer subir de status mostrando que é marrento e comprometido e assume o risco de terminar no micro-ondas ou no necrotério.
E as lideranças? Ontem, no trabalho, eu conseguia ouvir parte do que berrava o carro de som dos manifestantes. Era um caos. Ouvi: "Hoje é o dia da revolução"; "Vamos botar fogo nessa merda";"peguem pau, pedra e garrafa e vamos resistir". Outros, contudo, pediram tranquilidade e davam instruções para que os manifestantes se protegessem. Os que berravam gritos de guerra, também estavam nessa busca por status. O caos nas ordens parecia refletir a divergência entre os interesses dos manifestantes e os do grupo.
Essa hipótese explica a razão de vários dos vândalos não esconderem o totalmente o rosto ou mostrarem suas tatuagens. Ou seja, eles devem ter alguma possibilidade de serem identificados . E, como a teoria econômica ensina, o sinal tem que custar caro para ser importante. Se não houvesse risco de ser pego, ou mesmo criticado pelas lideranças do próprio movimento, não seria um sinal útil.
Os meus 474.343.248.392 leitores frequentes já perceberam que apliquei a mesma lógica da Teoria econômica de falar m*rda. A diferença aqui é que a divergência entre a "causa" do grupo e o comportamento individual é mais marcante.
Um texto da internet afirma (não vou incluir o link):
"O povo daquela ilha rochosa bloqueada é mais rico que o povo do continente Brasil. Essa é uma realidade chocante e geralmente desconhecida."
O autor recorre aos dados do World Bank que realmente mostram Cuba com um PIB per capita (PPP) de US$20611 contra US$ 15893 do Brasil.
Obviamente essa estimativa está furada. É tão furada que a ONU - ao calcular o IDH- estimou outro valor que até os órgãos oficiais de Cuba acharam mais razoável:
A mesma fonte coloca o Brasil como tendo renda per capita de US$ 15175. Ou seja, Cuba tem a metade da renda per capita brasileira. (Os dados do Maddison vão na mesma direção)
Estimar PIB PPP é sempre muito complicado e ainda mais em um país sem preços de mercado e com economia planificada. E durante décadas o PIB da URSS foi superestimado - não só pelas dificuldades técnicas- mas porque era interesse dos russos e dos americanos que isso acontecesse.
Bem, se vocês encontrarem essa afirmação de que Cuba é mais rica que o Brasil, por favor, incluam o link para a outra estimativa da ONU.
Atualização:
1-Nesse ótimo post do Pseudoerasmus, descobri que a questão do PIB PPC de Cuba já havia sido discutida aqui.
2- Em evidente violação da regra dos dois desvios, eu polemizei na caixa de comentários do texto original. Acabei recebendo um email do autor (!?!?!?) dizendo que eu estava "monopolizando o site" e que o "debate se encerrou" e eu não deveria "dizer para ele o que fazer". Eu, hem?!?!
Eu mesmo uso a analogia com os alunos. Para explicar a regra de ouro da Contabilidade Pública, eu digo "Não pode entrar no cheque especial para pagar o condomínio". Até aí, tudo bem.
Agora, nos debates sobre o ajuste fiscal, tem-se ouvido dos defensores da EC 55 :
"As finanças públicas são como a casa da gente. Não dá para gastar mais do que se ganha."
Eu acho uma má ideia recorrer a essa metáfora para o público. Ora, como toda metáfora e como todo economista sabe, a analogia é imperfeita e a economia não é como a casa da gente. Até aí, também tudo bem. O motivo principal pelo qual sou contra a analogia é que ela é derrubada pelo contra argumento que o leigo entende com facilidade excessiva:
"Ah, mas a diferença é que na economia, o que o governo gasta determina o quanto ele próprio ganha. Quando o governo gasta, o dinheiro da economia gira, gera mais emprego, isso aumenta a arrecadação e - de lambuja- o Brasil será hexacampeão de futebol . "
Rejeitar esse argumento exige conhecimento e explicações bem acima da média do público. Tem-se que argumentar que o multiplicador não é assim tão grande, discutir a elasticidade do PIB em relação ao gasto, o espaço fiscal e o problema dinâmico do endividamento. Ninguém tem paciência de ouvir tudo isso e é mais fácil cair no raciocínio confortável do keynesianismo vulgar.
Então, vamos defender o ajuste fiscal, mas - por favor - deixemos para lá a metáfora doméstica.
(Para ficar claro: eu sou a favor do ajuste fiscal. Só acho o argumento ruim para o debate público)
Qual XI Mandamento teria tido maior impacto no futuro bem-estar da humanidade? A regra é que deve ser algo que aquele monte de ignorantes do século I pudesse entender e aplicar.
A minha primeira ideia foi: "lavarás as mãos". O Alexandre Chiavenegatto sugeriu "se teu bebê tiver diarreia, darás uma solução com sal e açúcar." Pensei também em "Não maltratarás os judeus" ou "Respeitarás mulheres e crianças" e alguém recomendou no "não terás posse sobre outro ser humano". Essas últimas recomendações, que protegem grupos específicos, teriam impactos positivos, mas limitados.
Como gerar impactos globais? As recomendações de saúde pública, na verdade, não teriam grande efeito. Como a humanidade estava na armadilha malthusiana, qualquer melhoria da saúde apenas aumentaria o nível população mundial, mas o bem-estar seria o de subsistência.*
Para incrementar o bem-estar no longo prazo, o jeito seria acelerar a inovação tecnológica. Talvez esses mandamentos seriam melhores:
"Ensinarás a ler e escrever" ou
"Duvidarás daquilo que os mais antigos dizem"
Alguma sugestão?
PS. Se for para reescrever todos os mandamentos, o melhor é seguir a sugestão do Christopher Hitchens.
*OK, talvez o aumento da população tivesse acelerado o progresso tecnológico. Ver Kremer 1993.
Minha credencial-hipsterística-moderninha: neste blog eu já recomendava Black Mirror no carnaval de 2013, antes de se modinha.
Aí vão outras recomendações não muito populares:
- Occupied: série norueguesa. Ideia central: russos invadem a Noruega;
- Deutschland 83: um The Americans na Alemanha dividida;
- Nightly Night, série inglesa humor negro com a genial Julia Davis. Ao contrário das outras sugestões, essa não agrada qualquer um. Ela também fez o bom Hunderby (meio que zoando Downton Abbey).
Sugestões?
A PEC 241 contribuiu para mostrar que - com uma restrição orçamentária rígida - R$1 a mais de gasto público em A significa R$1 a menos em B.
Contudo, o legislador não enfrenta qualquer restrição do furor regulatório. Só ontem, aprovaram 20% de motoristas mulheres de uber em Porto Alegre e, no RJ, discutem a obrigatoriedade do café gratuito nos restaurantes.
Minha proposta é criar uma restrição da seguinte forma:para cada nova regra, uma (ou duas, três....) outra tem que ser abolida. (Ou, para evitar malandragens, talvez a equivalência poderia ser entre o número de atingidos pela regra nova e a extinta)
Dei uma googlada e descobri que a Alemanha estabeleceu exatamente isso em 2015.
Atualização: eu devo ter lido e esqueci, mas o Tabarrok já escreveu sobre isso no ano passado. Nos comentários, avisaram que a Inglaterra segue o princípio: one in, two out. Agradeço ao @RodrigoGConejo pelo aviso.
Revista de Economia de Empresas da UCB está com uma chamada para o número especial de artigos sobre finanças. Autores devem contactar bree.finance@gmail.com;
Uma ótima entrevista do Marcos Mendes para o Mercado Popular explicando a PEC 241 (video). Quem estiver ainda com dúvidas, pode ver o vídeo (+ de 4 horas!) da apresentação dele e do Mansueto no Senado. Vale ver o debate também;
ganhou o Prêmio Paulo Haddad no encontro da Associação Brasileira de Estudos Regionais.
O Júlio - do Banco do Brasil- foi meu orientando de mestrado na UCB. Agradecemos aos colegas da Dirur/Ipea pelo apoio nos dados e à Vanessa Nadalin, também membro da banca. (Ela, a propósito, acabou de publicar um paper bacana sobre vacância urbana em SP)
Odeio música ao vivo em restaurantes. Se é boa, não consigo apreciar tranquilo enquanto como. Se é ruim, é ruim e atrapalha a ingestão. Ontem tive que mudar de restaurante duas vezes, porque - após entrar- descobri que havia um infeliz tocando "Nada ficou no lugar..." enquanto outros mastigavam.
Afinal, porque diabos isso existe? Eu acho que a maior parte dos consumidores é como eu (talvez não tão mal humorada): optaria pelo silêncio. Claro que existe um parcela do público que realmente gosta de música ao vivo, mas talvez haja outra explicação.
Lá vai: couvert artístico é um "mal", em vez de um bem econômico. Ambos restaurantes que eu desisti (Coco Bambu e Piauíndia) encheriam de qualquer forma no almoço de sábado. Cobrar o couvert artístico é um jeito de impor uma 'taxa de congestionamento" sem aumentar os preços no menu e evitar as filas. Se eu tivesse ficado, meu excedente do consumidor diminuiria, mas eu deixaria uns R$6 a mais na conta. Vou lá outro dia, com menor demanda, e consumirei a mesma comida em paz.
Essa tese explica o porquê da música ao vivo existir nos horários e dias em que os restaurantes estariam lotados de qualquer forma. Se a razão fosse atrair clientes, eles deveriam oferecer a música nos dias de baixa demanda.
(E porque os restaurantes não aumentam os preços para evitar as filas? Esse é um enigma antigo da Economia. Becker respondeu e tem toda uma literatura sobre o tema)
"The Jacobs street, a perfect reflection of the miracle of self-organizing systems that free markets create, becomes a perfect reflection of the brutal and unappeasable destruction that free markets enforce."
Eu tirei foto da casa em Nova Iorque em que Jane escreveu o clássico "Morte e Vida de Grandes Cidades" . É significante que o local tenha virado uma imobiliária e, nos anos 90, ela reconheceu que não teria mais dinheiro para lá morar.
555 Hudson Street. Tive que pedir para uma moça que pedia dinheiro para o Greenpeace para sair da frente da casa e não atrapalhar a foto. Ela me olhou como se eu fosse maluco por querer fotografar o local.
A boa notícia é que a nova edição do Manual de Sobrevivência na Universidade - atualizada e 40% mais longa- será publicada em papel por uma editora no ano que vem. Agradeço todas as sugestões e avaliações que o ebook recebeu enquanto estava na Amazon. (Exceto a do sujeito que deu duas estrelas e escreveu algo como "Muito útil, mas só vale a pena ler o livro uma vez". )
O pedido: eu gostaria que o livro fosse apropriado para outras áreas, além da Ciências Sociais Aplicadas. E, para isso, preciso de leitores com experiência em outros campos da vida acadêmica. Quem puder ajudar, por favor, coloque nos comentários o email e a área de atuação para que eu envie verbetes selecionados para validação e sugestões. (Sei que vai ser difícil, uma vez que a maior parte dos 38473234432 leitores do blog são da área de Economia, mas imagino que conheçam outras pessoas)
Los Angeles é feia. Muitas áreas tem aquele jeitão de cidade de renda média: fios elétricos à vista, poucas árvores e uma repetitiva falta de padrão. Totalmente voltada para os carros, suas quadras imensas, com ruas principais largas demais, afastam os pedestres. Em cada área comercial, a mesma repetição de cartazes mal feitos e que misturam as grandes marcas conhecidas, com propagandas de lojas que ninguém gostaria de ter como vizinhas. Sem contar os imensos cartazes de propaganda do último filme ou show do Netflix. Tudo feio mesmo.
Nem as atrações são lá grande coisa. Hollywood Boulevard, Chinatown e Venice são como zoológicos em que turistas vão em busca de estrelas ou do exótico e só os encontram em versões fajuta, cansada e fracassada. Até em Beverly Hills, é mais provável encontrar outros ônibus de turismo do que uma celebridade. (A propósito, não vi nenhuma). A cidade tem lá um centro, mas é melhor que não tivesse. É o inferno para dirigir, tem uns três prédios interessantes, mas os habitantes só vão para lá a contragosto. Apesar de ser tão antiga quanto San Francisco, a cidade não faz qualquer esforço de guardar seu passado: o estúdio principal do Chaplin hoje é ocupado por uma padaria sem qualquer referência ao fato. Ou seja, não há muito o que ver e imagino que os turistas saiam de lá não muito satisfeitos.
Mas a cidade é bem mais do que isso e muito melhor do que o primeiro contato faz crer. A Grande Los Angeles tem uma área de 87 mil km2,o que equivalente a dois estados do Rio de Janeiro. Vivendo lá é possível descobrir a diversidade de suas vizinhanças. Só para ficar nas étnicas: Artesia, a área dos imigrantes indianos, tem supermercados inteiros voltados para a comunidade. Koreatown é ainda maior, com shopping centers e toda cultura local. Existem até uma área que concentra os imigrantes de Belize. A diversidade é o principal atrativo de Los Angeles.
Aldous Huxley disse que a Los Angeles era composta por 19 subúrbios em busca de uma metrópole (Não, a frase não é da Dorothy Parker). A frase está errada porque essas vizinhanças estão satisfeitas em si mesmas. As dimensões em área e população são tão descomunais que as tornam autossuficientes. Quase tudo pode ser feito na sua própria vizinhança. Mais ainda, concordo com o Tyler Cowen: é uma ótima cidade para caminhar. Não para flanar. O jeito certo é ir de carro para alguma dessas vizinhanças e lá caminhar.
E, acima de tudo, Los Angeles é uma cidade que funciona. Sim, às vezes os engarrafamentos são infernais, mas as freeways ligam as vizinhanças de um jeito relativamente eficaz. A prova disso é que a proximidade com uma das grandes vias é um atrativo locacional. A cidade prova que não existe um só jeito de uma cidade funcionar. Nem todas as cidades serão compactas, densas e baseadas em transporte público. Jane Jacobs é bacana, mas não é a solução geral.
A cidade me mostrou que economias externas não precisam de uma densidade extrema. E ela- tal como qualquer cidade que funciona- está mudando. A mesma Venice dos turistas e dos doidões cansados, virou um micro Silicon Valley, com direito a Google (ocupando o hangar em que o Spruce Goose foi construído), e uma penca de empresas startups que deram certo, como a Snapchat.
Uma ironia: o sprawl de Los Angeles é o resultado do transporte público. Foi o sistema de bondes que fez com que as pessoas fizessem o seu sonho. Morassem longe, em casas grandes, mas com bom acesso ao resto da cidade. (O carro e as freeways só chegaram depois. O documentário Uma cilada para Roger Rabbit explica a conspiração que teria acabado o sistema de bondes (apesar da versão ser questionada). Ainda hoje, contudo, a cidade tem o terceiro maior sistema de transporte público dos EUA em número de passageiros.
Sobre a história de Los Angeles, recomendo muito esse filme de 1972: Reyner Banham Loves Los Angeles:
Para uma visão contemporânea e também apaixonada da cidade, sugiro City of Gold, sobre Jonathan Gold, o sensacional crítico gastronômico de Los Angeles.
Imagine que havia dois países: um rico e outro pobre. É possível que o consumo per capita de grãos caia, mesmo que ambos países tenham aumentado o consumo por habitante?
Por incrível que pareça, sim. Imagine que os habitantes do país rico comiam 20 quilos por habitante e os do pobre, 10 quilos e que ambos tinham a mesma população (1 milhão). A média de consumo per capita é 15 quilos, né? (20*1+ 10*1)/(1+1). Cinco décadas depois, o país rico apenas dobrou de população enquanto a população do pobre foi multiplicada por 8. E suponha que o consumo do país rico aumentou para 21 quilos e o consumo do país pobre passou para 13 quilos. Como fica o consumo per capita do agregado? =(21*2 + 13*8)/ (2+8)= 14, 6. Viram? Mesmo que ambos os países tenham tido um aumento, as mudanças na composição fizeram com que a média agregada caísse de 15 para 14,6 kg por habitante!
Pela mesma razão, o salário médio dos trabalhadores com nível superior pode cair, mesmo que todos os formados tenham aumentos salariais. Para isso ocorrer basta que os recém-formados tenham salários mais baixos do que os formados já empregados.
(Esse é um trecho de um texto didático que tinha escrito faz tempo. Ficou claro? Eu acho que li esse exemplo dos cereais no livro do Lomborg. Há outra interpretação causal do Paradoxo de Simpson, mas aqui fico só no efeito da agregação/composição)
Este trabalho apresenta um método de classificação da ancestralidade dos sobrenomes dos brasileiros nas seguintes classes: ibérica, italiana, japonesa, alemã e leste europeia. A partir de fontes históricas diversas, montou-se uma base de dados da ancestralidade dos sobrenomes. Essas informações formam a base para a aplicação de algoritmos de classificação de fuzzy matching e de machine learning nos mais de 46 milhões de trabalhadores da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) Migra de 2013. A imensa maioria (96,4%) dos sobrenomes únicos da Rais foi identificada com o processo de fuzzy matching e os demais com o método proposto por Cavnar e Trenkle (1994). A comparação dos resultados do procedimento com dados sobre estrangeiros no Censo Demográfico de 1920 e a distribuição geográfica dos sobrenomes não ibéricos reforçam a acurácia do procedimento.
Reproduzo aqui o post do Brad DeLong em que ele sintetiza o que todo mundo deveria saber. (Brad DeLong, à propósito,é um professor Berkeley de esquerda - para padrões americanos)
"The hideously depressing thing is that Cuba under Batista--Cuba in 1957--was a developed country.
Cuba in 1957 had lower infant mortality than France, Belgium, West Germany, Israel, Japan, Austria, Italy, Spain, and Portugal. Cuba in 1957 had doctors and nurses: as many doctors and nurses per capita as the Netherlands, and more than Britain or Finland. Cuba in 1957 had as many vehicles per capita as Uruguay, Italy, or Portugal. Cuba in 1957 had 45 TVs per 1000 people--fifth highest in the world. Cuba today has fewer telephones per capita than it had TVs in 1957.
You take a look at the standard Human Development Indicator variables--GDP per capita, infant mortality, education--and you try to throw together an HDI for Cuba in the late 1950s, and you come out in the range of Japan, Ireland, Italy, Spain, Israel. Today? Today the UN puts Cuba's HDI in the range of Lithuania, Trinidad, and Mexico. (And Carmelo Mesa-Lago thinks the UN's calculations are seriously flawed: that Cuba's right HDI peers today are places like China, Tunisia, Iran, and South Africa.)
Thus I don't understand lefties who talk about the achievements of the Cuban Revolution: "...to have better health care, housing, education, and general social relations than virtually all other comparably developed countries." Yes, Cuba today has a GDP per capita level roughly that of--is "comparably developed"--Bolivia or Honduras or Zimbabwe, but given where Cuba was in 1957 we ought to be talking about how it is as developed as Italy or Spain."
Dei um pulo em Duke para ler os arquivos do Douglass North sobre o Brasil. Mas é claro que tirei um tempo para ver a correspodência entre os grandes economistas do século XX. (Meu plano para a aposentadoria é ficar aqui só lendo fofoca. Tem muita coisa).
Vejam só essa carta que do Schumpeter que o Samuelson guardou:
No relato de viagem do Douglass North no Brasil (1961) ele conta que encontrou no Rio com uma economista brasileira que:
1- Tinha acabado de ser recuperar de um mental breakdown;
2- Era a principal economista mulher do Brasil;
3- Treinada nos EUA, ex-estudante do Benjamin Higgins;
4- Achava que o Furtado era "brilhante, mas não sabia Economia";
Alguma suspeita? (Não deve ser a MC Tavares. Ela não estudou nos EUA)
PS. Ele diz que o primeiro nome é Maria.
Atualização: Respondido! o @rodrigolach descobriu uma Maria José Paiva que estudou em McGill e foi aluna do Higgins. Muito obrigado.
ABSTRACT:
What caused the decline of beef jerky production in Brazil? The main sustenance for slaves, beef jerky was the most important industry in southern Brazil. Nevertheless, by 1850, producers were already worried that they could not compete with Uruguayan industry. Traditional interpretations attribute this decline to the differences in productivity between labor markets; indeed, Brazil utilized slave labor,whereas Uruguay had abolished slavery in 1842. Recent research also raises the possibility of a Brazilian "Dutch disease",which resulted from the coffee export boom. We test both hypotheses and argue that Brazilian production's decline was associated with structural changes in demand for low-quality meat. Trade protection policies created disincentives for Brazilian producers to increase productivity and diversify its cattle industry.
No texto "FHC errou? a economia da escravidão no Brasil meridional", eu defendi a ideia de que - ao contrário do que o FHC escreveu - a culpa pela decadência do charque não estava no uso de trabalho escravo. O problema seria o boom do café que valorizou o câmbio. Como o Brasil não era uma área monetária ótima, houve um tipo de Dutch Disease nas charqueadas.
Usando dados novos e econometria de séries temporais (e não o babláblá do meu texto), o Thales mostrou que eu (e o FHC também ) estávamos errados. Nem a escravidão, nem o câmbio explicam o declínio do charque gaúcho. Foi um fenômeno global e no Uruguai houve maiores ganhos de produtividade e de qualidade.
Parabéns, Thales, ótimo texto!
Tal como eu, você não tem nem ideia de como uma fechadura
funciona. Portanto, não seja arrogante a ponto de supor que compreendeu o funcionamento
do universo. Você poderia gastar um bom tempo lendo os clássicos da
epistemologia para entender que não se deve escrever "o trabalho provou"
ou "demonstrei" em trabalhos empíricos. Existem boas razões
filosóficas para isso e a história da ciência mostra que a
arrogância está a um passo do ridículo.
Enfim, por enquanto, sem querer entrar em questões mais
profundas, o melhor é ser (ou fingir ser) humilde nas suas conclusões. Escreva "o
trabalho apresentou evidências em favor da hipótese", ou "as
evidências sugerem" ou semelhantes. Por mais acachapantes que sejam as
suas evidências, tente ser comedido nas conclusões. Arrogância, cedo demais na
carreira, transforma-se em um sinal de imaturidade e desconhecimento das regras
do jogo.
Os gráficos cumprem papéis distintos ao longo da pesquisa:
no primeiro momento, eles são seus amigos para lhe ajudar a encontrar gremlins.
Ou seja, aqueles erros de digitação ou coisas estranhas que costumam invadir os
seus dados. Um histograma é o meu predileto. Se você observa picos esquisitos
em alguns, vale a pena olhar com cuidado os dados-fonte. Às vezes, valores como
88888888888 ou 999999999 são usados para representar valores em branco ou não
disponíveis. Um graficozinho inicial, ao revelar erros de importação, já me
salvou de boas horas ou dias de trabalho. Quando você estiver confiante de que
seu banco de dados está limpinho, é hora de entrar no processo exploratório de
dados. Nessa fase, você busca padrões, relações entre variáveis, diferenças
relevantes entre períodos ou qualquer coisa que possa ser importante para o seu
problema de pesquisa. Ao longo de sua pesquisa, faça gráficos e os faça em
quantidade. Guarde aqueles mais relevantes e que lhe dizem algo.
Finalmente, na hora de escrever o trabalho científico,
considere os gráficos como um espaço nobre. As pessoas adoram ver figuras e já
esperam que os seus gráficos apresentem o problema central, o seu argumento
básico ou o resultado significativo. Raras imagens valem mais do que mil
palavras. Só inclua os gráficos que contarem uma boa história. Tal como no
texto, os gráficos devem transmitir a mensagem principal sem embromação, nem
exigir esforço do leitor. Então, entre os gráficos que você acumulou ao longo
da pesquisa, escolha os que tenham uma mensagem principal. Se estiver com
dificuldade em identificar tal mensagem, talvez não deva incluir os gráficos. Lembre-se
também de explicitar essa mensagem no texto do trabalho.
Supondo que você já sabe qual mensagem transmitir e o
gráfico preliminar está feito, agora, é a hora de aparar as arestas virtuais. É
impressionante que existam pessoas tão cuidadosas com a qualidade do seu texto,
que passam horas em um parágrafo, mas que gastam apenas trinta segundos com o
gráfico default do software, sem nenhuma reflexão. Capriche
no visual, pense nas escalas e em tudo que possa facilitar a vida do leitor.
O primeiro passo é escolher que tipo de gráfico fazer.
Torta/Pizza
Quando usar? Use para representar variáveis categóricas em
que o total some 100%. Só use valores que foram medidos no mesmo período de
tempo.
Dicas: Esse é um dos mais utilizados pelos iniciantes, mas
um dos menos recomendáveis.Evite ter fatias muito finas ou em número maior do
que seis. O número excessivo de cores ou padrões dificulta a leitura correta do
gráfico. Se necessário, agregue as categorias.
Barras
Quando usar? Variáveis medidas em com valores brutos (em R$
ou em toneladas, por exemplo).
Dicas: O valor bruto tem de ser o valor de interesse. Não
use quando os dados originais são variações percentuais. Também não inclua
muitas categorias de valores em um mesmo gráfico.
Linhas
Quando usar? O importante aqui é a variação e não o nível
das variáveis.
Dicas: Passou de cinco linhas, especialmente se houver
muitos cruzamentos, pense em outra forma de representação
Scatter (xy)
Quando usar? Ênfase na relação entre as variáveis x e y.
Dicas: Escolha bem o tamanho dos pontos. Quanto maior o número
de observações, menor o tamanho. Havendo uma só categoria use pontos e não um
daqueles indicadores que o Excel sugere. Nunca ligue os pontos. Identifique os outliers.
Coloque a variável independente no eixo X e a dependente no
Y.
Orientações gerais
No Brasil, o padrão é usar títulos de gráficos bem
caretas e frios. Algo do tipo: "Relação entre posse de armas por 100.000
habitantes e taxa de homicídios – dados municipais – Brasil -2010".
Veja os nomes das tabelas do censo no site
do IBGE para ver como eles fazem títulos muito precisos. Agora, nas
apresentações, você pode ser mais relaxado e intitular o mesmo gráfico como "Mais
armas, menos crimes". Em alguns meios acadêmicos, a tolerância com títulos
mais relax é maior. Por via das
dúvidas, seja mais conservador nos textos escritos do que nas apresentações.
Lembre-se
dos rótulos nos eixos e as unidades de medida.
Prometa
para mim que não vai usar o padrão do Excel 2003. Eu penso o quão infeliz era o
funcionário da Microsoft que decidiu que o padrão de fundo do gráfico seria
cinza e que a cor amarela nas linhas ficava bem. Rezemos pela sua alma. Nas
versões posteriores, o problema ficou menos grave, mas ainda são bastante
feios. Uma dica: na maior parte das áreas hard, o Excel é coisa de amador. Se o
seu gráfico estiver com cara de Excel, o leitor imaginará que você não é um "profissa"
do ramo. Qual software de gráficos usar então? Mais uma vez, tente ficar com a
sua tribo e use aquele que os melhores da área usam.
Eu tenho problemas em ler gráficos em três dimensões (e
muitos leitores também). A perspectiva torna mais difícil identificar as
diferenças reais entre os valores. Evite 3D como se fosse a peste.
Sou contra o uso de gráfico para variações percentuais.
Como você sabe, um aumento de 10% seguido por uma redução de 10% não nos leva
de volta ao valor inicial. Um gráfico de barras ou de linhas pode dar essa
impressão.
Sempre que possível, faça o gráfico já em escala de
cinza, ou em um padrão preto e branco. Apenas poucas revistas têm impressão
colorida e elas podem lhe pedir para transformar em preto e branco (ou mesmo
cobrar de você por cada imagem colorida!). Não me venha com essa de dizer que
precisa de cores para o seu gráfico. Se você tem de recorrer ao arco-íris é
porque o gráfico está poluído. Simplifique.
Uso de escala logarítmica. Quando o importante for a
variação da taxa de crescimento de uma valor é razoável usar uma escala
logarítmica. Por exemplo, o aumento da população mundial, ao longo dos últimos
séculos, foi tão grande que o gráfico com escala linear (não logarítmica) só
mostra uma linha horizontal seguida de uma parede.
Para aprender o que não fazer, veja aqui os piores gráficos de trabalhos já
publicados, com comentários em inglês.
Dois extremos: você estudou em colégios privados e, agora,
tem todo o tempo da vida para fazer a graduação em uma faculdade pública; ou
você é um dos alunos trabalhadores que, depois de se aporrinhar no trabalho,
cursa Contabilidade nas Faculdades Reunidas de Unistalda.
Se está na primeira categoria, você tem a expectativa de que
a universidade será uma sequência de festas, churrascos, porres e sexo
ocasional. Você não ficará decepcionado. A qualidade dos eventos varia de
acordo com os cursos, mas você se divertirá mais do que nunca na sua vida. Tire
os primeiros dois anos de curso para aproveitar, amadurecer e queimar os
hormônios e os neurônios. A partir daí, já está na hora de tomar vergonha e
pensar no futuro. Afinal, ao se formar, você será um desempregado.
Por sua vez, se você é o
estudante-trabalhador-que-come-pastel-e-suco-de-dois-reais, a universidade também
será o melhor período da sua vida. Você não poderá festear tanto, afinal, faltará
energia e terá de estar apresentável no dia seguinte. Mas, de qualquer forma, o
ambiente da universidade é bem mais interessante do que o do trabalho. Boa
parte dos professores não é tão mala quanto o seu chefe, e você pode ter um
diálogo mais aberto.
O
segredo
Talvez você já tenha aprendido o segredo. Talvez não. Quando
temos 18 anos, nosso cérebro ainda não está plenamente desenvolvido e nos
achamos muito importantes. Na escola, você provavelmente tinha ao menos um professor
preocupado com o seu aprendizado e que compartilhava os seus sucessos (e
ocasionais fracassos) com os seus familiares. Tudo isso reforçava a ideia de
que o seu aprendizado era mesmo importante.
Então, vou contar o doloroso segredo: os professores
universitários não estão preocupados com você. Você é apenas mais um rosto, um
aluno a mais na lista de chamada, uma prova a mais para corrigir. Só. Talvez
por autodefesa, pois caso venham a se preocupar com o aprendizado de cada um,
vão se frustrar. Então, eles só não querem que você crie problemas. Só isso já
está bom.
Eu não quis ser rude com você. Nada pessoal. Você e eu
estamos entre os 100 bilhões de pessoas que já viveram na Terra. Arredondando,
você = nada. Claro que, para você, sua vida é o que importa, mas não espere que
o professor pense o mesmo. Assim, quando você se achar muito "ixperto"por ter enganado
o professor pelo trabalho que copiou ou pela assinatura falsificada na lista de
chamada, não se iluda. Na verdade, o professor percebeu, mas não quis se
incomodar. A razão é que no fundo ele não se importa com você. Entendeu o
segredo?
O único jeito de você ser importante para seu professor é se
tornar um ótimo aluno. Um daqueles que ele se orgulhará de ter tido como aluno.
Bem, ele se vê um pouco em você e acha que será capaz de conduzir a sua carreira
ao sucesso profissional. Isso vai dar um pouco de sentido na vida de um mestre que
envelhece rapidamente.
Tem certeza que você sabe usar o Google? Já vi gente fazendo
buscas assim "quero todos os artigos bons sobre o assunto x". Dá dor
no cérebro ver alguém fazendo isso.
Existem alguns recursos os quais eu duvido que você use e
são fundamentais para você encontre aquele texto que o Periódicos
Capes não tem. Basta colocar o título entre aspas e um "filetype:pdf",
e o Google encontra o texto na página do autor ou de algum congresso. Isso
resolve meus problemas uns 80% do tempo e poupa uma ida à biblioteca (se o
texto for mesmo útil, recomendo que você obtenha a versão publicada do artigo).
Dicas de busca para o Google
Frase
inteira. Basta colocar o trecho entre aspas para buscar o trecho:
"estrutura
social": Busca as páginas com o termo "estrutura social".
Busca
exata. Impede o Google de tentar adivinhar o que você quer e de corrigir os
seus erros de digitação:
"econômia": encontra todas as páginas em que
ignorantes, analfabetos e toscos em geral escreveram "economia" com
acentuação errada. Em outubro de 2012, resultava em 406 mil páginas.
Excluir
palavra. Permite que você encontre todas as páginas ou documentos que não têm a
palavra um "–" antes da palavra que deve ser excluída.
"classe social" – marketing: Busca as páginas com o termo "classe social",
mas exclui as que possuam a palavra "marketing".
Buscar
dentro de um site. Limita a busca ao site ou à parte do endereço do site.
"estrutura social" site: br: Busca o termo "estrutura social" em páginas
brasileiras.
"estrutura social" site: gov.br: Busca o termo "estrutura social" em páginas
do governo brasileiro.
Tipos
de arquivo. Só considera na busca certo tipo de documento. Funciona com todo o
tipo de documento. Permite que você busque apenas os arquivos Excel (XLSX),
Word (DOCX), Powerpoint (PPTX) e Acrobat (PDF). A propósito, se você usar "ext:"
também funciona.
"estrutura social" site:gov.br filetype:pdf: busca
arquivos PDF que têm o termo "estrutura social", dentro dos sites do governo brasileiro.
Um
termo ou outro.
"estrutura social" OR "classe social":
Busca páginas que tenham o termo "estrutura social" ou "classe
social"
Preencher
uma lacuna.
"Segundo *, a estrutura social é ": Busca as
páginas que contêm a expressão entre aspas, mas substitui o * por qualquer
termo.
Suponha que você queira artigos PDF sobre "direito do
trabalho", mas que não trate de "apostilas", nem "provas",
nem que conste o site conjur.com.br.
A busca fica:
"direito do trabalho" filetype:pdf -apostila
-prova -site:conjur.com.br
Dicas para o Google Acadêmico:
O Google acadêmico é a coisa mais fantástica já inventada desde
a Diet Pepsi. A busca avançada é superpoderosa, permitindo que você limite a
busca por período ou mesmo periódico. Para usar esse recurso, clique na seta,
logo ao lado da caixa de busca.
As dicas gerais do Google seguem válidas e você pode usar
ainda os seguintes recursos:
Busca
por nome de autor:
author: Flores Busca
artigos cujo nome do autor é "Flores", mas não artigos sobre flores.
Busca
por expressão no título.
intitle: Flores Busca
artigos que têm a palavra "Flores" no título.
Antes de virar um ás na busca do Google Acadêmico, não se
esqueça de ver a interação do mecanismo de busca com o Zotero.
A festa de formatura existe para satisfazer e quebrar as
finanças dos seus pais. A regra geral é que a formatura é tão mais importante
quanto menos esperado é o feito. Da mesma forma que o Fernando Alonso não
comemora tanto a vitória quanto o Rubinho.
Nos últimos anos, há uma tendência a festas cada vez mais
elaboradas e de gosto mais questionável. Em um ano, balões coloridos caem do
teto, no ano seguinte, um helicóptero solta pétalas de rosa sobre os formandos.
No final das contas, o dinheiro é seu - ou da sua família - e você pode gastar
nas extravagâncias que quiser. Mas é uma boa ideia não se deixar levar pela
competição com outras festas e pela última moda.
Qualquer um que faça o discurso em uma formatura, orador ou
paraninfo, tem apenas uma obrigação: ser breve. A maior parte da plateia não
está lá por você e sim pelos outros (Alguns apenas esperam o jantar e a festa).
A maior parte das formaturas ocorre nos dias mais quentes do verão, e um
discurso breve é mais memorável do que uma longa e enfadonha lembrança dos
melhores momentos dos últimos quatro anos. Três páginas impressas no máximo, em
ambos os casos.
Sobre o conteúdo dos discursos, é um mau momento para
lembrar as falhas do curso. Por definição, na formatura, já é tarde demais para
corrigir qualquer coisa e palavras duras só servem para pôr um tom amargo na
festa.
"Quem lê, não estuda", um professor meu dizia. Isso
é a pura verdade, ficar só lendo a matéria não resolve nada. Você lê, lê, lê o
mesmo parágrafo e a cabeça começa a viajar. Depois de algum tempo, você se
autoengana que entendeu a matéria, mas não lembrará de nada em um par de horas.
Esse princípio vale para todas as áreas, mas a tentação de só ler é maior
naquelas em que dá para estudar deitado, ou seja, as ciências humanas.
Não fique só na leitura. Faça exercícios, explique a matéria
para você mesmo, elabore resumos. Qualquer coisa é melhor do que só ler os
textos da disciplina.
A maior parte das universidades brasileiras cobra presença
dos alunos de graduação. Isso não acontece nas universidades dos EUA nem da Europa
(Portugal, eu não sei. Mas Portugal fica perto, porém não exatamente na Europa).
Como professor, eu tenho sentimentos opostos sobre a
presença. Claro, incomoda que, nas vésperas da prova, apareça um monte desconhecidos
querendo aprender o conteúdo em dois dias. Isso ocorre quando a presença não é
cobrada. Por sua vez, é um tanto peculiar que adultos sejam cobrados por
estarem onde escolheram estar. Os argumentos para defender a cobrança de
presença são estranhos. Quando comecei a dar aulas, um coordenador me disse que
eu deveria cobrar presença porque "se um aluno cometer um homicídio, ele
pode usar a sua lista de chamada como prova para escapar da cadeia". Ele
falava sério.
Eu recomendo que você assista à aula. Se você for estudioso,
será uma oportunidade de tirar dúvidas e perceber as nuanças do tema
apresentado. Se você não for estudioso, acaba aprendendo algo, nem que seja por
osmose.
Na sala de aula, não tente enganar o professor fazendo
perguntas vazias para ganhar pontos por participação. Isso poderia funcionar
nas aulas do primário, mas a maior parte dos professores é hábil em perceber
quando um aluno não leu a matéria e só quer fingir que é ativo.
Alguém já disse que o texto fácil de ler foi difícil de
escrever. Aqueles que dizem que "adoram escrever", raramente,
escrevem bem. Escrever bem é trabalho e, como tal, não é prazeroso. Escrever é
difícil porque, quando você coloca as ideias no papel, as incoerências, falhas
do argumento e mesmo sua ignorância ficam claras. Escrever um texto com sentido
implica em superar essas falhas. Lamento, mas essa é a dor do parto do texto,
especialmente, o científico.
Sim, existem exceções: pessoas que escrevem muito bem sem
esforço. Essas exceções, exceções são, ora bolas. A má notícia é que esse
talento é inato. Não adianta nem tentar ser um grande escritor. Ou você nasce
com o talento ou não. A boa notícia: ser um escritor bem bom é quase fácil.
Basta você seguir algumas regras simples e seu texto vai ser bom o suficiente
para que todos gostem.
Um texto bom convence as pessoas. O mundo é um lugar muito
interessante e existem muitas coisas melhores no mundo do que ler um texto
científico. Portanto, a sua primeira tarefa é capturar a atenção do leitor e
convencê-lo de que o seu artigo diz algo interessante.
Para cativar o leitor, você não precisa ser um gênio da
língua portuguesa. Basta que você escreva de forma clara em um texto estruturado
e claro. Lembre-se: leitor descansado = leitor feliz = leitor generoso. Isso
também não é fácil, mas - seguindo algumas regras (e quebrando outras) - é tarefa
perfeitamente alcançável:
A
maior parte dos textos que você gosta foi reescrita e retrabalhada várias vezes.
Alguém também já disse: "Não existe texto bem-escrito, só texto bem
reescrito". Não se envergonhe de fazer isso, é uma necessidade.
Tenha
um leitor cobaia da sua área. Se ele não entendeu o texto, a culpa é sua. Repetindo:
a culpa é sua. Reescreva o texto.
As
duas partes mais importantes do seu trabalho são o Resumo e a Introdução. São
nelas que o leitor vai primeiro passar os olhos para descobrir a razão de ser
do seu paper.
O
texto é escrito ao contrário da ordem de leitura. A Introdução e o Abstract são
as últimas partes escritas de qualquer trabalho científico. Só depois de concluir
é que você poderá dizer o objetivo do trabalho. Se você é totalmente linear e
faz questão de fazer tudo na ordem, ok. Mas lembre-se que será trabalho
perdido. Você terá de trocar tudo.
Parece
uma obviedade, mas você precisa aprender a usar o seu processador de texto.
Hoje é mais raro, mas era muito comum ter gente que fazia o recuo da primeira
linha usando Tab ou vários espaços. Aprenda a usar os estilos do Word. Sua vida
vai ficar bem mais fácil.
No corpo do texto, cada parágrafo deve ter uma ideia e
- de preferência - ela deve ser exposta na primeira frase. A nossa professora
de escola já tinha nos ensinado que para cada ideia deve corresponder um
parágrafo, mas ela - talvez pensando que continuaríamos escrevendo textos
narrativos como "Minhas férias"- esqueceu-se de falar desse truque da
primeira frase em textos argumentativos/expositivos. Ou seja, logo na abertura
o parágrafo, já deve dizer a que veio. As frases seguintes são apenas para
desenvolver e detalhar o que foi dito no começo. A última frase do parágrafo é
também muito importante. Ela deve retomar a ideia inicial ou abrir caminho para
o próximo parágrafo. Às vezes, essa estrutura de parágrafo não vai ser possível.
Tudo bem. Mas tente se obrigar a pensar no texto dessa forma.Você pode repetir palavras. Eu sei que a sua professora
ensinou a evitar isso, mas é pura perda de tempo ficar buscando sinônimos para
palavras que, ao longo do seu texto, têm de ser repetidas. O leitor pode até
achar que você está falando de outra coisa se o sinônimo não for perfeito.
Fingir profundidade com frases longas e palavras
obscuras ou vagas funciona com uns figurões de algumas áreas das ciências
humanas. Para mim, os textos dos grandes "intelectuais" só fazem com
que os meus fusíveis mentais rompam na tentativa de proteger a minha cabeça.
Isso gera sono ou o desejo de incendiar o livro. Esses figurões alcançaram tanta
importância que os leitores suam para entender aqueles parágrafos
incompreensíveis. Como você não tem esses seguidores, o jeito é ser bondoso com
o leitor e se esforçar para tornar a leitura mais fluída possível.
Alguém disse "escrever é cortar palavras";É a mais pura verdade. Releia o texto e procure primeiro pelos
advérbios. Eles são os candidatos a serem cortados primeiro. Eu costumo fazer
uma busca por "mente" e apago os que não são essenciais. Tenha
cuidado também com o "queísmo", aquela mania de colocar "que"
desnecessários nas frases.
Resumo
Ao invés de começar o Resumo dizendo que:
"O tema da influência da televisão na saúde mental de
adultos tem sido muito discutido ultimamente e é bastante interessante. Em
vários estudos, por todo o mundo, encontrou-se evidência que a exposição...
(bocejo)... (bocejo)... (ronco)".
Diga:
"Cada hora diária a mais na frente da televisão aumenta
as chances de ter esquizofrenia em 16%. Esse resultado foi obtido a partir de
um banco de dados com..."
Não ficou melhor?
O arquivo lixo
Uma das coisas mais preciosas quando se escreve é um arquivo
chamado "lixo.docx". Quando você escreve, tem horas que você se solta
e começa a ter ideias que parecem sensacionais. Depois, relendo o texto, você
verá que elas não são tão boas assim. Você fica tentado a apertar o Delete, mas
não quer perder o seu suado trabalho. A solução é copiar o trecho para o
arquivo lixo.
Você vai notar que a mera existência do arquivo lixo lhe
deixará mais solto na hora de escrever e também mais corajoso na hora de cortar
o seu texto na revisão. De tempos em tempos, passe os olhos no arquivo e veja
se há alguma ideia que deve ser recuperada para o texto principal ou ampliada.
A
função daquela frase entre aspas é mostrar para o leitor quem você é sem que
ele tenha o trabalho de ler o texto. Capriche.
A
melhor fonte de epígrafes está no seu próprio caderno de campo.
Nas suas leituras, se você fez direito, deve haver uma frase muito boa que se
encaixa bem no espírito do trabalho.
Eu
já vi de tudo como epígrafe: trechos da bíblia, poesia e letras de música.
Mas nada de pegar aquelas frases compartilhadas no Facebook com máximas
atribuídas ao Gandhi, Chaplin ou ao Einstein. Por via de regra, eles não foram
os culpados por aquelas frases com milhares de "Curtir". Livros de
citações também devem ser evitados porque as boas frases já foram usadas.
Resumindo,
a epígrafe é o chapéu da tese. Bem-escolhida, ela marca o seu trabalho; mal-escolhida,
a epígrafe só mostra que você é um babaca.
Naum
ixcreva com ortografia da internet. Parece q vc eh um idiota. Huahuahahau;
Nunca
mande aqueles e-mails com pedidos para crianças doentes, dia do amigo,
correntes ou qualquer outra coisa com arquivos PPT para os pesquisadores.
Se
for mandar mensagem para a sua lista de amigos, coloque os endereços no campo "Com
cópia oculta" ou "Cco" (Bcc, se o seu programa de e-mail é em
inglês). Isso impede que algum dos seus destinatários, um mais mal-educado, use
a lista de e-mail que você mandou para distribuir lixo aos seus amigos.
Na
comunicação na academia, não use endereços eletrônicos engraçadinhos ou que
revelam seus desvios de personalidade. Ex.: pitbull82@hotmail;
beto_flamengista@yahoo.com.br; 30cm20anosSM@uol.com.br.
Não
use a letra maiúscula. Nunca. Quando você trava o capslock parece que você está
GRITANDO. Não use o capslock, nem quando você quiser gritar no e-mail. Afinal,
berrar com os outros é feio (veja a última recomendação).
Cuidado
com o tamanho dos anexos. Depois do Gmail e das conexões de banda larga, os
limites aumentaram. Como regra de bolso, sugiro 1 mega como o tamanho máximo de
arquivo. Se você tem arquivos bem maiores do que isso, existem três
alternativas: a) fazer o upload de arquivo para algum serviço on-line.
Você só envia um link para o destinatário; b) Escrever antes para a pessoa,
perguntando se pode mandar; c) Gerar um arquivo PDF. Os arquivos Acrobat tendem
a ser bem menores do que os do Word, especialmente, quando estes têm gráficos,
tabelas e figuras incorporados.
Sobre
o tempo de resposta de um e-mail: para aqueles que exigem uma resposta urgente,
espere até uma semana para repetir o pedido.
Nem
pense em tirar dúvidas sobre os conteúdos da disciplinas disparando e-mails
contra o professor. Marque um horário de atendimento.
Nunca
mande algo secreto ou privativo por e-mail. Encare e-mail como um cartão postal.
Tudo que você escreve não só pode ser lido por qualquer um, como pode ficar no
equivalente digital de uma mesa em que todos podem ler.
Nunca
mande e-mails quando revoltado ou bêbado. Eu sei que é difícil cumprir essa
recomendação, mas tente internalizá-la com se fosse um tabu. Está com raiva? Não
preencha o campo "Para", escreva com toda a fúria, mas resista a
clicar no "Enviar". Guarde nos "Rascunhos". No dia
seguinte, mais calmo e/ou de ressaca, as coisas terão outra perspectiva.
E-mails
não têm tom de voz e isso pode gerar muitos desentendimentos. Ironias são
imaginadas, sarcasmos lidos nas entrelinhas e desprezo entendido em frases inocentes.
Às vezes, é melhor pegar o telefone e ligar para resolver a treta ouvindo a voz
do interlocutor do que perder seu tempo digitando furiosamente até que tudo
fique esclarecido.
Se
você pediu alguma coisa por e-mail, e a outra pessoa fez, não esqueça de mandar
um e-mail de gratidão. Mesmo que você tenha incluído um "Desde já grato"
no e-mail pidão, não custa nada um "Muito obrigado" em retribuição.
Se fosse ao vivo, você agradeceria. Então, não há razão para não ser igualmente
bem-educado no e-mail.
Enfim, a hora se aproxima. Você já está prestes a entregar a
versão para a banca, não aguenta mais ver a cara do orientador (e vice-versa).
Chegou a hora.
Fique tranquilo. Se o seu orientador aceitou que você vá
para a banca existem duas possibilidades: a) Seu trabalho é no mínimo razoavelmente
bom e, apesar de sofrer, você será aprovado no final das contas. Uma coisa que
qualquer orientador morre de medo é de passar vergonha na frente dos colegas.
b) Seu orientador é doido ou um mau-caráter (ou ambos) e quer levar você para
os leões como jantar. Se isso acontecer, o que é muito improvável, você não tem
muito que fazer. De qualquer modo, você vai ter de fazer o seu melhor na
apresentação.
A sua defesa é tão importante quanto a sua primeira vez. E
tão apavorante quanto. Outra semelhança: por mais que você tenha praticado, as
outras partes são mais experientes do que você. A principal diferença –
eu imagino – é que na tese ninguém estará bêbado.
Procedimentos para uma defesa feliz:
Leia o verbete Tese.
Você viu um erro horroroso depois de ter enviado a
tese? Não entre em pânico. Faça uma errata e envie por e-mail para o seu orientador avaliar e encaminhas aos membros. Na
hora da defesa, peça desculpas para a banca e distribua cópias da errata antes
do começo da defesa. Mas isso só para erros feios mesmo. Para pequenos
tropeços, deixe estar e só corrija na versão final. A banca precisa de algo
para se alimentar.
Tenha uma versão da tese com a mesma paginação da que
foi distribuída para a banca. Nada pior do que ficar indo e voltando nas
páginas para achar o trecho que o membro da banca está se referindo.
A defesa não é o momento para sentimentalismos nem
agradecimentos rasgados. Você pode ser mais informal e até contar um pouco dos
bastidores e motivação da pesquisa, mas não exagere na informalidade.
Não discuta com a banca. Defenda seu ponto e o seu
trabalho. Você vai ser criticado e algumas críticas serão injustas. Você não
precisa sair da sala tendo convencido toda a banca de que tem razão. Esfrie a
cabeça e responda sempre tentando evitar o confronto direto. Exemplo. Se o
membro da banca disse uma sandice completa, ao invés de dizer: "Que
absurdo! Nunca houve bobagem maior na vida", você pode dizer - sem tom de
ironia: "Infelizmente, eu não conheço a literatura ou os autores que
defenderam esse ponto".
Não tente responder a todas as perguntas. O normal é o
membro da banca fazer as perguntas em sequência. Vá anotando e, quando for a
sua vez de falar, responda aquelas que você está seguro. Às vezes, o membro da
banca não entendeu um ponto trivial e vai ser fácil responder. Se for mesmo
impossível saltar as questões mais cabeludas, não há problema em agradecer a "ótima"
pergunta e dizer que não tem certeza para a resposta, mas que vai examinar a
questão.
Curada a ressaca da comemoração, corra para fazer as
correções sugeridas pela banca. Procrastinação é imperdoável nesses casos. Livre-se
logo do encosto e toque a sua vida!
Frequente o DCE se você tiver dois interesses: maconha e
sexo com pessoas de hábitos de higiene pouco rigorosos. É natural que isso
atraia a sua atenção durante alguma fase da sua vida (um final de semana, de
preferência), mas o DCE traz riscos para a saúde. Você vai ver a barba crescer
e você vai começar a achar que as camisetas do Che Guevara lhe caem bem. Se
você ficar muito tempo no CA, você se transformará no homo oligo-sapiens passeatotum e em tudo aquilo que você, em 15
anos, repudiará.
Existe gente que pensa que o DCE é o primeiro passo em uma
carreira bem-sucedida na política partidária. De fato, vários políticos bem-sucedidos
passaram pelas reuniões esfumaçadas do DCE. Mas correlação não significa
causalidade e muitos políticos fracassados, que hoje não ganham nem eleição de
síndico, também passaram pelos DCEs. Politicamente, os DCEs ocupam o espectro
político entre a extrema esquerda e a esquerda-que-perdeu-o-senso-de-realidade.
Os que se dizem independentes geralmente não o são; são facções de partidos ou
grupos que querem novos membros.
Certos DCEs perdem o senso de importância e passam a
discutir a questão da Palestina e votam moções contra o imperialismo yankee durante as reuniões. Imaginem o
impacto na Casa Branca quando eles souberem disso! Para entender melhor a
lógica desses grupos radicais, sugiro o documentário A
Vida de Brian, do Monty Phyton.
Os centros acadêmicos, por sua vez, tendem a ser mais
próximos do dia a dia dos cursos e mais livres de discussões políticas. Com
isso, podem ser locais interessantes e, com sorte, contribuir para a discussão
e solução das questões dos cursos. Basta ter senso de ridículo e reconhecer os
limites da ação dos CAs.
O ótimo Bernardo Guimarães escreveu um post em defesa do ensino de Economia na escola. Se entendi bem, a vantagem seria - além de fornecer a base para o aprendizado posterior- que o curso serviria de contraponto às besteiras ensinadas em História e Geografia.
Eu sou contra a proposta por alguns motivos:
Prático: qualquer tentativa de ensinar Economia terá efeitos opostos. Dada a má qualidade das escolas do Brasil de hoje, as chances do professor só falar bobagem e o curso se transformar em pregação são imensas. Seria ótimo se vários bernardoguimarães ensinassem Economia para os adolescentes, mas a realidade é que os professores disponíveis estariam bem aquém disso. (Sem contar que muita gente com diploma de economista na parede não entende vantagens comparativas. E algo me diz que exatamente esses iriam para o ensino médio).
Empírico: mesmo nos EUA de hoje, onde - como lembra o Bernardo- as crianças aprendem Economia na escola, o discurso protecionista de dois candidatos presidenciais fez sucesso. Trump e Bernie falavam como se o número de empregos da economia americana fosse fixo. Se os ensino de Economia tivesse sido eficaz, os eleitores refutariam isso de imediato.
argumentum ad mccloskey: ela tem um texto chamado "Why Economics should not be taught at High School". O argumento é que a garotada não tem maturidade, nem experiência de vida para entender Economia. (Na verdade, eu não concordo. Citei só para mostrar que li o texto).
PS. Aproveitei que procurei o livro da McCloskey no google books e reproduzo o trecho importante do artigo:
Nos cursos universitários, você tem a oportunidade de
aprender as técnicas apropriadas de análise estatística. Mas, às vezes, os
professores se esquecem de transmitir alguns dos cuidados básicos.
Faça gráficos
Antes de começar a trabalhar, faça um gráfico dos seus
dados. O primeiro motivo é que as coisas mais estranhas acontecem: erros de
codificação, problemas com vírgulas, intervenção divina. Se houver valores
anormais, eles aparecerão nos seus dados. Um bom jeito é fazer um histograma
rápido para entender a distribuição das variáveis.
O outro motivo para fazer o gráfico é entender a
relação entre as suas variáveis de interesse. O quarteto de Anscombe mostra quatro conjuntos de
dados que têm média, variância e correlação muito próximas mesmo. Contudo, como
é fácil ver, a relação entre as variáveis é completamente distinta. Faça então
uns plots com as variáveis relevantes
para o seu estudo.
Dicas gerais
Faça um arquivo de controle de seus dados, com a fonte
precisa dos dados e todas as exclusões e modificações que você fez no banco de
dados. Nesse arquivo liste o nome do arquivo e as alterações feitas. Com esse
arquivo, você deve ser capaz de refazer todos os passos, desde os dados brutos
até o resultado final.
;Aprenda a usar ao menos o básico do Excel. Mesmo que
sua área seja como Literatura ou Linguística, você vai se surpreender quando
descobrir suas mil e uma utilidades. Nem que seja para calcular as médias dos
alunos ou para organizar as suas finanças pessoais, o programa será uma mão na
roda. Usar bem o Excel deveria ser uma daquelas habilidades básicas da vida,
como fritar um ovo.
Se você trabalha em uma área qualquer intensiva em
dados, eu sugiro ficar bamba não só em Excel, mas no software mais popular da sua área que permita a programação. O
motivo é simples: mesmo se for apenas para limpar os dados, com o código de
programação, você terá o registro de todas as exclusões e modificações que fez.
Além disso, você poderá utilizar novamente seu código se necessário. No Excel,
caso aconteça alguma atualização, você precisará clicar-copiar-colar-deletar
novamente e poderá errar no processo.
A lendária @verineas fez a pergunta no Twitter e eu respondo com prazer. O jeito mais tranquilo, sem se preocupar com as maluquices da inflação brasileira, é transformar para libra, deflacionar e depois voltar para R$. Vamos lá:
O baile custou 100 contos de réis (a Vera me informou). A taxa de câmbio de 1889, segundo o Ipeadata, era de 26,4 pence por mil-réis. Então 100 contos =2.640 mil pence. Aí tem uma armadilha: até 1971, o sistema monetário inglês não era decimal e havia 240 pences por libra. Logo, 2.640 mil pence = 11.000 libras (a preços de 1889)
Para deflacionar a libra, basta ir no site Measuring Worth: essas 11.000 libras corrigidas pela inflação resultam em 1 milhão de libras de 2015.
1 milhão de libras em 2015= R$4,3 milhão de reais de hoje. Se foram 4500 convidados, dá um custo de quase R$1000 por cabeça. Faz sentido.
Ou, em valores relevantes: O Baile da Ilha fiscal custou cerca de 1.075.000 churros, ou seja, 1 churros para cada habitante de Teresina e ainda sobram 307.441 para a própria @verineas.
Deflacionar valores no muito longo prazo é sempre meio questionável e talvez seja melhor comparar o gasto com o Baile mais diretamente. Os 100 contos de réis compravam :
- O salário anual de 500 trabalhadores de baixa qualificação (200 mil-réis anuais é um bom chute ).