Mostrando postagens com marcador Cliometria. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Cliometria. Mostrar todas as postagens

Skill concentration and persistence in Brazil por Ehrl e Monasterio

Texto novo do Philipp e meu na Regional Studies

"This paper links the past and present regional concentration of skills using the spatial distributions of occupations from the Brazilian censuses of 1872, 1920 and 2010. The data indicate that the concentration of top skills is highly persistent. Multivariate regressions show that regions with a high concentration of industrial and liberal occupations in the past have a high concentration of interpersonal, analytical and cognitive skills today. Moreover, it is observed that skill persistence seems to be positively related to market size. Controlling for natural advantages, the dependence on slave labour and immigration in the past does not undermine the relevance of the historical skill distribution"

A history of inequality: Top incomes in Brazil, 1926–2015 por Pedro Souza

Acabou de sair o paper da já clássica tese do Pedro Souza:

A history of inequality: Top incomes in Brazil 

This paper uses income tax tabulations to estimate top income shares in Brazil over the long run. Between 1926 and 2015, the concentration of income at the top remained very high, following a sine wave trend: top shares ebbed and flowed over time, frequently in tandem with political and institutional disruptions. There is some evidence in favor of Williamson’s “missed leveling” hypothesis regarding the origins of Latin America’s exceptionally high levels of inequality, but the recent decline in inequality is cast in a more dubious light, since top income shares remained quite stable since 2000 and the "tax-adjusted" Gini coefficients show a smaller and shorter, though still sizeable, decrease. The nature of the political regime matters, but democracy is not a sufficient condition for redistribution. Brazil’s tumultuous political history suggests top income shares change substantially mostly during political-institutional crises, when the typical quid pro quo of more liberal regimes in normal times collapses. I complement the analysis with international comparisons and a discussion of the role of institutions in shaping inequality.

The Monetary and Fiscal History of Latin America

O Becker-Friedman Institute organizou estudos de caso para diversos países da América Lática. O brasileiro foi feito pelo Márcio Garcia (entre outros autores).

Papers do V workshop de história econômica

Opa! Os papers apresentados no evento já estão no site do Insper! via @thaleszp

Como era o Brasil Império?

Todo mundo têm o direito de ser monarquista, flamenguista ou cambista.  Só não dá para ser vigarista. Esbarrei em textos sobre o Império que inventam números absurdos. Vamos aos fatos.

Aspectos econômicos:
  • O Brasil era muito pobre. Em 1872, Brasil tinha PIB per capita menor do que a Somália de hoje. Não era só que o Brasil era pobre, mas o país ficou para trás perante o resto do mundo durante o Império. Em 1820, Brasil tinha o 18o PIB per capita dos 48 países sobre os quais há dados.  Em 1870, nosso país era 42o. de 67 países. A comparação com os EUA também mostra o mesmo fenômeno: o país passou de 50% do PIB per capita norte-americano para pouco mais de 20% (Maddison).
  • Rola no submundo da internet que a Economia Brasileira era a 4a do mundo no Império. Lorota. Era a 22a do mundo. Vejam a lista:

  • Não havia equilíbrio fiscal. É verdade que o Império não era caloteiro, mas a dívida interna passou de 14 mil contos de réis (1830) para 434 mil contos (1889) (Ordem do Progresso, p 23). Além disso, veja o que aconteceu com a dívida externa:


  • O gráfico acima foi retirado do sensacional "Inglorious Revolution – Political Institutions, Sovereign Debt, and Financial Underdevelopment in Imperial Brazil", do William Summerhill: 

 
  • A capa do livro, a propósito, representa o Governo Imperial distribuindo crédito para os cafeicultores às vésperas Abolição.
  • Os preços pelo menos dobraram no Brasil entre 1830 e 1889. Nos EUA , caíram 10% e na Inglaterra, 30% no mesmo período. (Fonte: Ordem do Progresso, p. 19.)
Aspectos sociais:
  • Em 1872, 16% da população era escrava (Censo de 1872). Sempre é bom lembrar que o Brasil foi o último país do Ocidente a acabar com a escravidão. ("Ah, mas a MembroDaFamíliaReal era contra a escravidão". Nenhum mérito. No século XIX, todo mundo já se pronunciava contra a escravidão);
  • A expectativa de vida  ao nascer era de 27,4 anos (Mello, P. C. (1984). A economia da escravidão nas fazendas de café: 1850-1888. PNPE: Rio de Janeiro.)  e 85% do brasileiros eram analfabetos (Censo de 1872); 
  • Após a Lei Saraiva (1881) só 1,5% da população votou. Antes, é verdade, até que se votava bastante no Brasil, quando comparado a outros países do mundo.
  • Claro que todos os dados  aqui representados são imperfeitos. Os dados de PIB, por exemplo, são muito criticados e talvez realmente estejam subestimados. Contudo, por maiores que sejam os erros, eles não são suficientes para transformar o Brasil nessa maravilha do século XIX que os monarquistas querem pintar.

"Coffee, Immigrants and Growth in Brazil" por Anna Faria

How does an agricultural commodity affect development? Exporting commodities have generally been thought of as curses. I argue that the late nineteenth century coffee boom in Southeast Brazil triggered a mass European migration and transformed the local economy into a commercial society, both of which contributed to local development. I find that immigration left a local legacy of higher incomes, better public goods provision and higher quality fiscal governance, and that coffee affected development indirectly through its impact on immigration.

O declínio do charque no RS: eu estava errado

O Thales acabou de publicar:

 Was it Uruguay or coffee? The causes of the beef jerky industry's decline in southern Brazil (1850 - 1889)
ABSTRACT: What caused the decline of beef jerky production in Brazil? The main sustenance for slaves, beef jerky was the most important industry in southern Brazil. Nevertheless, by 1850, producers were already worried that they could not compete with Uruguayan industry. Traditional interpretations attribute this decline to the differences in productivity between labor markets; indeed, Brazil utilized slave labor,whereas Uruguay had abolished slavery in 1842. Recent research also raises the possibility of a Brazilian "Dutch disease",which resulted from the coffee export boom. We test both hypotheses and argue that Brazilian production's decline was associated with structural changes in demand for low-quality meat. Trade protection policies created disincentives for Brazilian producers to increase productivity and diversify its cattle industry.
No texto "FHC errou? a economia da escravidão no Brasil meridional", eu defendi a ideia de que - ao contrário do que o FHC escreveu - a culpa pela decadência do charque não estava no uso de trabalho escravo. O problema seria o boom do café que valorizou o câmbio. Como o Brasil não era uma área monetária ótima, houve um tipo de Dutch Disease nas charqueadas.
Usando dados novos e econometria de séries temporais (e não o babláblá do meu texto), o Thales mostrou que eu (e o FHC também ) estávamos errados.  Nem a escravidão, nem o câmbio explicam o declínio do charque gaúcho. Foi um fenômeno global e no Uruguai houve maiores ganhos de produtividade e de qualidade.
Parabéns, Thales, ótimo texto!

Diversos: só história econômica

"Como realizar pesquisa com cliometria?"

Recebi o convite por email para responder essa pergunta lá no novo site PRorum. (Pelo que entendi, é iniciativa do Daniel Cajueiro, um dos mais citados pesquisadores da área de economia (e super gente boa.))
Bom, aí vai a minha resposta:
"Hoje não há mais grande diferença entre a pesquisa  cliométrica e o restante da Economia. Nos anos 60, era inovador pensar em hipóteses testáveis e contrafactuais na pesquisa histórica. Hoje, isso é o padrão. Qualquer número do  Journal of Economic History mostra que a hisória econômica compartilha os métodos das outras áreas. E a maior parte dos textos recentes também incorpora as ferramentas da Revolução da Credibilidade: variáveis instrumentais, descontinuidade, diff-in-diff e outras.  Uma prova da convergência da história econômica com o restante é que boa parte dos novos textos foram publicados nos top journals gerais da economia (AER, QJE...)
A principal diferença da pesquisa cliométrica é no valor que se dá à coleta de dados históricos. Mergulhar nos arquivos públicos, publicações esquecidas, fontes históricas obscuras é muito bem-vindo. (Solow escreveu que o historiador econômico era o pesquisador com alta tolerância ao pó. Hoje, graças às fontes digitalizadas no Brasil e fora até os asmáticos podem trabalhar na área.).
Há muito o que fazer em história econômica no Brasil. Há muita opinião e pouca evidência empírica. Até mesmo os Censos oficiais não foram devidamente explorados. Isso tudo é ótimo. Significa que existe muito dado de acesso fácil que apenas aguarda pesquisadores motivados e bem treinados no instrumental da pesquisa empírica.
Em termos mais práticos, além de conhecer as ferramentas (micro, macro e econometria...), a dica é ler:
  • Os números recentes do Journal of Economic History para aprender o jeito de pensar e escrever dos pesquisadores atuais;
  • A literatura tradicional brazuca em história econômica e questionar: a) há evidências para as afirmações?  b) o que o autor afirma está de acordo com algum modelo econômico sensato? Esse exercício serve para sugerir problemas de pesquisa.

"Mortalidade entre brancos e negros no Rio de Janeiro após a abolição" por Thales Zamberlan Pereira

Eu não imaginava que as diferenças fossem tão grandes. No caso da tuberculose, a mortalidade média dos brancos era 294 e a dos negros, 2317 por 100.000 habitantes entre 1907 e 1916. Segue o resumo:
O objetivo deste artigo é analisar a diferença de mortalidade entre brancos e negros no Rio de Janeiro durante os primeiros anos da República brasileira. Utilizam-se dados de mortalidade de doenças relacionadas a condições precárias de moradia e acesso à infraestrutura como um indicador de desigualdade econômica. Apesar de o Rio de Janeiro possuir taxas de mortalidade declinantes durante o início do século XX, não ocorreu convergência entre a população branca e negra. Além disso, a análise quantitativa apresenta evidências que doenças que afetavam mais a população pobre, como a tuberculose, aumentavam indiretamente a probabilidade de morte por outras doenças, fenômeno conhecido como Mills-Reincke. Isto sugere que a taxa de mortalidade para a população não branca pode ter sido previamente subestimada. 

Immigration and local performance in the long-run: the role of ancestry

Essa foi a apresentação de ontem no proseminar de Economic History da UCLA. Ainda não tenho paper e os resultados ainda são muuuito preliminares mesmo.
Comentários, como sempre, são bem-vindos.

A culpa é da mandioca

Ótimo artigo sobre os determinantes do desenvolvimento no longo prazo.  A batata era a heroína do crescimento europeu, mas agora os tubérculos são os culpados pelo atraso mundo. O argumento é que as batatas são difíceis de serem roubadas; já o cereais, como não são perecíveis, tem que ser protegidos (e também podem servir para pagar os impostos). A matéria ficou interessante porque ouviu também os críticos dessa tese.
Dois pontos adicionais:
- Thales Zamberlan, que me mandou o link, chamou atenção para um possível erro nos dados. Brasil consta nos mapas da matéria e do artigo como sendo uma área propensa aos cereais e com governo complexo antes do Cabral chegar. Estranho. Se erraram isso...
- Os índios brasileiros faziam farinha de mandioca aos montes e, mesmo assim, nunca desenvolveram Estados complexos. (Obrigado pela farofa, a propósito. Talvez a única coisa que sinto falta em Los Angeles).

The cotton boom and slavery in 19th rural Egypt por Saleh

Paper bacana sobre os impactos da guerra civil americana na escravidão no cultivo do algodão no Egito. (A abolição também chegou tarde por lá: 1877. Fiquei surpreso, pois, baseado no modelo de Domar, eu chutaria que teria terminado bem mais cedo.)

Ancestry in Brazil: a surname based method

Aí vai o que andei fazendo nos últimos meses. Apresentei ontem no seminário organizado pelo William Summerhill.
Tudo ainda é super preliminar e os resultados certamente mudarão ao longo do tempo. Comentários e  sugestões são - como sempre - mais do que bem-vindos.

Diamonds are Forever: Long-Run Effects of Mining Institutions in Brazil por Marcelo S. Carvalho

This paper uses a regression discontinuity approach to investigate whether a set of colonial policies adopted in the Diamond District of colonial Brazil have long-run impacts on development. Results regarding household income are still inconclusive. On the other hand, the estimated effects on adult literacy and light density from satellite images are positive. I also try to explore potential channels through which this historical event might influence the present. Using a geospatial road location database, I find that observations inside the District’s historical boundaries have denser road networks. Additionally I use microdata from the 1830s to show that slavery was more intense in untreated villages, which has been related in the literature to underdevelopment.
Super legal. Ótimo ver a novíssima geração - o google me diz que o autor é mestrando na USP- fazendo pesquisa em história econômica do jeito contemporâneo (com direito a GIS, imagem de satélite e os escambau).
HT Shikida e William Summerhill.

"The longevity of famous people from Hammurabi to Einstein" de la Croix and Licandro

Pare de reclamar da vida e dê uma olhada na expectativa de vida

...na Inglaterra entre os séculos XVI e XVIII. Não só era baixa, como caiu ao longo do tempo.
















Fonte:
Voigtländer, Nico, and Hans-Joachim Voth. "The three horsemen of riches: Plague, war, and urbanization in early modern Europe." The Review of Economic Studies 80.2 (2013): 774-811.
O trabalho é ótimo. Eles mostram que houve - durante certo tempo- uma relação direta entre renda per capita e mortalidade na Europa (mas não na China).
 (Como vocês podem intuir, eu estou fazendo um curso de História Econômica Ocidental aqui na UCLA).

Expulsar os muçulmanos não foi uma boa ideia

No dia 22 de setembro de 1609, a Coroa Espanhola decidiu expular 300 mil muçulmanos. O senhores feudais eram contra, porque esses infelizes eram taxados em  até 40%, bem mais que os cristãos. Os mouros foram escoltados para fora do reino levando só o que pudessem carregar.
O resultado? Demorou quase uns 200 anos para a população das localidades mais atingidas se recuperar. O produto per capita se convergiu relativamente mais rápido (em parte porque o denominador - as capita - caiu).
A história está contada no texto de Chaney e Hornbeck: Economic Dynamics in the Malthusian Era:Evidence from the 1609 Spanish Expulsion of the Moriscos. Até quem não curte a econometria gostará da parte histórica do artigo.

Casou tarde? Culpa da Peste Negra

É o que dizem Voigländer e Voigt. Ao matar um terço da população europeia, a Peste fez com que o trabalho das mulheres solteiras fosse demandado, especialmente na criação de animais. Isso postergou o casamento e a taxa de natalidade despencou. Por sua vez, esse mecanismo colaborou para que  saíssemos da armadilha malthusiana.
Alguns dados:
In the Roman Empire, age at first marriage was 12–15 for pagan girls, and somewhat higher for Christian girls. Herlihy (1985) estimates that by 500 ad, the average marriage age for women in Western Europe was 18–19 years. During the Middle Ages, this number may have been slightly higher than in Roman times... European Marriage Pattern, with the age at first marriage postponed to 25 or beyond, only emerged after the Black Death.  
 Outra coisa: a família nuclear já era dominante na Alta Idade Média. E  gente boa sustenta que ela induziu o nascimento das corporações (no sentido de empresas modernas). 

O aumento da segregação espacial por raça nos EUA

Os dados dos Censos dos EUA permitiram um estudo super bacana: olhar quem era vizinho de quem. O estudo (resumo aqui) mostra que a segregação racial medida como "qual a probabilidade de se ter um vizinho de outra raça" aumentou em 1880 e 1940.
Trevor Logan, um dos coautores da pesquisa, visitará o Cedeplar (UFMG) em breve. Agradeço ao grande Bernard Lanza, por me avisar sobre tão importante pesquisa.
Tecnologia do Blogger.