Bicicletas, privadas e humoristas

Disse um humorista: "Nos países em que você lava a própria privada, ninguém mata por uma bicicleta". E acrescentou: "Um pobre menos pobre rende mais dinheiro para você e mais tranquilidade nos passeios de bicicleta."
Imagino que ele tenha relacionado pobreza com violência. Como eu não tenho dados sobre roubos de bicicleta, vou ver se a pobreza e a taxa de homicídios estão correlacionadas.
Enfim, sem nem pensar na suposta causalidade do título, já dá para ver que a afirmação não resiste a cinco minutos de análise de dados.
Outra coisa: se a redução da pobreza por si só realmente reduzisse a violência, esta teria caído fortemente no Brasil dos últimos anos, né? Afinal, a pobreza caiu muito e a violência não (Na verdade,  a violência até aumentou nas regiões em que a pobreza mais caiu).
Que tal lutar pelo fim da pobreza como um fim em si mesmo?

Planejamento e Políticas Públicas - PPP número 44

Aqui.
Olha aí o sumário:

  • DIMENSÕES E QUALIDADE DOS CURSOS SUPERIORES EM ÁREAS DE CTEM NO BRASIL ENTRE 2000 E 2013 Paulo A. Meyer M. Nascimento, Divonzir Arthur Gusso
  •  DINÂMICA DA EFICIÊNCIA PRODUTIVA DAS INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR Edward Martins Costa, Francisco de Sousa Ramos, Hermino Ramos de Souza, Luciano Menezes Bezerra Sampaio
  •  INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: O CASO DAS UNIVERSIDADES ESTADUAIS PARANAENSES Carlos Eduardo Caldarelli, Marcia Regina Gabardo da Camara, Claudia Perdigão
  •  ASSOCIAÇÃO DO ENSINO PROFISSIONALIZANTE COM RENDIMENTO E EMPREGO: MINAS GERAIS (2009 E 2011) Bárbara Avelar Gontijo, Ernesto Friedrich de Lima Amaral
  •  ELASTICIDADE DA POBREZA: APLICAÇÃO DE UMA NOVA ABORDAGEM EMPÍRICA PARA O BRASIL Erik Figueiredo, Ana Cláudia Annegues, Wallace Souza
  •  REGRAS DO GOVERNO BRASILEIRO SOBRE SERVIÇOS DE TELESSAÚDE: REVISÃO INTEGRATIVA Angélica Baptista Silva, Ana Cristina Menezes Guedes Carneiro, Sergio Ricardo Ferreira Síndico
  •  ANÁLISE DE POLÍTICAS PARA AGLOMERAÇÕES NO BRASIL E EM PAÍSES EUROPEUS SELECIONADOS Ana Lucia Tatsch, Janaina Ruffoni, Vanessa de Souza Batisti, Lucimar Antonio Teixeira Roxo
  •  POLÍTICAS DE COTAS NÃO RACIAIS AUMENTAM A ADMISSÃO DE PRETOS E PARDOS NA UNIVERSIDADE? SIMULAÇÕES PARA A UERJAlvaro Alberto Ferreira Mendes Junior, Fábio Domingues Waltenberg
  •  PROPOSTAS DE DINAMIZAÇÃO DO AMBIENTE ECONÔMICO MUNICIPAL A PARTIR DA ANÁLISE DOS DETERMINANTES DE ATRAÇÃO DE INVESTIMENTOS: UMA ABORDAGEM EXPLORATÓRIA PARA O ESTADO DE SÃO PAULO Bruno Brandão Fischer
  •  IMPACTO DOS DETERMINANTES DAS PARCERIAS PÚBLICO PRIVADAS EM ECONOMIAS EMERGENTES Rodrigo Nobre Fernandez, Ronald Otto Hillbrecht, Gabrielito Menezes, Felipe Garcia Ribeiro
  • CAPACIDADE AMBIENTAL NO NÍVEL SUBNACIONAL: O CASO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Bruno Milanez, Clarissa Reis Oliveira
  •  GESTÃO DA DÍVIDA PÚBLICA, REPUTAÇÃO FISCAL E RISCO-PAÍS: EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS PARA O BRASIL Gabriel Caldas Montes, Bruno Pires Tibert

Atlas Digital da América Lusa

Aqui, mas veja antes o tutorial (pule para 2:30) para se impressionar.  Eu já tinha postado sobre o projeto faz anos e o projeto avançou muito mesmo
Nesta semana, tive o prazer de almoçar com os Profs Tiago Gil, coordenador do Atlas,  e  Fábio Pesavento, autor de "Um pouco antes da Corte: a economia do RJ  na segunda metade dos setecentos".  (O Fábio talvez seja o único historiador-econômico-rato-de-arquivo-surfista-golfista que pisou ou pisará o planeta Terra. Figuraça).

"Avaliação da Qualidade do Gasto Público e Mensuração da Eficiência"

O livro foi lançado ontem está disponível para download gratuito no site da Secretaria do Tesouro. A publicação já estava sendo preparada faz um bom tempo pelos organizadores: Fabiana Rocha, Fabiana Rodopoulos e  Rogério Boueri ( meu amigo e ex-chefe no Ipea).
Os autores dos textos são os craques na discussão sobre eficiência -com ênfase em DEA-  no Brasil. Tem até uma introdução a utilização de análise envoltória de dados no R (cap 10).

R versus Stata

Meu amigo Lucas Mation definiu muito bem:
"O Stata é aquela bicicleta híbrida, barata, que não quebra, pneu fininho, fácil de pedalar, melhor coisa para ir pro trabalho em boas ruas.
 Já o R é uma bike feita em casa pelo seu vizinho, tudo meio torto, pesada, tem que pedalar pacas... Só que você conecta um módulo de dirigível e vai voando por cima do trânsito." 
(Lucas é ciclista, ás no Stata  e recém-quase-convertido ao R) 

North American Regional Science Conference 2015 Portland Call for Papers

Aqui. (Eu quero ir para Portland para saber se Portlandia é ficção ou documentário e se é verdade que se pode encontrar hipsters como esse nas ruas.)

Grandes medos da humanidade (digo, meus)

Supor que sofre da Síndrome do Impostor, mas - na verdade - sofrer de Dunning-Kruger.

Por que a Argentina ficou pobre?

É um dos grandes enigmas da história econômica. O novo texto abaixo faz um resumo das teses e testa uma hipótese: os períodos de boom exportador geram uma demanda por populismo:
Commodity Price Booms and Populist CyclesAn Explanation of Argentina’s Decline in the 20th Century
Emilio Ocampo
 Argentina’s economic and institutional decline has long posed a conundrum to economists and social scientists. In particular, it challenges theories that seek to explain cross-country growth differences over time. Those theories that claim that institutions have a first-order effect on growth cannot explain the persistent economic decadence of a country that in 1930 was among the most institutionally advanced in Latin America. Theories that claim that that education and growth precede inclusive institutions face a similar problem, since Argentina was one of the most educationally advanced countries in Latin America. The same can be said of theories that claim that social capital is the determinant factor that explains long-term growth. This paper emphasizes the key role played by recurrent cycles of populism in pushing the country into secular decadence and posits that, in Argentina, rising commodity prices have driven the cycles of populism. Key words: Populism, commodity cycles, Argentina, inequality, institutions, social capital, economic growth, economic decline.
A dica foi do Shikida. 

Maluf e o saleiro

Eu defendo a proibição capixaba do saleiro à mesa dos restaurantes. Supondo que sal realmente faz mal à saúde, meu argumento é:
  • Como a demanda por sal é muito inelástica, uma taxa pigouviana não reduziria o consumo. Logo, um nudge, um empurrãozinho é recomendável. Quem realmente quiser mais sal, deve apenas pagar o imenso custo de dizer :"Seu garçom, por favor, o saleiro".
Os contra-argumentos seriam:
1) "Não funcionará porque as pessoas andarão com sal na carteira, ou aumentarão o consumo de coisa pior."
2) "Se hoje o governo se proíbe o sal, amanhã vão nos obrigar a comer whey com espinafre. Como traçar a fronteira?!"
São, na verdade, os contra-argumentos conhecidos: a) não vai adiantar; b) o efeito será contrário ao desejado; c) outras liberdades serão ameaçadas (Hirschman ®) .
O ponto 1 é empírico. Ele se baseia na ideia de que o efeito Peltzman anularia completamente qualquer intervenção. Pode ser.
 O ponto 2 é um pouco mais complicado. Antes de tudo, nem toda externalidade deve ser corrigida. Primeiro, seria desejável aplicar a troca coaseana. Se não for possível, é preciso considerar as falhas de Estado. A competência do Estado em identificar as externalidades e compensar os atingidos é bem limitada. Isso deveria ser levado em conta em qualquer análise.
Em suma, não há um limite definido para intervenção do estado. Cada caso tem que ser analisado de acordo com os benefícios e custos envolvidos. A vacinação obrigatória é um caso evidente de sucesso da intervenção estatal na saúde pública. Já colocar fiscais para obrigar todo mundo a caminhar 1 hora por dia seria bizarro. Em uma sociedade aberta, essas questão são decididas aos trancos e barrancos, com erros e acertos.
O que a história mostrou é que o meu querido Hayek errou na sua previsão. O welfare state não levou ao totalitarismo. As sociedades souberam combinar economias abertas, competitivas, com intervenções sensatas na saúde pública. (O google me ensinou que restrições à adição de sal são comuns na União Europeia.)
Para vocês verem como o tempo mudou, aí vai um vídeo antigo do "doutor" Maluf defendendo a restrição ao fumo e o uso do cinto de segurança. Vejam como os jornalistas moderninhos parecem dinossauros frente a um Maluf sensato:
Claro que em um país em que a maior parte da população não tem esgoto adequado, é campeão mundial de homicídios, protecionista, e políticas públicas horríveis parece (e é) um luxo bobo discutir o saleiro. Mas, ô diabos, esse é o assunto do dia.

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