A Terra fotografada de Saturno

É uma foto:

Feliz 2014. (Detalhes aqui.)

Número novo da Planejamento e Políticas Públicas

Acabou de sair. Vários textos bacanas, mas eu destaco "Testar, Aprender, Adaptar". Trata-se da tradução de uma ótima defesa do uso de  experimentos aleatórios controlados nas políticas públicas. O texto original foi  feito pela turma ligada ao gabinete do governo britânico. Um dia chegaremos lá!
A propósito, como editor da PPP, eu aproveito para agradecer a todos que submeteram artigos e deram pareceres para a revista em 2013.

"Counterfactuals and Causal Inference" por Morgan & Winship

É o meu livro predileto do ano. Ele faz a ponte entre os livros de metodologia e os de estatística baseada em contra-factuais. Eu aprendi muito mais com o livro do que com o (enganosamente) mais acessível Mostly Harmless Econometrics. O livro te ensina a pensar a sério sobre causalidade antes de sair fazendo regressões ou catando variáveis instrumentais. Não entendi tudo na primeira leitura, mas o que entendi já valeu a pena.
Só um alerta: eu comprei a versão em Kindle, mas não a recomendo. Você tem que ficar indo e voltando nos gráficos e isso é um saco em livros digitais.

Minha mensagem de ano novo aos jovens economistas


Logo ali, em 1988, eu -brizolista à epoca- gastava neurônios, saliva e células hepáticas discutindo o futuro do capitalismo, marx, keynes e o ortodoxos. O Brasil era isolado e parecia que tudo que se precisava saber estava na coleção  "Os Economistas". Era feliz, mas o mundo era muito limitado.


Fast forward 25 invernos. Estudar Economia nunca foi tão bacana quanto hoje. Universos de linhas de pesquisa, ferramentas, teorias e bancos de dados estão a apenas um clique. Vamos lá: tem a turma de experimentos naturais, contrafactuais, big data,  simulação de todos os jeitos e muito mais. Nos temas, surgiu a economia do futebol, do vinho e até economia do sexo, drogas e rock'n'roll.  Nos dados, a abundância é sensacional ; os softwares são gratuitos e só faltam fazer chover. Nunca tanto foi disponível para tantos.


Mas é só sair da Academia e cair no mundo selvagem do facebook, blogs, twitter e colunistas dos jornais que o papo fica super chato. Eles ainda não sairam das velhas polêmicas e continuam achando que existem livros sagrados. Uma turma que lê o Capital, a Teoria Geral, o Caminho da Servidão* ou Formação Econômica do Brasil como verdades reveladas e não como hipóteses.


Science is interesting. Jovens, apliquem a regra dos dois desvios e produzam. A vida é curta. Vocês não tem nada a perder, a não ser a chance de fazer algo bacana.




(* Isso é a novidade do século XXI. Não havia austríacos na década de 80. Muito menos austríacos de miolo mole)






Divulgação: International Conference on Finance, Banking and Regulation

Os meus colegas da UCB estão organizando a conferência em 2014. O call for papers está aqui.

Super-heróis que os pesquisadores gostariam de ver


O melhor de todos os super-heróis seria o Bullshit Man. Mas eu tenho algumas sugestões que aliviariam o trabalho BS Man :


  • Data trap Man: Ele aparece logo antes de você fazer uma besteira com os dados. Um instante antes de apertar Enter, ele surge e avisa "Ei, o IBGE mudou a classificação dessa atividade em 2004, não dá para usar em série de tempo". Ou, "Psiu, os dados dos estupros na Suécia são incomparáveis com os dados do restante do mundo.";

  • Bug Killer Woman. Você está há meia hora lutando para encontrar um erro nas tuas linhas do R. Ela aparece e avisa "Tira esse attach!" e vai embora;

  • Basic References Man.  Um super-herói que joga um raio mágico que faz com que os debatedores aprendam instantaneamente a literatura básica sobre o tema .(O poder do Woody Allen em Annie Hall  já seriam um exagero).




Prêmios de Economia 2013


Os meus colegas de Ipea mandaram ver nos prêmios de Economia deste ano:

- Daniel Cerqueira levou o Prêmio BNDES de tese de doutorado (PUC-RJ) por Causas e Consequências do Crime no Brasil;

- Gabriel Ulyssea ganhou o Haralambos por Essays on the Informal Sector (University of Chicago);

- Por fim (até onde eu sei), o Guilherme Resende, vizinho de andar, levou o menção honrosa no Prêmio do Tesouro Nacional.

Em comum, são trabalhos brilhantes com tremenda análise empírica e que não estão nem aí para as polêmicas ortodoxos versus  heterodoxos que povoam facebooks e blogs. (Em breve, farei um post sobre o descompasso entre a produção profissional e o bate-boca internético).


"Multiplicai-vos e crescei? FPM, emancipação e crescimento econômico municipal' por Mation Boueri e Monasterio

Aí vai texto sobre os efeitos da criação de municípios no Brasil   (pdf 8 MB) no livro Brasil em Desenvolvimento 2014.

Ainda a criação de municípios



É muito importante que o veto presidencial aos PLS 98/2002 seja mantido. Eu passei a semana divulgando (sem muito sucesso) a Nota Técnica sobre criação de municípios. Como a nota é bem pontual, eu recomendo o artigo do Marcos Mendes "Criar novos municípios é prejudicial para o Brasil? " para quem quiser saber mais sobre o tema. 
Segue a apresentação da Nota:

 
Só para reforçar os pontos principais:

  • Os municípios pequenos brasileiros não são nem os que têm a população mais pobre, nem os com prefeituras mais pobres;
  • Criar municípios significa transferir recursos dos municípios que já existem para os emancipados e só aumenta a desigualdade regional;
  • Se o veto for derrubado, o  número de novos municípos pode ser grande. Muito grande.
Ainda sobre o assunto: na terça-feira será divulgado o trabalho ""Multiplicai-vos e crescei? " em que Mation, Boueri e eu estimamos os efeitos das emanicipações pós-1988. Adianto o resultado: não deu muito diferente do estudo de  Enlison e Ponczek publicado recentemente na RBE. Ou seja, nem a população emancipada se beneficiou.

"Criação de Municípios Depois do PLS 98/2002: uma estimativa preliminar"

Título alternativo: "Quando Adolfo, Dilma e eu concordamos".  Aqui.

Cada categoria piora, mas todos melhoram

Coisa simples. Imagine um conjunto de indivíduos.  Divida-os por escolaridade. Suponha que cada grupo sofreu perdas salariais ao longo de tempo. É possível que, como um todo, eles tenham ganhos salariais?
Sim. É possível. Basta que a composição dos grupos mude no tempo e compense as perdas por categoria. O indivíduo que estuda tem um aumento de renda, mas puxa para baixo a renda média dos grupo de maior escolaridade. É, no fundo, o paradoxo de Simpson em toda sua graça.
O Café Hayek trata dessa esquisitice para o caso dos EUA. O John Mokyr conta a mesma história na Revolução Industrial Inglesa. As condições de materiais de vida melhoraram no campo e na cidade, mas pioraram como um todo. O motivo é que havia êxodo rural, apesar das condições serem piores na cidade do que no campo.
E no Brasil? Um tanto disso está acontecendo hoje. As médias salariais para os mais educados têm crescido bem pouquinho. Mas isso é o resultado de dois processos: a evolução dos ganhos dos que já estavam nessas classes e a entrada de novos indivíduos. (Adicionalmente, os retornos da educação caem, como esperado). Em breve, não me surpeenderá se a categorias mais educadas tiverem perdas salariais, mesmo que cada indivíduo melhore.

Diversos atuais

Previdência social nas grandes regiões

Vejam os resultados do saldo previdenciário (benefício-arrecadação). A Região Sul - surpresa! - recebe uns R$12,5 bilhões por ano (Dados de 2010).

Região
Saldo em milhões
Saldo per capita
Centro-Oeste
-4508
-321
Nordeste
32643
615
Norte
3015
190
Sudeste
-5668
-71
Sul
12521
457

Resultados completos em breve em um Texto para Discussão perto de você.

Quais são os furos de roteiro da história brasileira?

Inspirado por essa discussão no reddit, aí vão os maiores problemas na história do Brasil:
  • Os furos de roteiro começam já no Tratado de Tordesilhas. Cuméquié? Antes do descobrimento já havia um tratado garantindo as terras para Portugal? Estranho, mas vamos dar um crédito porque os roteiristas estavam começando;
  • A chegada da família real portuguesa caiu meio de paraquedas na história. Entendo como uma tentativa de criar um núcleo rico no folhetim. Funcionou bem e rendeu grandes momentos;
  • A escravidão foi preservada por tanto tempo pelo seu apelo dramático. Vide Raízes, Escrava Isaura.... Os roteirista a mantiveram até ficar muito ridículo mesmo^2 ainda haver escravos no Brasil;
  • O segundo governo Vargas foi uma tentativa de trazer de volta uma personagem que tinha tido sucesso em temporadas anteriores. Não funcionou e aí resolveram tirá-lo da série abruptamente;
  • Jânio foi uma comic relief na história. (Que solução bizarra fazer com que presidente e vice fossem eleitos separadamente!).
  • Doença do Tancredo às vésperas da posse. Pura apelação para ganhar audiência;
  • No Governo Collor assumiram uns roteiristas de novela mexicana, com toques sub-rodrigueanos. Teve até cunhada envolvida. Inventar o câncer do irmão e a longa doença da mãe foi muito forçado mesmo;
  • Recentemente, os roteiristas têm exagerado nos plot twists. Líder sindical de esquerda segue uma política econômica ortodoxa e dá tudo certo. E agora os juízes escolhidos pelo próprio partido mandam as principais lideranças para a cadeia. Reviravolta muito improvável.
Esqueci de algo?

Borges, Teoria dos Jogos e Sinalização

I remember I once saw a man challenging another to fight, and the other caved in. But he caved in, I think, because of a trick. One was an old hand, he was seventy, and the other was a young and vigorous man, he must have been between twenty-five and thirty. Then the old man, he begged your pardon, he came back with two daggers, and one was a span longer than the other. He said, “Here, choose your weapon.” So he gave the other the chance of choosing the longer weapon, and having an advantage over him; but that also meant that he felt so sure of himself that he could afford that handicap. The other apologized and caved in, of course.
Entrevista aqui.

Diversos internacionais

Antropometria e condições de vida

Eu não tenho tido tempo para voltar a trabalhar com antropometria histórica, mas esbarrei em dois papers legais:
Mais saneamento, mais altura;
Ser feto durante um desastre climático traz problemas o desenvolvimento posterior.

"Will Ugly Betty ever find a job in Italy?"

Eu gosto de títulos engraçadinhos, mas esse passou dos limites. (Dica do Urban Demographics.)
De cabeça, meu título engraçadinho predileto na Economia é: Das Human Kapital. Se serve de consolo, em outras áreas os caras perderam completamente a noção e a educação.

PS: Só agora eu vi o sobrenome de um dos autores. Bonus points.

O verbete "Defesas" do Manual de Sobrevivência na Universidade

Começou a temporada anual de defesas de monografia, qualificações e assemelhados. Para dar uma força para os desesperados e esperançosos, aí vai o verbete "Defesas" do Manual:

"Defesas

Você está prestes a entregar a versão para a banca, não aguenta mais ver a cara do orientador (e vice-versa). Chegou a hora.
Fique tranquilo. Se o seu orientador aceitou que você vá para a banca existem duas possibilidades: a) Seu trabalho é no mínimo razoavelmente bom e, apesar de sofrer, você será aprovado no final das contas. Uma coisa que qualquer orientador morre de medo é de passar vergonha na frente dos colegas. b) Seu orientador é doido ou um mau-caráter (ou ambos) e quer levar você para os leões como jantar. Se isso acontecer, o que é muito improvável, você não tem muito que fazer. De qualquer modo, você vai ter de fazer o seu melhor na apresentação.
A sua defesa é tão importante quanto a sua primeira vez. E tão apavorante quanto. Outra semelhança: por mais que você tenha praticado sozinho, a outra parte é mais experiente do que você. A principal diferença – eu imagino – é que na defesa de tese ninguém estará bêbado.
Procedimentos para uma defesa feliz: 
      Leia o verbete Apresentações.
      Leia o verbete PowerPoint.
      Você viu um erro horroroso depois de ter enviado a tese? Não entre em pânico. Faça uma errata e envie por e-mail para o seu orientador avaliar e encaminhar aos membros da banca. Na hora da defesa, peça desculpas e distribua cópias da errata antes do começo da defesa. Mas isso só para erros feios mesmo. Para pequenos tropeços, deixe estar e só corrija na versão final. A banca precisa de algo para se alimentar.
      Tenha uma versão da tese com a mesma paginação da que foi distribuída para a banca. Nada pior do que ficar indo e voltando nas páginas para achar o trecho que o membro da banca está se referindo.
      A defesa não é o momento para sentimentalismos nem agradecimentos rasgados. Você pode ser mais informal e até contar um pouco dos bastidores e motivação da pesquisa, mas não exagere na informalidade.
      Não discuta com a banca. Defenda seu ponto e o seu trabalho. Você vai ser criticado e algumas críticas serão injustas. Você não precisa sair da sala tendo convencido toda a banca de que tem razão. Esfrie a cabeça e responda sempre tentando evitar o confronto direto. Exemplo. Se o membro da banca disse uma sandice completa, ao invés de dizer: "Que absurdo! Nunca houve bobagem maior na vida", você pode dizer - sem tom de ironia: "Infelizmente, eu não conheço a literatura ou os autores que defenderam esse ponto".
      Não tente responder a todas as perguntas. O normal é o membro da banca fazer as perguntas em sequência. Vá anotando e, quando for a sua vez de falar, responda aquelas que você está seguro. Às vezes, o membro da banca não entendeu um ponto trivial e vai ser fácil responder. Se for mesmo impossível saltar as questões mais cabeludas, não há problema em agradecer a "ótima" pergunta e dizer que não tem certeza para a resposta, mas que vai examinar a questão.
      Curada a ressaca da comemoração, corra para fazer as correções sugeridas pela banca. Procrastinação é imperdoável nesses casos. Livre-se logo do encosto e toque a sua vida!"

Mais aqui.

"Economic Development and the Biological Standard of Living in Brazil, 1830-1960" por Franken

Os alemães devem ter uma palavra para expressar a sensação de alívio quando você descobre que alguém fez o paper que você se sentia obrigado a fazer e - ainda por cima- fez bem melhor do que você seria capaz. Foi isso o que eu senti, quando soube do texto:
I utilize anthropometric evidence to estimate secular and regional trends in the biological standard of living in Brazil from 1830 to 1960. I utilize two new sources of height data—military records (that capture typical Brazilian males) and passport records (that represent elite Brazilians). I find substantial improvements in the biological standard of living of the middle and lower classes during the period of rapid export-led industrial growth (1870-1913), yet no significant increase for the elite. Furthermore, soldiers from the North and Northeast were consistently shorter than those from the South and Southwest, irrespective of time period. I present preliminary evidence on the climatic variables that underpinned such persistent regional inequity. Rainfall intensity and the absolute temperature range are both economically and statistically significant. The final section concludes the paper and details plans for additional research. (Grifos meus)
(No Abstract, ficou esquisita a expressão "rapid export-led industrial growth". Ficou parecendo que ele acha que as exportações eram industriais. No texto fica claro que não é isso.)




Atualizando

Fui informado que o Manual  foi pirateado. Por consistência, eu não posso reclamar mesmo disso.
Ah, o livro está em primeiro dentre os gratuitos da Amazon.br.  Gracias pela divulgação.

"Manual de Sobrevivência Universitária" de graça

...aqui (kindle br) e aqui (kindle eua). Por tempo limitado! (Eu queria deixar de graça para sempre, mas não sei como fazê-lo).

História Econômica: dois furos meus

Esqueci de divulgar dois eventos sensacionais de amigos:
- O Fábio Pesavento lançou Um pouco antes da Corte: a economia do Rio de Janeiro na última metade dos setecentos em Porto Alegre.
- Putz, esqueci de divulgar o workshop sobre desigualdade no Brasil em perspectiva histórica, organizado pelo Renato Colistete.
Que mancada! Foi mal, amigos.


Old Maps on-line

Você escolhe o lugar e o site mostra mapas antigos do local. (via Michael Clemens).
Ainda relacionado com isso, UrbanDemographics  mostra o que seria do Christaller se ele tivesse o Google Earth.

Mestrado e Doutorado em Economia na UCB

As inscrições estão abertas até 6 de Novembro. Eu dou aulas e oriento na área de Economia Regional, mas garanto que os outros professores são melhores.

Por que os municípios querem se dividir?

Três letrinhas: FPM, o Fundo de Participação dos Municípios. O projeto que regulamenta a criação de novos municípios, aprovado ontem no Senado, é melhor do que a bagunça vigente em alguns estados até 1996. O projeto impõe limites populacionais por região e outras restrições. Até aí, tudo bem.
Porém, a distorção do sistema de transferências que incentiva a emancipação municipal permanece. As regras vigentes, que remontam a 1981, definem faixas populacionais que favorecem os micro municípios  (ver tabela VII, p. 8).
Assim, a divisão de um  município de 50 mil pessoas gera um aumento de 40% no seu FPM (Uns R$6 milhões extras por ano). E se a partição for em oito novos municípios, cada um com 6.250 pessoas? Bem, aí as prefeituras terão mais 140% de FPM (uns R$ 22 milhões)!
Sim, eu sei que existem boas razões econômicas para criar um município. O meu ponto é o seguinte: só consertando as distorções das transferências se poderia distinguir as emancipações legítimas das que se aproveitam de tais falhas.

Saídas de regressão bonitinhas no R

Você perde um tempão reformatando tabelas de regressão? Está com inveja do outreg do stata? Seus problemas acabaram! Chegou texreg para o R.
Basta fazer htmlreg(objeto_saída_regressão) que ele gera um tabela profissa. Ah, faz tabelas LaTeX também. Mais informações aqui.

Atualização: Vanessa Nadalin, minha colega do Ipea, me avisa que a biblioteca não funciona no spdep (o pacote de econometria espacial). Ao que parece, é ainda melhor usar o pacote stargazer, porque ele aceita uma ampla gama de tipos de objeto.

Atualização 2: Nos comentários, Danilo faz coro em favor do stargazer. É bacana mesmo e, se você for ambicioso, ele até gera direto a tabela no formato da American Economic Review. (Eu confesso que estou com um erro esquisito no stargazer. Já fiz o update para versão 4.5, mas o erro segue. Pode ser problema meu.)

Heróis apenas por um dia

Mestre Duílio, que tudo sabe, contou uma história ótima no comentário de um post do blog. Richard Stone, antes de ter  inventado a Contabilidade Social*, foi trabalhar no Ministério da Guerra britânico. Ele percebeu que todos os navios mercantes italianos estavam rumando para portos neutros. Fez a previsão da data em que eles chegariam em tais portos e antecipou para os seus superiores que a Itália declararia guerra em 10 de Junho de 1940. Os superiores não o ouviram e a Itália declarou guerra no dia 10 de Junho de 1940.
Para outras contribuições dos economistas durante a II Guerra, ver o excelente:
 MARK GUGLIELMO (2008). The Contribution of Economists to Military Intelligence During World War II. Journal of Economic History, 68, pp 109-150. doi:10.1017/S0022050708000041. 

* Sim, crianças, alguém teve que inventar as contas nacionais. Isso rendeu um Nobel mais do que merecido para Sir Richard Stone.

Diversos


International Conference on Finance, Banking and Regulation 2014

Call for papers.
Organizado pelos meus colegas da UCB. Divulgai, por favor!

Eu te disse

Eu sou péssimo em previsões econômicas, mas já admirava e recomendava "Capitalismo de Laços" em 2011, antes de virar modinha. Sou um hipster de livro bom. ;-)

A regra dos dois desvios

Ao que parece, a regra será a minha maior (e única) contribuição ao Saber Universal. Eu a reproduzi no verbete "Brigas, críticas e debates" do meu Técnicas Avançadas de Sobrevivência na Universidade. Aí vai:

"
"Nunca brigue se o adversário estiver a mais de dois desvios padrão de você em qualquer dimensão: conhecimento, ideologia, inteligência ou porte físico."
Se você não sabe o que é desvio padrão, nenhum problema. Traduzindo: nunca brigue se o adversário for muito melhor ou pior do que você em qualquer dimensão: conhecimento, ideologia, inteligência ou porte físico.
Se o adversário é muito mais inteligente ou conhece muito melhor o assunto, ouça-o com atenção, faça as perguntas relevantes e aprenda. Não é vergonha. Agora, se o sujeito é burro ou ignorante no assunto, o melhor é desconsiderar. Afinal, qual é a graça de ganhar uma discussão com um cara desses? Não há jeito de se sair bem. Se você vencer a briga, você terá apenas vencido a briga com um idiota. O que, cá entre nós, não é lá grande mérito. Além disso, os observadores sensatos vão lhe julgar como covarde. Agora, se você tropeçar e perder a discussão, você terá perdido para um idiota. O que, também, não vai ficar bem para você. O melhor mesmo é ignorar as críticas cretinas. Ignorar é ignorar mesmo. Nada de ironias. Só um "É, pode ser", já basta.
No geral, lembre-se: a vida é muito, muito curta mesmo para você perder tempo com besteiras. Ao invés de desperdiçá-lo em brigas bobas, leia um livro, passeie ou sei lá... corte as unhas do pé. Certamente é um gasto melhor do seu tempo do que ficar batendo boca ao vivo ou na internet.
Brigue a boa briga pelo motivo certo e com quem merece. Se você tem razão e o adversário merece a sua energia, não hesite em defender a sua posição com neurônios e saliva. No mais, deixe para lá.
As mães ensinam que é feio criticar os outros. Por simetria, achamos que receber críticas também é ruim. Críticas são boas. São boas para quem as recebe. O espírito do argumento do John Stuart Mill para a defesa da liberdade de expressão também é válido no meio acadêmico. Se quem critica estiver certo, tenho a oportunidade de corrigir os erros. Se quem critica estiver errado, sou obrigado a organizar o meu argumento para melhor rebatê-lo. De qualquer forma, só saio ganhando.

Trabalho bom é criticado. Trabalho ruim é ignorado. Nada mais triste do que apresentar algo e provocar apenas o tédio e o silêncio da plateia. Não ter críticas significa que tudo está tão errado que nem vale a pena sugerir ou questionar. Ser criticado é bom, porque significa que o seu trabalho chamou a atenção de alguém. Ouça, pense e incorpore se considerar necessário."

Coisas que eu aprendi sobre a China nesta semana

Joanesburgo, impressões irresponsáveis

A cidade passou no meu teste rápido de boas instituições:
No entanto, o país fracassa no Teste de Theroux. (Pô, mas é o Nelson Mandela. Ele merece tudo quanto é estátua).
Joanesburgo parece mais com o sul da Califórnia do que eu poderia imaginar: estradas largas, condomínios fechados. Tudo muito horizontal e bem disperso. 
Outras surpresas:
  • Soweto é um bairro de classe média;
  • A corte suprema é uma beleza e fica ao lado da prisão barra-pesada do tempo do apartheid;
  • Transporte público bem ruim, mas a infraestrutura urbana é sensacional e bem cuidada;
  • Os ambientes de trabalho são bem mais multi-raciais do que eu esperava;
  • Para fechar, vejam que avanço: em 2000, os sul-africanos redesenharam os municípios para que embarcassem todas as áreas metropolitanas (Sonho meu!).


Produção recente em Economia Regional e o XI Enaber

Este ano fui um dos pareceristas da Anpec na área de Regional e Urbana. Foram 50 trabalhos e tivemos que escolher 18 (número indicado pela organização). Tirando um ou dois artigos aberrantes, a qualidade foi muito boa mesmo.
O que mais me impressionou, contudo, foi o volume de artigos sobre avaliação de impacto que usaram os métodos típicos da microeconometria (PSM, diff-in-diff, descontinuidade, essas coisas). Impressionante o quão rápido as novas gerações se apropriaram do instrumental. Os métodos tradicionais não foram excluídos- e nem deveriam ser - mas as novas ferramentas são mais do que bem-vindas para revitalizar a área.
Ainda sobre congressos: a Economia Regional tem, sem dúvida, o melhor papo de todas as áreas da Economia no Brasil. Não sei o porquê. Talvez, por sorte, os grandes nomes fundadores sejam gente muito boa, ótimos de conversa e atraiam outros caras legais para o campo. (Não me digam que é porque trata-se de um área de baixo status relativo e pequena. Existem áreas com menor reputação compostas por malas-primícia-com-rodinha-quebrada-em-piso-de-pedras-portuguesas).
Enfim, digo isso para explicar a minha tristeza em não rever os amigos no XI Enaber  em Foz do Iguaçu. Três dias para rever os amigos, conhecer outros, estragar o fígado e, sem perceber, aprender um monte. Sucesso e vida longa à ABER

Gary Becker X Lei Maria da Penha

Preços relativos importam. Quer no mercado de bens, quer nos crimes. A Lei Maria da Penha aumentou o custo de agredir uma mulher, mas não o de matar uma mulher. Acrescente a isso o fato de que um mulher assassinada é uma testemunha à menos de agressão e pronto:  a taxa de feminicídios ficou estável ou até aumentou. Enfim, como Tio Becker já sabia, até covardes e doidos respondem à curva de demanda.
O próprio estudo e a CPMI sobre o assunto concordam com a solução: tornar o feminicídio agravante nos casos de homicídio.

Deu no Granma: Cuba com mais jeitão chinês

Eu já tinha ouvido que o plano do Raul Castro é seguir modelo chinês. Dizem também que o complexo turístico-all-inclusive-enche-o-bucho-e-a-cara-em-hotelões-de-rede-internacional de Varadero é seu projeto pessoal. (Faz quase uma década, eu conheci o sucesso do lugar com este fígado cansado que a terra há de comer). Agora parece que a mudança é mais profunda. Acabaram de legalizar a criação da Zona Especial de Desarrollo Mariel. Nas palavras do Granma:
"en dicha Zona se pondrán en práctica políticas especiales, con el objetivo de fomentar el desarrollo económico sostenible estimulando la inversión extranjera y nacional, la innovación tecnológica y la concentración industrial."
O Porto de Mariel já recebeu uma grana boa do BNDES e a Odebrecht toca a obra. Sem o Fidel para trazer insegurança, é provável que dê certo. Por "certo", entenda-se: ganhos de bem-estar para os cubanos, mas concentrados em certos amigos da revolução.

Minha lista de leitura de Economia Brasileira

...para a turma do doutorado da UCB. Pessoal, tendenciosa e incompleta. Aceito sugestões.

Parte 0: Introdução

Preâmbulo:

História como o laboratório da Economia

Cliometria versus abordagem tradicional

A visão adquirida da economia brasileira

Séries históricas da Economia Brasileira

·         REIS, E. et al. O Século XX nas contas nacionais. Estatísticas do século XX, 2002.

·         LEFF, N. H. Subdesenvolvimento e desenvolvimento no Brasil. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1991. 2 v.

Parte I: Temas clássicos da Economia Brasileira

Abordagem econômica da escravidão no Brasil

·         MELLO, P. C. de. Aspectos econômicos da organização do trabalho na economia cafeeira do Rio de Janeiro. 1850-1888. Revista Brasileira de Economia, v. 32, n. 1, p. 43-67, 1978.

·         MELLO; SLENES, R. W. Análise Econômica da Escravidão do Brasil. In: Economia brasileira: uma visão histórica. Rio de Janeiro: Campus, 1980. p. 411.

·         MONASTERIO. FHC errou? A economia da escravidão no Brasil Meridional. História e Economia Revista Interdisciplinar da Brazilian Business School. São Paulo: Terra Comunicação Editorial, v. 1, n. 1, p. 13–28, 2005.

·         REIS; REIS, E. P. As elites agrárias e a abolição da escravidão no Brasil. Dados: Revista de Ciências Sociais, v. 31, n. 3, p. 309–341, 1988.

·         VERSIANI. Brazilian slavery: Toward an economic analysis. Revista Brasileira de Economia, v. 48, n. 4, p. 463–477, 1994.

Custo de transporte e desigualdade regional no longo prazo

·         MONASTERIO. Brazilian spatial dynamics in the long term (1872–2000):“path dependency” or “reversal of fortune”? Journal of geographical systems, v. 12, n. 1, p. 51–67, 2010.

·         Reis, Eustáquio ; Monasterio, Leonardo Monteiro . Mudanças na concentração espacial das ocupações nas atividades manufatureiras do Brasil, 1872-1920. In: Tarcísio R. Botelho, Marco H. D. van Leeuwen. (Org.). Desigualdade social na América do Sul: perspectivas históricas. 1ed.Belo Horizonte: Veredas e Cenários, 2010, v. , p. 243-274.

·         SUMMERHILL, W. R. Big social savings in a small laggard economy: railroad-led growth in Brazil. The Journal of Economic History, v. 65, n. 1, p. 72–102, 2005.

Industrialização antes de 1930

·         Peláez, C.M. História da indústria brasileira. Rio de Janeiro: Apec, 1972.

·         FISHLOW, A. Origens e conseqüências da substituição de importações no Brasil. Estudos Econômicos, v. 2, n. 6, p. 7–75, 1972.

·         SUZIGAN, W. Indústria brasileira: origem e desenvolvimento. São Paulo: Hucitec, 2000.

Crise de 1929 e industrialização

·         SUZIGAN, W. Indústria brasileira: origem e desenvolvimento. São Paulo: Hucitec, 2000.

·         PELÁEZ, C. M. A balança comercial, a grande depressão e a industrialização brasileira. Revista Brasileira de Economia, v. 22, n. 1, p. 15–47, 1967.

·         SILBER, S. D. Política econômica: defesa do nivel de renda e industrialização no periodo 1929/1939. 1973.

Parte 2: Exercícios cliométricos

·         Delfim Neto, Antônio. O problema do café no Brasil. São Paulo, FEA-USP, 1959

·         COLISTETE, R. P. Productivity, Wages, and Labor Politics in Brazil, 1945–1962. The Journal of Economic History, v. 67, n. 01, p. 93–127, 2007.

·         MONTEIRO, S. M. M.; FONSECA, P. C. D. Credibility and populism: the economic policy of the Goulart administrations in Brazil. Estudos Econômicos (São Paulo), v. 42, n. 3, p. 511–544, 2012.

·         NARITOMI; SOARES, R. R.; ASSUNÇÃO, J. J. Institutional Development and Colonial Heritage within Brazil. The Journal of Economic History, v. 72, n. 02, p. 393–422, 2012.

·         KANG, T. H. Instituições, voz política e atraso educacional no Brasil, 1930-1964. Master Thesis, Universidade de São Paulo, 2010.

·         SANTOS; COLISTETE, R. P. REAVALIANDO O II PND: UMA ABORDAGEM QUANTITATIVA. [s.l.] ANPEC - Associação Nacional dos Centros de Pósgraduação em Economia [Brazilian Association of Graduate Programs in Economics], 2011. Disponível em: <http://econpapers.repec.org/paper/anpen2010/190.htm>. Acesso em: 4 ago. 2013.

Parte 3: Temas recentes

Desigualdade regional ou desigualdade pessoal?

·         LANGONI. Distribuição da renda e desenvolvimento econômico do Brasil. [s.l.] FGV Editora, 2005.

·         PESSÔA, S. Existe um Problema de Desigualdade Regional no Brasil?Salvador: ANPEC, 2001

·         SILVEIRA NETO; AZZONI, C. R. Non-spatial government policies and regional income inequality in Brazil. Regional Studies, v. 45, n. 4, p. 453–461, 2011.

·         SOUZA, Pedro Herculano Guimarães Ferreira. Os efeitos das desigualdades regional sobre a desigualdade interpessoal de renda no Brasil, Estados Unidos e México. Texto de Discussão Ipea, no prelo. 2013.

Doença Holandesa ou Doença Soviética?

·         BONELLI, R.; PESSOA, S. A. Desindustrialização no Brasil: um resumo da evidência. Rio de Janeiro: Ibre/FGV, 2010.

·         OREIRO, J. L.; FEIJÓ, C. A. Desindustrialização: conceituação, causas, efeitos e o caso brasileiro. Revista de economia política, v. 30, n. 2, p. 219–232, 2010.

·         SQUEFF, G. C. Desindustrialização: luzes e sombras no debate brasileiro. 2012.  Texto de Discussão Ipea.

Evolução da Produtividade Total dos Fatores

·         BACHA; BONELLI, R. Uma interpretação das causas da desaceleração econômica do Brasil. Revista de economia política, v. 25, n. 3, p. 163–189, 2005.

·         BARBOSA FILHO; PESSÔA, S. DE A.; VELOSO, F. A. Evolução da produtividade total dos fatores na economia brasileira com ênfase no capital humano-1992-2007. Revista Brasileira de Economia, v. 64, n. 2, p. 91–113, 2010.

·         FERREIRA; ELLERY JR, R.; GOMES, V. Produtividade agregada brasileira (1970-2000): declínio robusto e fraca recuperação. Estudos Econômicos (São Paulo), v. 38, n. 1, p. 31–53, 2008.

·         ELLERY. Produtividade total dos fatores e acumulação de capital no Brasil. Revista Economia & Tecnologia, v. 9, n. 1, 2013.

·         Ipea. Boletim especial radar 28. 2013. http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/radar/130911_radar28.pdf

Por que o Brasil poupa pouco?

·         BONELLI, R.; BACHA, E. Crescimento Brasileiro Revisitado. Desenvolvimento Econômico—Uma Perspectiva

·         HOLANDA BARBOSA FILHO, F. DE. Crescimento acelerado no Brasil: as pedras em nosso caminho. ECONOMIA & TECNOLOGIA, 2010.

·         BRESSER-PEREIRA, L. C. Déficits, câmbio e crescimento. Revista Economia & Tecnologia, v. 6, n. 2, 2012.

·         PASTORE, A. C. Câmbio real e crescimento econômico. Revista Economia & Tecnologia, v. 6, n. 2, 2012.

 

Crescimento recente do Estado: ilusão fiscal, rent seeking ou escolha dos eleitores?

·         ALSTON et al.. Changing social contracts: Beliefs and dissipative inclusion in Brazil. Journal of Comparative Economics, v. 41, n. 1, p. 48–65, Fevereiro. 2013.

·         SILVA; SIQUEIRA, R. B. Demanda por gasto público no Brasil no período pós-redemocratização: testes da lei de Wagner e da hipótese de Mill de Ilusão Fiscal. 2013.

·         BARROS LISBOA, M. DE; LATIF, Z. A. Democracy and Growth in Brazil1, [S.d.]. Disponível em: <http://inctpped.ie.ufrj.br/spiderweb/dymsk_5/5.3-10S%20Lisboa%20Latif.pdf>. Acesso em: 24 set. 2013

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