Diversos

Minha bronca com a Revolução da Credibilidade

Claro que a revolução da credibilidade foi um avanço. Ed Leamer estava certo quando escreveu Let's Take the Con Out of Econometrics. E Angrist também estava certo quando publicou The Credibility Revolution in Empirical Economics: How Better Research Design Is Taking the Con out of Econometrics. Só que a revolução foi longe demais.
Hoje, assuntos bacanas não são pesquisados porque não dá para aplicar uma das estratégias "novas" para encontrar  causalidade.  O conjunto de problemas investigados são limitados pela ocorrência de alguma esquisitice no mundo que permita a identificação econométrica. (O contra-argumento é que sempre há alguma fonte de exogeneidade; bastaria procurar direito. Pode ser.)
Mas a minha queixa principal é outra:  agora acreditamos demais no autor. Quando a econometria era vagabunda, uns OLS aqui, um painel acolá, ninguém se deixava convencer por um monte de *** junto aos coeficientes. Não éramos trouxas.
Já na revolução da credibilidade, se você compra a estratégia de identificação proposta pelo autor, tem que aceitar o resultado (mesmo que duvide da validade externa). O problema é que -na imensa maioria das vezes-  o autor conhece os eventos que levaram a suposta exogeneidade melhor do que o parecerista (e, claro, o leitor). E é muito fácil esconder as malandragens que poderiam comprometer a identificação. Não adianta compartilhar os dados e o código on-line, se informação crucial não foi compartilhada.
(O post de hoje do Marginal Revolution retrata bem o problema. Se você não conhece tudo da sociedade dinamarquesa, nunca vai encontrar furo.) 

Pesquisa Empírica 9 X Teoria 1

Enquanto no Brasil se brinca de que existem várias "escolas de pensamento econômico" (que termo horrível!),  no resto do mundo ninguém gasta saliva com isso. O negócio é analisar o dados e não há essa de se identificar como "neoclássico", "neo-desenvolvimentista" ou ˜schumpeteriano-flamenguista-vegan".
E essa tendência ficou ainda mais forte nas últimas décadas. Vejam lá: nas áreas de Economia Internacional e Desenvolvimento Econômico, a participação dos trabalhos empíricos passou de 60% para mais de 90% de trabalhos empíricos. O trabalho completo está aqui (pdf).


PS. "Ah, mas a pesquisa empírica está cheia de ideologia." dirá um chato. Eu sei. Sei também que toda bebida contém água. Mas existe uma diferença grande entre laranjada e vodka.

A moda da História Econômica

Ótima discussão do Tyler Cowen sobre as razões que fizeram a História Econômica entrar na moda.  Desde Acemoglu, Johnson e Robinson, economistas de departamentos de topo abriram os livros de História atrás de estratégias de identificação bacanas. Gostei muito do comentário do Matthew Kahn:

"Great question. Given that I have published in the Journal of Economic History, have co-authored an economic history book (see Princeton Press 2008 Heroes and Cowards) and I’m married to an economic historian [Leo: ele é marido da grande Dora Costa], I feel like I can deliver a partial answer. Great historical data is”out there” if you know where to dig. This creation of longitudinal micro data sets by using people’s names and geographical data in repeat cross-sections of data has opened many new opportunities for writing “natural experiment” papers. The field of economic history faces at least two challenges. First, at the publication stage, we are now in the “field experiment era” and economic historians have trouble running randomized field experiments! Without such a randomized research design, clever reviewers can always think of some story for why OLS’s assumption of E(U|X) does not equal zero or why IV’s assumption of E(U|Z) does not equal zero. Second, if an economy is “non-stationary” and evolving over time, then past historical relationships between say climate conditions and mortality provide an upper bound on future relationships because they under-estimate adaptation. The Lucas Critique lurks throughout when interpreting lessons for today from past events."
E gostei também dessa resposta de um tal de wiki:

"Economics is driven by technique at the upper ends. Despite the rise in economic history, the Journal of Economic History has unfortunately not risen much in status because what matters to the top guys are historical papers that have elite technical methods. Moreover — without naming names — there are plenty of articles in top 5 journals that are suspect in their historical interpretation (even by econ standards) that are well-specified technically but which would likely have been rejected by JEH. So in the end, it’s about all the things Tyler mentioned, but it’s also how econ only adopts those fields that focus on the technique of the moment. And the lack of RCTs in history as Kahn mentions, restricts how far historians can go unless they engage in the sorts of heroic efforts the current Clark medal winner has undertaken. So these are high risk, low article count career choices."

Concordo que vários papers em journals top seriam rejeitados do Journal of Economic History pelas razões certas: autores marretaram a evidência histórica ou ocultaram fatos que colocariam em risco a estratégia de identificação. E só os especialistas mesmo do assunto identificariam a malandragem. (Claro que também há razões erradas para ser rejeitado pelo JEH)Nos próximos dias,  eu vou escrever  mais sobre a minha bronca com a revolução da credibilidade na Economia.

Furtado e o filme para convencer os americanos

Celso Furtado, em A Fantasia Desfeita, escreve sobre o documentário "Brazil- the troubled land" (1961). Segundo ele, o curta -dirigido por Helen Rogers -foi fundamental para convencer a opinião pública norte-americana da importância de seu governo apoiar os projetos de desenvolvimento do Nordeste. O filme teria passado em horário nobre nos EUA com "extraordinária repercussão". Para minha surpresa, o filme está disponível no Youtube.
As imagens da família miserável e o contraste com o proprietário de terras são mesmo impactantes.

No filme, Francisco Julião é pintado como um grande líder comunista e o Furtado, como herói ("brilliant economist").  A ideia era que, ao mostrar os riscos de revolução, as propostas da SUDENE - ou seja, Furtado- seriam mais atraentes para o contribuinte americano. Ao final, o narrador defende a urgência de resultados sociais e sintetiza: "Time works for the communists, we have not lost yet. "

Novo site pessoal e visual do blog

Eu decidi ficar fora do Twitter por um mês para me concentrar em terminar uns trabalhos. Como sobrou algum tempo, eu atualizei o visual do blog e criei uma página pessoal (em inglês) no novo Google Sites.
(Usei o dlvr.it para que os post do blog sejam reproduzidos no Twitter automaticamente, sem que eu precise entrar lá para tuitar)

Inherited cultural diversity and wages in Brazil por Ehrl e Monasterio

Aqui. Abstract:
Inherited cultural diversity and wages in Brazil
This paper estimates the long-term impact of immigration to Rio Grande do Sul/Brazil on contemporary wages. Based on a unique micro-data panel that includes the names of workers, we apply machine learning algorithms to classify surnames and infer each workers’ ancestry in order to calculate the inherited cultural diversity in the workforce by municipality. We address the endogeneity of cultural diversity by using three sets of instruments: distance to settlements created by the government for non Iberian immigrants between 1824-1918, share of street names with foreign surnames and share of foreigners in 1920. Our IV-estimations prove robust to human capital differences, institutions, geography, the spatial sorting of workers based on intrinsic abilities and the diffusion of knowledge through imports. The results clearly indicate that an increase in diversity – exclusively transmitted through the share of workers with non-Iberian ancestry – leads to a positive wage externality.
Eu já apresentei o trabalho no encontro da Urban Economics Association e o Philipp apresentará nessa conferência na próxima semana.
Como sempre, comentários são mais do que bem-vindos!

PS: Eba! Marginal Revolution divulgou o paper !!!

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