Contra a metáfora doméstica na defesa do ajuste fiscal

Eu mesmo uso a analogia com os alunos. Para explicar a regra de ouro da Contabilidade Pública, eu digo "Não pode entrar no cheque especial para pagar o condomínio". Até aí, tudo bem.
Agora, nos debates sobre o ajuste fiscal, tem-se ouvido dos defensores da EC 55 :
"As finanças públicas são como a casa da gente. Não dá para gastar mais do que se ganha."
Eu acho uma má ideia recorrer a essa metáfora para o público.  Ora, como toda metáfora e como todo economista sabe, a analogia é imperfeita e a economia não é como a casa da gente. Até aí, também tudo bem. O motivo principal pelo qual sou contra a analogia é que ela é derrubada pelo contra argumento que o leigo entende com facilidade excessiva:
"Ah, mas a diferença é que na economia, o que o governo gasta determina o quanto ele próprio ganha. Quando o governo gasta, o dinheiro da economia gira, gera mais emprego, isso aumenta a arrecadação e - de lambuja- o Brasil será hexacampeão de futebol . "
Rejeitar esse argumento exige conhecimento e explicações bem acima da média do público. Tem-se que argumentar que o multiplicador não é assim tão grande,  discutir a elasticidade do PIB em relação ao gasto, o espaço fiscal e o problema dinâmico do endividamento. Ninguém tem paciência de ouvir tudo isso e é mais fácil cair no raciocínio confortável do keynesianismo vulgar.
Então, vamos defender o ajuste fiscal, mas - por favor - deixemos para lá a metáfora doméstica.
(Para ficar claro: eu sou a favor do ajuste fiscal. Só acho o argumento ruim para o debate público)

6 comentários:

Dionísio disse...

De um ponto de vista de esquerda (mas não vulgar Keynesiano), o maior mal da metáfora do orçamento doméstico é pressupor que não há conflitos quanto à repartição dos custos do ajuste. Numa família, todo mundo está no mesmo barco. A sociedade, e uma sociedade profundamente desigual em seu acesso aos mecanismos políticos, não é assim.

Leo Monasterio disse...

Caro Dionísio,
Pois é, toda metáfora tem seus limites. (Curiosamente, um cara de public choice tb pode dizer o mesmo do que alguém de esquerda. )
abraços,

pedroalves00 disse...

Caro Leo, você pode indicar algum artigo que fala sobre o tamanho do multiplicador brasileiro e outro que fale sobre o problema dinâmico do endividamento brasileiro? Abraço

Bernardo Huanca disse...

O Brasil é o Titanic; O default da dívida será o iceberg. Para evitar uma colisão não basta fazer a curva, girando o leme (para direita, presumivelmente). Também é preciso ir desacelerando...Então a casa das caldeiras, começa a reverter os motores, exemplificando o quanto a indústria de transformação demitiu no último semestre.
É claro que essa desaceleração tem inconvenientes, pois se os motores não giram, o Diesel, que a bem pouco tempo tinha preços administrados, acumula em estoques ociosos.
Ainda na casa de máquinas, lembremos que no Keynesianismo Hidráulico os multiplicadores de impacto do gasto público trabalham como Servo-motores da indústria de transformação. Indústria essa que precisa de proteção, haja vista que os estaleiros e a nascente indústria naval já ter dado com os burros n'água, naufragando em dívidas.

Agora acompanhe os últimos momentos da des-gestão Dilma, comandante do Titanic: A base aliada desembarca do governo; Para melhorar o "estado de confiança", os músicos Chico Buarque e Tico Santa Cruz aparecem tocando violino no convés; Trajando um colete salva vidas, o japonês da federal surge colocando ordem; Com o navio naufragando, fogos sinalizadores são atirados para o alto (é a abertura a das olimpíadas...); A primeira classe, que tem acesso aos botes, afasta-se para Miami.

No fim, Leo de Caprio (Lula), o preferido do público, morre de hipotermia como se em Curitiba estivesse, numa cela fria da PF.

Bruno Wanderley disse...

Leo,
"o que o governo gasta determina o quanto ele próprio ganha."
É só dizer: E funcionou nos últimos anos?
O argumento do orçamento familiar é simples de explicar para a população mais humilde.

Anônimo disse...

O problema, Bruno Wanderley, é que a resposta para essa pergunta vai depender, em grande medida, da composição do gasto.
É absolutamente indiscutível que tão importante quanto o montante do gasto público é a forma.

Nessa, to 100% com o o redator.

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