O verbete "Apresentações em Congressos e Seminários" do "Manual de sobrevivência na universidade"

Aí vai mais um dos 58 verbetes do livro (Amazon.com.br e Amazon.com):
Apresentações em congressos e seminários 
      Conheça o seu público. Cada grupo tem a sua cultura. Na Administração de Empresas, o objetivo é entreter o público. Já se você for um filósofo, sua meta é entediar o público, fazendo com que uns dois ou três membros da plateia pensem seriamente em suicídio. Sério, uma das funções das apresentações é mostrar que você entendeu as regras do grupo acadêmico e está pronto para ser aceito. Sugiro que você assista um bom número de apresentações dos membros mais experientes da tribo antes de ser o protagonista.
      Ensaie, ensaie, ensaie. Até escola de samba ensaia, por que você não iria ensaiar? É ensaio mesmo, não vale ensaiar na sua cabeça. Tente reproduzir as condições reais da apresentação. Nas primeiras vezes, você vai "sair do papel" para consertar uma coisa ou outra da apresentação. Tudo bem. O importante é fazer ao menos dois ensaios integrais, sem interrupção. E sempre com o relógio. Se tiver plateia simulada, melhor. A sua família e os entes amados existem para isso.
      Imprima uma versão para ser lida no tempo que lhe foi atribuído. Caso tudo dê errado e você surtar, resta sempre a alternativa de sentar e ler. Parecerá que você é um filósofo.
      Para distribuir, imprima um número de cópias bem menor do que o esperado na plateia. Umas oito cópias são suficientes.
      Chegue bem antes e teste a apresentação em PowerPoint. O melhor é você gravar o arquivo no desktop e dar uma passada rápida nos slides. Quando o público chegar, parecerá que você é o anfitrião, e eles vieram só para lhe ver.
      Não seja engraçadinho de início. Nada pior do que uma piada ou historinha que não funciona.
      Seu objetivo máximo é persuadir a plateia de que o seu trabalho é supimpa. Primeiro, você tem de convencê-la que ele trata de algo relevante ("ora, pois nunca pensei que o preço da goiabada em Vassouras, durante o século XVIII, fosse tão interessante", dirão alguns). Depois, você tem de mostrar que o que você tem a dizer é importante ("quer dizer que a goiabada caiu de preço! Quando eu poderia imaginar isso!"). Não os entedie com detalhes irrelevantes (mantenha apenas os detalhes irrelevantes pitorescos). A pergunta que você tem de se fazer é: "O que tenho de interessante para dizer" (não apareceu nada? ... reformulando: "O que tenho de menos desinteressante para dizer?")?
      Enfatize o que você tem de novo e não se preocupe com os detalhes dos métodos. Quem os conhece não precisa que você explique, e quem não conhece não aprenderá na sua apresentação.
      Não é fraqueza assumir os seus erros e possíveis omissões. Mas, tal como na sua vida pessoal, isso deve ser mais um sinal de autoconhecimento do que autodepreciação real.
      É legal mostrar que você teve um trabalhão, mas isso deve ser feito da forma breve e discreta. É melhor dizer: "após rodar dois milhões de regressões..." do que mostrar dez tabelas com os resultados das dez regressões.
      Não responda uma a uma às perguntas do debatedor. Deixe que ele faça todas e vá tomando nota. Quando ele terminar, agradeça e responda só o que você quiser/souber. Ninguém vai perceber. Se não der certo, você tem dois estratagemas: a) "ótima pergunta/sugestão, incorporaremos esse debate em uma versão posterior"; b) "Essa é uma ótima pergunta, mas exige uma resposta longa. Poderíamos discutir na hora do cafezinho" (fuja sem olhar para trás).
      Muitas vezes, tem um velho louco aposentado, um militante ou um desocupado na plateia. Ele fará um longo discurso e umas perguntas sem pé nem cabeça. Segure o riso, agradeça e desconverse.
      Roupas: respeite a linha geral da sua tribo e da ocasião. O meu conselho é tão verdadeiro quanto inútil: "esteja um pouco mais formal do que a plateia". Se todo mundo está de camiseta e jeans, vá de camisa social e jeans. Se todo mundo está de camisa social e jeans, vá de calça social. Se todo mundo está de paletó sem gravata, vá com gravata. Se todo mundo está com paletó escuro e gravata, você se enganou e está em um enterro. O problema óbvio desse conselho é saber como os outros estarão vestidos. Na dúvida, pergunte ao seu orientador ou a alguém mais experiente. Eles não vão rir de você.
      Fique tranquilo. A plateia é ignorante (ao menos do assunto do seu paper) e nem tão interessada assim. Você conhece as limitações do seu estudo melhor do que ninguém (mesmo que ambas as afirmações sejam falsas, é melhor se autoenganar). Na verdade, eles estão ali porque o ar-condicionado está bom, o coffee break está ruim, ou porque estão esperando outro trabalho.
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