Mostrando postagens com marcador Brasília. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Brasília. Mostrar todas as postagens

Brasília à noite

Foto tirada ontem pela astronauta Samatha Cristoforetti que está na ISS.
Vejam que a foto reforça o meu ponto de que a cidade não é tão planejada assim. O desenho original está cada vez menos evidente.

"Brasília não é tão ruim quanto parece"

No ótimo filme -  e bizarramente intitulado no Brasil - Creizipipol, o Dudley Moore é um publicitário surtado que passa a criar slogans sinceros. Ele bola um lema novo  para Nova Iorque. Era algo como "NYC: matamos menos gente do que ano passado".
"Brasília não é tão ruim quanto parece" seria um bom slogan. Na cidade, a diferença entre visitar e morar é imensa. Outras capitais brasileiras mostram ao visitante de cara o que é morar lá . (Já morei em RJ, SP e POA). Em Brasília, contudo, se você se hospedar em  um dos setores de hotéis e passar o dia na Esplanada terá um visão horrível da cidade. Parece que você está em uma árida distopia futuristacomunistacomarquitetosmelhoresdoqueosrussos, com um sol de rachar, serviços ruins e preços ridículos.
De perto, morando aqui, você descobre que na cidade a vida é normal, arborizada,  não é tão planejada assim e tem até boas surpresas gastronômicas.
(Sim, o DF também é mais um caso do que a literatura sobre federalismo indica: quando maior a receita de transferências do governo, pior a administração) 

Um restaurante indiano de verdade em Brasília

É um verdade universalmente reconhecida que um restaurante indiano torna a existência mais suportável. Felizmente, agora Brasília tem um que não faz feio. É o Taj Mahal. O dono/cozinheiro veio de Kerala- aquela província famosa pro pessoal de Desenvolvimento-  direto para cá (sei lá o porquê).
O nome é clichê, o cardápio também tem só o basicão, mas é suficiente para consolar a alma. São cardápios fechados  (entre uns 35 e 50 reais) com salada, samosas, curry e a sobremesa (eu, que nem gosto de gulab jamun, adorei o servido lá). O lassi também estava excelente, nada daquele iogurte aguado que servem por aí.
Fica longe (uns 30 minutos do Plano Piloto) dentro de um lugar meio de Humanas chamado Aldeia da Terra,  mas vale muito a viagem. Dicas:
- Eu acho que precisa reservar. Eles entendem português básico; talvez seja melhor falar inglês;
- Eles já se adaptaram e pegam leve na pimenta. Mas dá para pedir realmente spicy;
- A água e o  masala tchai, bem bom, estão incluídos na refeição;
- Não aceitam cartão de crédito ou débito.

Brasília não é uma cidade planejada

Claro que é. Reformulo: a Brasília real não seguiu fielmente plano original de Lúcio Costa.  Que bom.
O visitante que fica só no roteiro entre os setores hoteleiros e A Esplanada ou A UnB verá apenas a faceta Brasília olha-como-sou-muderna-stalinista-tropical-e-agora-tenho-shopping. A outra faceta, muito melhor, é a do improviso, da ordem espontânea, do mercado, da fuga do plano.
Esse plano geralmente só é visto por quem mora na cidade. Ao redor da minha quadra existe: barraca de frutas, costureira, chaveiro, trocador de palha dos móveis; tudo ilegal. (Tem até seus personagens públicas e um quê de vizinhança janejacobsiana ). No árido Setor Bancário Sul, há venda de saladas de frutas (ótimas),  pamonhas, sapateiros, relojoeiros e o escambau.
Daria para fazer um roteiro por Brasília apenas com serviços fora-do-plano, incluindo hospedagem. Só para ficar nos restaurantes, aí vai uma lista incompleta de dicas:
  • O excelente Jambu, o melhor restaurante da cidade, fica na Vila Planalto, um bairro de invasão, menos de 2 km distante do Palácio do Planalto. O bairro está sendo gentrificado e já tem vários restaurantes bons. Para comida popular, tem o da Tia Zélia- que eu acho apenas bom e meio superestimado.
  • O Quituart , um galpão com vários pequenos restaurantes (uns bem bons) também fica em uma local totalmente irregular do Lago Norte.
  • O boteco  Amigão , o preferido do Tyler Cowen quando aqui esteve, pode até estar dentro da lei, mas tem  pinta de que não está.
  • Mesmo os restaurantes das quadras ocupam áreas que não são deles. O Faisão Dourado (peça o espetinho completo de filé) ocupa irregularmente todo um jardim com mesas.

Brasília não é uma cidade planejada

Veja a Vila Planalto. Fica no Plano Piloto, a menos de  2 km do Palácio do Planalto e a 3 km do Alvorada. Completamente fora do plano inicial, o bairro é tão antigo quanto a cidade e só agora foi regularizado.  Já está rolando a gentrificação e surgiu um pólo de restaurantes bem bonzinho. Alguns são um pouco sobrevalorizados, mas valem a pena conhecer. O Tia Zélia rende um paper de Sociologia.
Outras ilegalidades tornam a cidade bem melhor do que os planejadores gostariam. São barraquinhas, varandas, restaurantes, hotéis e casas irregulares.
A moral da história é muito velha. O microplanejamento não dá certo. Ou melhor, ele dá certo - em sentido mais profundo - justamente porque não alcança seus objetivos. Os esforços de contornar ou confrontar o plano são o mais legal da cidade.

"36 hours in Brasília", meus pitacos

Eu postei meus pitacos sobre o artigo do New York Times sobre Brasília lá na versão deste blog na língua de Joel Santana.

The Great Stagnation - Tyler Cowen

O livro já teve tantas resenhas que eu não tenho (quase) mais nada a acrescentar. A idéia central é que os países ricos teriam entrado em uma nova fase de baixo crescimento do PIB/capita medido. Minha posição inicial era bastante cética. No final, ele me convenceu.
Para os brasileiros, a preocupação com a Great Stagnation não é imediata porque ainda podemos crescer muito com catching-up. O bicho vai pegar mesmo daqui a umas duas décadas quando o bonus demográfico tiver desaparecido de vez e o progresso tecnológico tiver arrefecido. Aí eu quero ver como segurar a previdência social.
(A propósito, ao vivo, o Tyler Cowen é tão gente boa, interessante e inteligente quanto no blog. Ele passou uns dias aqui em Brasília em abril e foi muito bacana mesmo)

Google Hotpot

O mercado do Yelp para o Brasil estava vago. O Qype e Quero Comer não chegaram a decolar. Eu só descobri agora o Google Hotpot , mas achei duca.

Brasília para turistas

Brasília não é tão ruim quanto parece. Eu acho que esse deveria ser o lema da cidade. A vida nas quadras é bem melhor do que imagina quem só conhece o setor hoteleiro e as atrações no eixo monumental. Vivo aqui faz dois anos e sou bem feliz. Uma caminhada pelas Superquadras (sugiro a SQS 308 e redondezas) ao cair da tarde mostra como é a vida de quem mora no Plano Piloto.
A cidade é muito cara, mesmo quando comparada ao Rio e São Paulo. Eu acho que só noruegueses são capazes de achar os preços locais acessíveis. Mesmo assim, dá para se divertir e passear.
Seguem minhas dicas gastronômicas:
  • Cozinha étnica: apesar das embaixadas, a população é bastante homogênea e, portanto, é complicado encontrar restaurantes étnicos bons. Um restaurante chinês bem próximo a um de seu país de origem é o Palace Long Fu na Academia de Tênis. Aceitável. Servus é um ótimo restaurante austríaco. O restaurante é bem escondido, fica a uns 40 minutos do centro e só abre nos finais de semana. (Reservar é essencial. telefone 3339-6180).
  • Comida regional: Mangai é o que todo mundo gosta e recomenda. Eu também, porém o meu predileto é o Macambira (SCRLN 714 bloco F loja 22). O lugar é pequeno, mal localizado, simplão e só abre para o almoço. Não chega a ser tão bom quanto o Mocotó (em São Paulo), mas a idéia é a mesma. O Tia Zélia na Vila Planalto é bom, mas nada demais também (abre só para almoço de segunda a sexta).
  • Meu boteco predileto é o Piauí, mas não tenho qualquer motivo para defendê-lo. Ainda na categoria, o Bar do Amigão tem uma ótima feijoada e é um boteco, mas - mentalmente - eu ainda o coloco na categoria "restaurante". A propósito, eu não recomendo o famoso Beirute. Comida e atendimentos ruins.
  • Eu nunca fui ao Aquavit (escandinavo). Os preços são comparáveis a um restaurante duas estrelas na França. Eu vou esperar pela próxima crise cambial para conhecê-lo.
Transporte:
  • O transporte público é bem fraco, salvo em alguns trajetos. Durante o dia, nos deslocamentos no eixo Norte-sul ainda dá para usar os ônibus, metrô ou os micro-ônibus (vulgo zebrinha);
  • O rádio taxi 3321-3030 oferece desconto de 30% em relação ao preço do taxímetro. (Ao chegar no aeroporto, ligue e eles te buscam em segundos em frente a lotérica);
  • Eu usei muito a Opção autolocadora e nunca tive qualquer reclamação. É bem familiar, acho que não tem muitos carros, mas oferece um ótimo seguro e bons descontos para o final-de-semana. (Atualização: veja os comentários para a opinião de um cliente que não saiu satisfeito).
Hospedagem:
Quando eu lembrar de outras dicas, atualizarei o post.
Tecnologia do Blogger.