Viva as cotas de importação!

Como vocês sabem, cotas de importação são a forma mais estúpida de protecionismo. Geram aumento de preços dos importados, rent-seeking e nada de arrecadação. Ontem aprendi que elas tiveram tiveram efeitos colaterais positivos para a economia global...
A história é a seguinte: Nixon lutou pelo Multi Fibre-Agreement para proteger a obviamente decadente indústria de roupas norte-americana. O acordo impôs uma baita restrição quantitativa às exportações sul-coreanas. A solução foi levar as fábricas coreanas para outros países não incluídos no acordo, como Bangladesh. Hoje o país é um tremendo exportador de roupas. Bangladesh ainda é bem pobre, o setor tem lá seus problemas, mas umas três milhões de pessoas (90% mulheres) trabalham no setor. As cotas do Nixon, quer diria, apressaram a globalização da produção de roupas.
Eu aprendi tudo isso no ótimo podcast Planet Money. Eles entrevistaram até os envolvidos diretamente na instalação da primeira fábrica em Bangladesh. [Eu fiquei emocionado com os depoimentos (mas acho que só eu me emociono com essas coisas)].

O futuro energético do Brasil

Com base nessa notícia explosiva (desculpas),  meu amigo Mauro Oddo, livre-pensador  e engenheiro, fez a seguinte conta:
"500 litros de gás por dia por vaca;
Rebanho bovino brasileiro = 210 milhões de cabeças; 
Produção diária de gás vacum = 105 milhões de metros cúbicos por dia; 
Produção diária de gás natural no Brasil = 65 milhões de metros cúbicos por dia. 
Ou seja, a Petrobrás não produz em seus campos nem a metade o gás produzido pelas nossas vaquinhas!!!! Tá na hora de criar a Peidobrás!!! É um manancial mais rico que o pré-sal!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!"

Quatro coisas que você não sabe sobre econometria


  1. Você acha que o b estimado de uma dummy em uma regressão semilog deve ser entendido como o impacto b*100 na variável dependente, né? Você (e o Robert Lucas) estão errados, como mostraram Halvorsen e Palmquist (1980). Faz uns 6 anos eu já havia alertado para isso cá no blog. Contudo, outro Lucas, o Mation, me contou ontem que eu continuava errado. Tem um paper do Peter Kennedy (1981) que corrige um probleminha do trabalho anterior.
  2. O Stata acha que missing é um valor muito grande. Se y for missing e você fizer gen x=1 if (y>10), vai ter x=1 para todos os casos. A justificativa dos criadores do Stata está aqui.
  3. No R, experimente fazer .1==.3/3.Viu? Ele acha que são números distintos. Mais comportamentos estranhos em R Inferno (dica do Bernardo Furtado, eu acho)
  4. A Norah Jones é filha do Ravi Shankar. Veja aqui. (Tá, não é econometria, mas é tão inusitado que eu tinha que contar para alguém).

Diversos

"Comparing the incidence of taxes and social spending in Brazil and the United States" por Higgins & Lustig

Acabou de ser lançado.  Vejam que curioso: os EUA redistribuem mais que o Brasil. Contudo, se você considera que os brasileiros menos pobres pagam pelos serviços privados de saúde e educação não-superior, ambos redistribuem na mesma medida. Dica do Christian Lehmann. (O site do Christian, a propósito, vale uma visita. Ele aplica equilíbrio geral para o estudo do bolsa família. Coisa fina).

 Sean Higgins and Nora Lustig

 Abstract: 
We perform the first comprehensive fiscal incidence analyses in Brazil and the US, including direct cash and food transfers, targeted housing and heating subsidies, public spending on education and health, and personal income, payroll, corporate income, property, and expenditure taxes. In both countries, primary spending is close to 40 percent of GDP. The US achieves higher redistribution through direct taxes and transfers, primarily due to underutilization of the personal income tax in Brazil and the fact that Brazil’s highly progressive cash and food transfer programs are small while larger transfer programs are less progressive. However, when health and non-tertiary education spending are added to income using the government cost approach, the two countries achieve similar levels of redistribution. This result may be a reflection of better-off households in Brazil opting out of public services due to quality concerns rather than a result of government effort to make spending more equitable.

Ainda Localistas X Globalistas

Uma  banho de chuveiro depois eu me toquei que a diferença de opinião sobre programa Primeira Chance poderia ser interpretada como o velho dilema eficiência X desigualdade.  Se para você identificar talentos  e transferi-los para as boas escolas particulares é bom, então eficiência está acima de tudo. Por outro lado, você pode criticar o programa pelo aumento da desigualdade. As crianças das escolas ruins ficam ainda piores (porque perdem o efeito contágio dos bons alunos) e as melhores escolas ficam ainda melhores. O principal problema dessa interpretação é que eu perco o meu exemplo da polêmica "Localistas" X "Globalistas".
Vamos a outro exemplo mais apropriado então:  inventam um jeito que faz com que o número de golfinhos mortos por redes de pescadores de atum caia 50%. Localistas comemoram: "Menos 50%  de vítimas!". Globalistas: "Nenhum golfinho deve morrer. Essa invenção é uma enganação".
(Notem que não é exatamente uma diferença entre pragmáticos e idealistas.  De qualquer modo, imagino que alguém já deva ter feito a distinção  "Localistas" X "Globalistas", eu só não tenho tempo saco de procurar.)

Da arte nos abstracts

Aqui vai um exemplar notável. (via urban demographics, como sempre).
Outras contribuições memoráveis: aqui (o abstract original é só: "No, and maybe not") e um outro que eu já comentei.

"Localistas" e "Globalistas" nas políticas públicas

O texto do Gaspari relata o programa Primeira Chance que dá bolsas e apoia alunos brilhantes oriundos de escola públicas no Ceará. É um bom exemplo para ilustrar uma fonte de polêmicas nas políticas públicas.
Chamarei-os de "Localistas" e "Globalistas". "Localistas" apoiam quaisquer políticas que gerem ganhos marginais de bem-estar, mesmo as que não conduzam a um ótimo global.  Ou seja, eles se satisfazem com políticas que aproximem a sociedade de um ótimo local. Já os "Globalistas" são mais exigentes. Eles só defendem políticas que movam na direção do ótimo global e morrem de medo de ficarem presos em ótimos locais. No caso em questão, os Localistas pensam: "Deu para salvar alguns alunos. Não é a solução geral, mas é melhor do que perdê-los.". Os Globalistas dizem: "As bolsas são um erro porque não combatem o verdadeiro problema: a baixa qualidade das escolas públicas".
O debate entre "Localistas" e "Globalistas" surge em todo o canto. Sempre que você ouvir: "De que adianta mitigar X , se Y é a causa?" trata-se de um Globalista. Um Localista diz: "Ao menos resolveremos X. Y é para depois." Arrisco dizer que esta diferença de posturas é a responsável pelo maior gasto de saliva e papel entre debatedores de políticas públicas.

Falta de tempo + procrastinação= Twitter

O blog está devagar. Primeiro, porque está faltando tempo (em pleno janeiro!). Segundo, porque eu acabo pensando "vou fazer um post sobre isso"  e acabo esquecendo. As duas coisas me fazem a postar por impulso no twitter @lmonasterio e não aqui. (Lá eu sou ainda mais off-topic do que o geral).
A minha resolução de domingo foi, contudo, menos twitter e mais blog. Portanto, nesta semana já tenho novos posts programados.

Regional Studies Association Global Conference 2014, Fortaleza,Brazil

Stature and Immigration in Southern Brazil (1889-1914)

Meu texto, ainda produto de outra encarnação, acabou de ser publicado na América Latina en la Historia Económica. Já que você está lá, eu recomendo muito ler a resenha do excelente  Measuring Up: A History of Living Standards in Mexico, 1850-1950. Como seria bom um livro análogo sobre o Brasil!
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