Diversos

Mantega, Guido. Em: Custo Brasil: mito e realidade. 1997
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"Streets are not a city’s veins but its neurology"

Adam Gopnik escreve sobre Jane Jacobs. O melhor texto que li no ano:
"The Jacobs street, a perfect reflection of the miracle of self-organizing systems that free markets create, becomes a perfect reflection of the brutal and unappeasable destruction that free markets enforce."
Eu tirei foto da casa em Nova Iorque em que Jane escreveu o clássico "Morte e Vida de Grandes Cidades" . É significante que o local tenha virado uma imobiliária e, nos anos 90, ela reconheceu que não teria mais dinheiro para lá morar.


555 Hudson Street. Tive que pedir para uma moça que pedia dinheiro para o Greenpeace para sair da frente da casa e não atrapalhar a foto. Ela me olhou como se eu fosse maluco por querer fotografar o local.

Manual: uma boa notícia e um pedido

A boa notícia é que a nova edição do Manual de Sobrevivência na Universidade -  atualizada e 40% mais longa-  será publicada em papel por uma editora no ano que vem. Agradeço todas as sugestões e avaliações que o ebook recebeu enquanto estava na Amazon. (Exceto a do sujeito que deu duas estrelas e escreveu algo como "Muito útil, mas só vale a pena ler o livro uma vez". )
O pedido: eu gostaria que o livro fosse apropriado para outras áreas, além da Ciências Sociais Aplicadas. E, para isso, preciso de leitores com experiência em outros campos da vida acadêmica. Quem puder ajudar, por favor, coloque nos comentários o email e a área de atuação para que eu envie verbetes selecionados para validação e sugestões. (Sei que vai ser difícil, uma vez que a maior parte dos 38473234432 leitores do blog são da área de Economia, mas imagino que conheçam outras pessoas)

Os benefícios do FIES

Wilsimara Rocha, Philipp Ehrl e eu estimamos o ganho salarial dos beneficiados pelo FIES´usando PSM. Os resultados foram publicados aqui. (Estamos trabalhando em outra versão, mais parruda e completa.) Antecipando: o limite superior da estimativa é de uns R$307 por mês a mais para quem usufruiu do FIES.
Quem se interessar pelo tema, deve olhar os outros artigos  do Boletim Radar sobre o FIES, com artigos bacanas do pessoal de educação do Ipea e um texto de Vinícius Botelho e Samuel Pessoa.

Los Angeles: uma avaliação generosa

Los Angeles é feia. Muitas áreas tem aquele jeitão de cidade de renda média: fios elétricos à vista, poucas árvores e uma repetitiva falta de padrão. Totalmente voltada para os carros, suas quadras imensas, com  ruas principais largas demais, afastam os pedestres. Em cada área comercial, a mesma repetição de cartazes mal feitos e que misturam as grandes marcas conhecidas, com propagandas de lojas que ninguém gostaria de ter como vizinhas. Sem contar os imensos cartazes de propaganda do último filme ou show do Netflix. Tudo feio mesmo.


Nem as atrações são lá grande coisa. Hollywood Boulevard, Chinatown e Venice são como zoológicos em que turistas vão em busca de estrelas ou do exótico e só os encontram em versões fajuta, cansada e fracassada. Até em Beverly Hills, é mais provável encontrar outros ônibus de turismo do que uma celebridade. (A propósito, não vi nenhuma). A cidade tem lá um centro, mas é melhor que não tivesse. É o inferno para dirigir, tem uns três prédios interessantes, mas os habitantes só vão para lá a contragosto. Apesar de ser tão antiga quanto San Francisco, a cidade não faz qualquer esforço de guardar seu passado: o estúdio principal do Chaplin hoje é ocupado por uma padaria sem qualquer referência ao fato. Ou seja, não há muito o que ver e imagino que os turistas saiam de lá não muito satisfeitos.

Mas a cidade é bem mais do que isso e muito melhor do que o primeiro contato faz crer. A Grande Los Angeles tem uma área de 87 mil km2,o que equivalente a dois estados do Rio de Janeiro. Vivendo lá é possível descobrir a diversidade de suas vizinhanças. Só para ficar nas étnicas: Artesia, a área dos imigrantes indianos, tem supermercados inteiros voltados para a comunidade. Koreatown é ainda maior, com shopping centers e toda cultura local. Existem até uma área que concentra os imigrantes de Belize. A diversidade é o principal atrativo de Los Angeles.

Aldous Huxley disse que a Los Angeles era composta por 19 subúrbios em busca de uma metrópole (Não, a frase não é da Dorothy Parker). A frase está errada porque essas vizinhanças estão satisfeitas em si mesmas. As dimensões em área e população são tão descomunais que as tornam autossuficientes. Quase tudo pode ser feito na sua própria vizinhança. Mais ainda, concordo com o Tyler Cowen: é uma ótima cidade para caminhar. Não para flanar. O jeito certo é ir de carro para alguma dessas vizinhanças e lá caminhar.

E, acima de tudo, Los Angeles é uma cidade que funciona. Sim, às vezes os engarrafamentos são infernais, mas as freeways ligam as vizinhanças de um jeito relativamente eficaz. A prova disso é que a proximidade com uma das grandes vias é um atrativo locacional. A cidade prova que não existe um só jeito de uma cidade funcionar. Nem todas as cidades serão compactas, densas e baseadas em transporte público. Jane Jacobs é bacana, mas não é a solução geral.

A cidade me mostrou que economias externas não precisam de uma densidade extrema. E ela- tal como qualquer cidade que funciona- está mudando. A mesma Venice dos turistas e dos doidões cansados, virou um micro Silicon Valley, com direito a Google (ocupando o hangar em que o Spruce Goose foi construído), e uma penca de empresas startups que deram certo, como a Snapchat.

Uma ironia: o sprawl de Los Angeles é o resultado do transporte público. Foi o sistema de bondes que fez com que as pessoas fizessem o seu sonho. Morassem longe, em casas grandes, mas com bom acesso  ao resto da cidade. (O carro e as freeways só chegaram depois. O documentário Uma cilada para Roger Rabbit explica a conspiração que teria acabado o sistema de bondes (apesar da versão ser questionada). Ainda hoje, contudo, a cidade tem o terceiro maior sistema de transporte público dos EUA em número de passageiros.

Sobre a história de Los Angeles, recomendo muito esse filme de 1972: Reyner Banham Loves Los Angeles:

Para uma visão contemporânea e também apaixonada da cidade, sugiro  City of Gold, sobre Jonathan Gold, o sensacional crítico gastronômico de Los Angeles.

Salário médio dos trabalhadores com nível superior pode cair mesmo que todos formados tenham aumento? Sim!

Imagine que havia dois países: um rico e outro pobre. É possível que o consumo per capita de grãos caia, mesmo que ambos países tenham aumentado o consumo por habitante?
Por incrível que pareça, sim. Imagine que os habitantes do país rico comiam 20 quilos por habitante e os do pobre, 10 quilos e que ambos tinham a mesma população (1 milhão). A média de consumo per capita é 15 quilos, né? (20*1+ 10*1)/(1+1). Cinco décadas depois, o país rico apenas dobrou de população enquanto a população do pobre foi multiplicada por 8. E suponha que o consumo do país rico aumentou para 21 quilos e o consumo do país pobre passou para 13 quilos. Como fica o consumo per capita do agregado? =(21*2 + 13*8)/ (2+8)= 14, 6. Viram? Mesmo que ambos os países tenham tido um aumento, as mudanças na composição fizeram com que a média agregada caísse de 15 para 14,6 kg por habitante!
Pela mesma razão, o salário médio dos trabalhadores com nível superior pode cair, mesmo que todos os formados tenham aumentos salariais. Para isso ocorrer basta que os recém-formados tenham salários mais baixos do que os formados já empregados.
(Esse é um trecho de um texto didático que tinha escrito faz tempo. Ficou claro? Eu acho que li esse exemplo dos cereais no livro do Lomborg. Há outra interpretação causal do Paradoxo de Simpson, mas aqui fico só no efeito da agregação/composição)

Sobrenomes e ancestralidade no Brasil

O meu Texto para Discussão Ipea está on-line:
TD 2229 - Sobrenomes e Ancestralidade no Brasil 
Este trabalho apresenta um método de classificação da ancestralidade dos sobrenomes dos brasileiros nas seguintes classes: ibérica, italiana, japonesa, alemã e leste europeia. A partir de fontes históricas diversas, montou-se uma base de dados da ancestralidade dos sobrenomes. Essas informações formam a base para a aplicação de algoritmos de classificação de fuzzy matching e de machine learning nos mais de 46 milhões de trabalhadores da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) Migra de 2013. A imensa maioria (96,4%) dos sobrenomes únicos da Rais foi identificada com o processo de fuzzy matching e os demais com o método proposto por Cavnar e Trenkle (1994). A comparação dos resultados do procedimento com dados sobre estrangeiros no Censo Demográfico de 1920 e a distribuição geográfica dos sobrenomes não ibéricos reforçam a acurácia do procedimento.
Comentários são - como sempre- bem-vindos!
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