Brasília não é uma cidade planejada

Claro que é. Reformulo: a Brasília real não seguiu fielmente plano original de Lúcio Costa.  Que bom.
O visitante que fica só no roteiro entre os setores hoteleiros e A Esplanada ou A UnB verá apenas a faceta Brasília olha-como-sou-muderna-stalinista-tropical-e-agora-tenho-shopping. A outra faceta, muito melhor, é a do improviso, da ordem espontânea, do mercado, da fuga do plano.
Esse plano geralmente só é visto por quem mora na cidade. Ao redor da minha quadra existe: barraca de frutas, costureira, chaveiro, trocador de palha dos móveis; tudo ilegal. (Tem até seus personagens públicas e um quê de vizinhança janejacobsiana ). No árido Setor Bancário Sul, há venda de saladas de frutas (ótimas),  pamonhas, sapateiros, relojoeiros e o escambau.
Daria para fazer um roteiro por Brasília apenas com serviços fora-do-plano, incluindo hospedagem. Só para ficar nos restaurantes, aí vai uma lista incompleta de dicas:
  • O excelente Jambu, o melhor restaurante da cidade, fica na Vila Planalto, um bairro de invasão, menos de 2 km distante do Palácio do Planalto. O bairro está sendo gentrificado e já tem vários restaurantes bons. Para comida popular, tem o da Tia Zélia- que eu acho apenas bom e meio superestimado.
  • O Quituart , um galpão com vários pequenos restaurantes (uns bem bons) também fica em uma local totalmente irregular do Lago Norte.
  • O boteco  Amigão , o preferido do Tyler Cowen quando aqui esteve, pode até estar dentro da lei, mas tem  pinta de que não está.
  • Mesmo os restaurantes das quadras ocupam áreas que não são deles. O Faisão Dourado (peça o espetinho completo de filé) ocupa irregularmente todo um jardim com mesas.

"Eu preferia que tivéssemos encontrado água" Ministro saudita do petróleo

Vendo o impacto da crise da Petrobras nas petroprefeituras, eu lembro desse trabalho bacana sobre a maldição institucional dos recursos naturais. O Brasil é mais um caso de país cujas instituições deterioram após um boom de petróleo.
 Claro que tudo seria menos  grave se  certas pessoas tivessem lido o capítulo sobre governança das estatais de petróleo de Reinventing State Capitalism e feito as mudanças.

Dr. Dawkins gostará do resultado

Mais religião, menos inovação.
Religion and Innovation by Roland Benabou, Davide Ticchi, Andrea Vindigni - #21052 (EFG PR)
Abstract: In earlier work (Benabou, Ticchi and Vindigni 2013) we uncovered a robust negative association between religiosity and patents per capita, holding across countries as well as US states, with and without controls. In this paper we turn to the individual level, examining the relationship between religiosity and a broad set of pro- or anti-innovation attitudes in all five waves of the World Values Survey (1980 to 2005). We thus relate eleven indicators of individual openness to innovation, broadly defined (e.g., attitudestoward science and technology, new versus old ideas, change, risk taking, personal agency, imagination and independence in children) to five different measures of religiosity, including beliefs and attendance. We control for all standard socio-demographics as well as country, year and denomination fixed effects. Across the fifty-two estimated specifications, greater religiosity is almost uniformly and very significantly associated to less favorable views of innovation.

http://papers.nber.org/papers/W21052?utm_campaign=ntw&utm_medium=email&utm_source=ntw

A morte da Economia Neoclássica

É minha obrigação postar o link para o texto do David Colander (2000) de tempos em tempos. O ponto dele: existe Economia contemporânea, tão diversa que não dá para encaixar em uma "escola" ou definir facilmente. (Sim, é um ponto semelhante ao do Marcos Lisboa em A Miséria da Crítica Heterodoxa, 1997). Escreve Colander:
The problem is its use [do termo neoclássico] by some heterodox economists, by many nonspecialists, and by historians of thought at unguarded moments, as a classiŽfer for the approach that the majority of economists take today. (...)The worst use, and the place one hears the term neoclassical most often, is in the discussions by lay people (..) who object to some portion of modern economic thought. To them bad economics and neoclassical economics are synonymous terms. Economists today are not neoclassical according to any reasonable deŽfinition of the term. They are far more eclectic, and concerned withdifferent issues than were the economists of the early 1900s, whom the term was originally designed to describe. If we don’t like modern economics, we should say so, but we should not take the easy road, implicitly condemning modern economics by the terminology we choose.

Adam Smith sobre o futuro dos EUA

A Riqueza das Nações foi publicada uns 3 meses antes da Independência americana. Olhem como ele acertou na mosca ao tratar do futuro das lideranças políticas dos Estados Unidos:
From shopkeepers, tradesmen, and attornies, they are become statesmen and legislators, and are employed in contriving a new form of government for an extensive empire, which, they flatter themselves, will become, and which indeed, seems very likely to become, one of the greatest and most formidable that ever was in the world.
 O capítulo inteiro sobre as colônias é muito bom.

Será que vai estourar agora?


Bolhas imobiliárias às vezes precisam de eventos localizados para murchar:
"Para reforçar caixa, governo vai vender imóveis e renegociar aluguéis" — Temos a pretensão de reduzir o número de espaços alugados e procurar usar mais os próprios — afirmou Oliveira (secretário-executivo do Ministério do Planejamento)
Por ano, a União desembolsa nada menos que R$ 1,1 bilhão com o aluguel de dois mil imóveis, sendo R$ 950 milhões no Brasil e mais R$ 170 milhões no exterior, segundo levantamento preliminar do Ministério do Planejamento. Em Brasília, 29 mil servidores trabalham nesses imóveis alugados pelo valor de R$ 55 o metro quadrado, o mesmo custo cobrado no Rio.(...).
 A União é dona, por exemplo, de terrenos desocupados na região do Lago Sul, um dos espaços mais nobres da capital federal. Ainda não há uma estimativa fechada de ganhos com leilão de bens na mesma situação em outros estados."

Links para alegrar o seu domingo


  • A desigualdade cai por todo canto na América Latina. Ponto para Kuznets! (Não gosto de eixos que não começam no zero, mas o gráfico está bonito. Bacana o site do projeto.)



















Colônia de povoamento e de exploração: de Heeren a Acemoglu

Vim só para avisar que o trabalho está andando e até o fim de abril eu acho que o Texto para Discussão do Philipp Ehrl e meu estará no ar.

Memória Estatística do Brasil

Agora está parcialmente disponível no Internet Archives. Trata-se de esforço sensacional, fruto do trabalho de muitos anos do grande Eustáquio Reis (Ipea-RJ). (Lembro também que o Ipeadata também é cria dele. Eu me orgulho muito de ter feito um paper com ele). Praticamente, não há trabalho bacana de história econômica brasileira  na última década de não contou com dados do Memória.
Os arquivos completos estão no site original do projeto.

Conferência do Coase Institute ao vivo!

Kenneth Arrow, Oliver Williamson, Sam Peltzman, Tyler Cowen e toda a turma de NIE estará lá. A transmissão começa hoje - dia 27 de Março -  às 10:00 AM (hora de Brasília, se não estou enganado).
Veja aqui a programação da conferência.

Cuba, Rock e Aids

O episódio mais recente do RadioLab é um dos melhores, do melhor podcast do mundo. A história é muito barra pesada: nos anos 90, ter Aids era uma fuga para os jovens roqueiros cubanos.
O Radio Ambulante, parceiro do Radiolab, também fez episódios em espanhol sobre o assunto: aqui e aqui.
Ainda sobre podcasts, Bruno Borges fez uma listagem excelente.



Transição do Word para o LaTex para dummies (eu)

Eu faço parte da geração que emburreceu usando Windows/Office, mas quero me recuperar. Mentira: o motivo é que dois coautores atuais usam LaTeX e eu não quero parecer idoso. Além disso, cada vez mais os journals pedem os artigos no formato tex. Aí vão os meus passos.
  1. Fiz o download do proTeXt: é um pacotaço (1 giga e tanto) que vem com tudo que você vai precisar. Usei o TeXStudio como editor.
  2. Instalei o Writer2LaTeX e abri um docx para o LibreOffice e este plugin gerou um arquivo tex bem limpo. Tudo bem que era um docx simples, mas funcionou muito bem. É bom ver o seu próprio texto no formato;
  3. Como preciso colaborar, eu testei o Overleaf:, Google docs para escrever documentos colaborativos em LaTeX. Parece fácil, bem feito e prático. Colei o arquivo tex e funcionou direitinho.
  4. Minha primeira tentativa de gerar uma tabela no LaTex deu errado. Mas descobri um gerador de tabelas e quadros em LaTeX (e R Markdown) que faz isso, sem você saber nada de código;
  5. Não gostei muito do LyX, o editor Wysiwyg para LaTeX. Parece uma gambiarra e acho que não vai se tornar padrão.
  6. Ainda não encarei passar a bibliografia do amado Zotero para o BibTeX. Depois eu conto.
Enfim, eu ainda não cheguei lá, mas o meu objetivo ainda é seguir a dica mais importante deste blog.

Novos blogs recomendados


  • Freakonometrics: data science por um craque no R;
  • Leis da Oferta: blog do João Pinho Mello, Vinícius Carrasco, Tiago Cavalcanti e Sérgio Firpo. 'Nuff said;
  • O Agente Principal: está meio parado, mas as autoras fizeram ótimos posts sobre políticas públicas.
  • Não é blog, mas eu continuo recomendando - especialmente para os jovens leitores - os textos do - também jovens - caras do Mercado Popular. Em tempo de muita besteira, ler textos de libertários com bom senso e preocupação social é sempre um prazer. 

Dois ótimos livros recentes sobre desenvolvimento brasileiro

Com muito atraso, aí vão duas dicas:
Sinceramente, ambos deveriam ser literatura requerida para quem quer discutir o desenvolvimento brasileiro para valer.
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