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Livre-comércio X Livre-mercado

Uma certa direita brucutu brazuco-trumpista diz que há diferença entre livre-comércio e livre-mercado.
Besteira. Não há. Um país fechado à importação terá mercados internos não competitivos.

"Ah, mas o Marx defendia livre-comércio." Ele defendia até o colonialismo! Pela sua lógica torta, valia qualquer coisa para acelerar a revolução.

(Um post relacionado: Quando defender a indústria nacional?)

Pergunta séria que só revela a minha ignorância sobre macro e internacional.

Por que, em uma país tão fechado como o nosso, a variação dos termos de troca influecia tanto o desempenho econômico?
O coeficiente de abertura do Brasil é o segundo menor do mundo (ganhamos apenas do Sudão). Eu imaginaria que os termos de troca não fossem tão relevantes assim. Tem enigma ou é só pensar na margem? Alguma sugestão de modelo ou é só uma nassífica ignorância minha?

O Brasil é um país fechado

...mesmo controlando para sua área, PIB, população, indústria e até quando comparado com os demais da América Latina.

The Curious Case of Brazil’s Closedness to Trade
Otaviano Canuto
Cornelius Fleischhaker
Philip Schellekens

Abstract
Although Brazil has become one of the largest economies in the world, it remains among the most closed economies as measured by the share of exports and imports in gross domestic product. This feature cannot be explained simply by the size of Brazil’s economy. Rather, it is due to an economic structure reliant on domestic value chain integration as opposed to participation in global production networking. It also reflects more generally an export base that shows lack of dynamism. Opening up and moving toward integration into global value chains could produce efficiency gains and help Brazil address its productivity and competitiveness challenges.

A China é a maior economia do mundo?

Os novos dados de câmbio poder paridade de compra mudaram as estatísticas. A China quase ultrapassou os EUA e o número de miseráveis no mundo desabou de terça para quarta.A imprensa adorou o assunto.
Contudo, preciso lembrar que não importa saber qual é a maior economia do mundo.  (Essa atenção exagerada talvez seja reflexo da preocupação que a população masculina tem com as dimensões de certa parte da sua anatomia durante um determinado período de suas vidas: da puberdade até a demência senil.).
Não faz sentido comemorar ter ultrapassado um país, ou lamentar ter ficado para trás. Em geral, salvo por considerações patrióticas ou ambientais, quanto mais rico o mundo, melhor para todos. Mais ainda, o fato de outros países terem taxas de crescimento maiores da produtividade ou da renda per capita tem pouquíssimo efeito sobre o nosso bem-estar.
Voltando ao assunto, comparar os PIB dos países usando câmbio PPC é menos errado do que usar taxas de câmbio correntes. O problema é que super difícil estimar o câmbio PPC, mas isso deve ser feito - e é feito - da melhor forma possível.
O meu ponto é: a preocupação com a precisão deve estar não no câmbio PPC, mas no PIB chinês. Essa é a estranha omissão no debate. A maior parte das pessoas acha que é superestimado, o grande Fogel dizia o oposto. Medir o PIB em uma economia que passa por mudança estruturais em velocidade inédita na história humana é uma tarefa ingrata. Ademais, não há incentivos para produzir estatísticas precisas. Prova:  Eu tenho este livro oficial de estatísticas chinesas (eu uso só para impressionar os amigos). A soma da população provincial não bate com o total!
Alguns textos interessantes sobre a questão da ultrapassagem dos EUA estão aqui, aqui ou aqui. Já esse aqui está todo errado.

Deu no Granma: Cuba com mais jeitão chinês

Eu já tinha ouvido que o plano do Raul Castro é seguir modelo chinês. Dizem também que o complexo turístico-all-inclusive-enche-o-bucho-e-a-cara-em-hotelões-de-rede-internacional de Varadero é seu projeto pessoal. (Faz quase uma década, eu conheci o sucesso do lugar com este fígado cansado que a terra há de comer). Agora parece que a mudança é mais profunda. Acabaram de legalizar a criação da Zona Especial de Desarrollo Mariel. Nas palavras do Granma:
"en dicha Zona se pondrán en práctica políticas especiales, con el objetivo de fomentar el desarrollo económico sostenible estimulando la inversión extranjera y nacional, la innovación tecnológica y la concentración industrial."
O Porto de Mariel já recebeu uma grana boa do BNDES e a Odebrecht toca a obra. Sem o Fidel para trazer insegurança, é provável que dê certo. Por "certo", entenda-se: ganhos de bem-estar para os cubanos, mas concentrados em certos amigos da revolução.

Robôs cuidando de idosos: que pena!

Muito triste. Milhões de pobres imigrantes poderiam cuidar dos velhinhos japoneses. Mas o governo japonês não gosta de milhões de pobres imigrantes.
Além da perda de bem-estar dos potenciais milhões de pobres imigrantes, tem outro problema: engenheiros brilhantes ocupados em criar robozinhos e não em inventar outra coisa bacana. Essa distorção na direção do progresso tecnológico nunca é levada em conta. Quem me chamou atenção para isso foi o Lant Pritchett na sua apresentação: Why is the World Such that my Snow Blower is so Cool? (arquivo ppt com  11 megas).
No Brasil de 2050, se tudo der certo (estou otimista hoje), o único jeito será contar com os hermanos vizinhos menos afortunados ou com os irmãos linguísticos da África.  (Não, até 2050 a Google já terá o babel fish e dominar uma língua será irrelevante.)
A propósito, aí vai um poema sobre economia e imigração (em inglês):

"The Bretton Woods Transcripts"

"Eu sou eu e minhas circunstâncias"

Eu já vi isto mais de uma vez. Um maluco no cruzamento faz gestos para os carros pararem e continuarem. Quando o sinal está verde, ele "manda" os carros continuarem; quando está vermelho, faz o gesto para pararem. Na cabeça dele, ele controla o trânsito.
Quem usa os clichês "projeto nacional" e "estratégia de desenvolvimento"  tende a acreditar que é tudo uma questão de "vontade política" do governo. Esse tipo de pensamento tem dois problemas: 1) cai, facilmente, no maniqueísmo ou, na melhor das hipóteses, em falsos dilemas; 2) não correponde à vida como ela é. O gráfico sugere quem conduz o trânsito. (E tem gente que ainda torcia pela queda dos preços das commodities...)

Aqui. Via @drunkeynesian.
PS. Eu sei que a frase do título do post não é apropriada, mas não me ocorreu nada melhor.

Do Chinese Factory Workers Dream of iPads?

Ótimo título, ótimo texto:
We must be peculiarly self-obsessed to imagine we have the power to drive tens of millions of people on the other side of the world to migrate and suffer in terrible ways. China produces goods for markets all over the world, including for its own consumers, thanks to low costs, a large and educated workforce, and a flexible manufacturing system that responds rapidly to market demands. To imagine that we have willed this universe into being is simply solipsistic. It is also demeaning to the workers. We are not at the center of this story—we are minor players in theirs. By focussing on ourselves and our gadgets, we have reduced the human beings at the other end to invisibility, as tiny and interchangeable as the parts of a mobile phone. Chinese workers are not forced into factories because of our insatiable desire for iPods. They choose to leave their farming villages for the city in order to earn money, to learn new skills, to improve themselves, and to see the world. And they are forever changed by the experience. In the latest debate over factory conditions, what’s been missing are the voices of the workers.
A revolução industrial chinesa gerou o maior ganho de bem-estar da história humana. O meu espírito do contra lembra, contudo, que só porque o trabalhador diz que está tudo bem, não quer dizer que está, de fato, tudo bem.
Eu tenho uma métrica para avaliar os países. Quanto mais parecido com  uma Holanda com praia o país for, melhor. Ou seja, o negócio é democracia liberal + capitalismo + welfare + tolerância + sol.
Mesmo que a tal "voz dos chineses" (ou brasileiros ou qualquer outro povo) digam que está tudo bem, eu - autoritário como sempre - digo que não está. E fico um pouco incomodado (Não muito. Apenas o suficiente para satisfazer a imagem falsa que tenho de mim mesmo) com o fato do sujeito que montou o meu iPad viver sem liberdades civis e proteção social.

"Tudo na vida são economias de escala ou custos de transporte"

Diz o velho ditado.
Another critical advantage for Apple was that China provided engineers at a scale the United States could not match. Apple’s executives had estimated that about 8,700 industrial engineers were needed to oversee and guide the 200,000 assembly-line workers eventually involved in manufacturing iPhones. The company’s analysts had forecast it would take as long as nine months to find that many qualified engineers in the United States. In China, it took 15 days
Mais aqui.

Haiti

Sou filho de imigrante boliviano* e admiro a coragem de quem se arrisca em terras desconhecidas. Mesmo se não o fosse, eu continuaria sendo a favor de fronteiras abertas. No caso do Haiti, não é só um caso de lógica econômica. É uma questão humanitária.

 * A propósito, todos somos filhos de imigrantes, né não?

A Grande Realocação é a culpada pela Crise de 2008

A intuição de Noah  é a seguinte (via Marginal Revolution): em termos globais, a entrada da China no mundo tornou a mão-de-obra abundante, fazendo que os esforços se voltaram para a realocação física da produção para a Oriente do que na inovação tecnológica. Todo mundo se beneficiou dessa festa e coisa e tal. Com um tanto de Nova Geografia Econômica e umas pitadas de crescimento endógeno surge uma situação em que o core sai perdendo feio.
Eu realmente não sei o quanto dessa tese está certa, nem como testá-la. De qualquer forma, acho que faz bastante sentido.

Rodrik e a Política Industrial

O Dani Rodrik encontra convergência incondicional na produtividade do trabalho na manufatura. Valeu, mas como poderia ser diferente? Com o comércio internacional bombando resultado é mais do que esperado. (A bem da verdade, o próprio Rodrik reconhece isso no artigo).
O mais questionável no trabalho, contudo, é o viés de seleção. O autor afirma que o resultado sugere que a chave da convergência de renda está na capacidade do país fazer a mudança estrututral na direção da manufatura. No entanto, ele só pega a convergência de produtividade dos que desenvolveram a manufatura a ponto de estarem na base de dados. Se a indústria quebra ou nem chega a se desenvolver no país, ela sai da amostra.
Tem um outro trabalho do Rodrik (com McMillan) apresentado no seminário do Banco Mundial (Via Escolhas e Conseqüências) que vai na mesma direção. Um Powerpoint do debatedor aponta as partes mais problemáticas do argumento de Rodrik e cia. Claro que não sei da réplica, mas achei os pontos bem pertinentes.
Voltando para o caso brasileiro, vale ler o Mansueto sobre a produção de Ipads aqui..A minha posição, vocês sabem, é de que isso passa de cargo cult.

Estados brasileiros renomeados como países (versão Economist)

Quatro anos depois de Davi e eu termos feito nosso humilde mapa, aí vai a Economist e faz um bonitão. (A idéia, claro, não era nossa).

Desindustrialização, reprimarização e outros palavrões

Agora a bronca é com o aumento da participação dos bens primários na pauta de exportações e a solução óbvia seria a desvalorização do real para tornar o setor industrial mais competitivo. Epa, epa, epa. Ora bolas, a desvalorização cambial tornaria as exportações de commodities também mais atrativas e não há garantia que a composição da pauta mudaria em favor dos bens industriais.

A manufatura é necessária para um país?

Chang versus Bhagwati. Eu votei pelo "não".

A divisão da economia em três setores ainda faz sentido?

Cada vez mais me convenço que o esquema Primário-Secundário-Terciário do grande Colin Clark não faz mais sentido. Alguns argumentos:
Every Taco Bell, McDonald's (MCD), Wendy's (WEN), and Burger King is a little factory, with a manager who oversees three dozen workers, devises schedules and shifts, keeps track of inventory and the supply chain, supervises an assembly line churning out a quality-controlled, high-volume product, and takes in revenue of $1 million to $3 million a year, all with customers who show up at the front end of the factory at all hours of the day to buy the product.
Por fim, quanto do valor de um tênis nike de R$500 foi produzido em atividades típicas do setor de serviços: propaganda, design? E o setor agrícola moderno e sua relação com as atividades financeiras, seguros e P&D?
Qual a importância desse meu ponto? Seguinte: se eu estou mais ou menos certo, então não dá para argumentar que a manufatura (entendida como "fábrica com linha de montagem e chaminé") é o motor do desenvolvimento.

Xie Xie, China

Exportações por região brasileira em US$ correntes (1995=100)
(HT Batistuta).



Quando começam o papo sobre tarifas de importação e de exportação...

...é hora de lembrar de uma das aulas de Economia Internacional: o Teorema da Simetria de Lerner. O velho teorema diz que uma tarifa de exportação é equivalente a uma tarifa de importação. Ou seja, se colocarem uma tarifa sobre o minério exportado, as importações ficarão também mais caras (em R$).
Uma explicação legal está aqui com direito à graficos bem representativos.
A propósito, acabei de esbarrar no blog Faint of Heart e achei ótimo. Vai para o blogroll!

Por que eu não acredito em pesquisas de opinião?

Por resultados como esse. Chuto que a compreensão de "livre mercado" varia tanto entre os países (ou mesmo entre os indivíduos) que a comparações ficam sem sentido.
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