Quase 10 mandamentos para jornalistas econômicos


1- Não compararás estoque com fluxo;
2-Diferenciarás: milhão de bilhão; bilhão de trilhão;
3- Não compararás faturamento das empresas com PIB de países;
4- Levarás em conta o poder paridade de compra das moedas;
5- Deflacionarás os valores;
6- Não escreverás "maior da história" a cada resultado contábil, sem antes calcular em termos per capita, ou como % do PIB;
7- Saberás que o número de empregos da economia não é fixo. Migrantes não tiram empregos;
8- Não escreverás: "Apesar da queda da inflação, a cesta básica encareceu". Um fato não contradiz o outro;
9- Não lamentarás um aumento de importações;
10 - [Em aberto. Sugestões?]

Analisar POF, PNAD, Censo, Pisa... com o R

Aqui. Bonus: os tutorials desse cara são muito bons.
Obrigado, Lucas Mation (que está em processo de conversão ao R). 

"Reinventing State Capitalism: Leviathan in Business, Brazil and Beyond" por Musacchio & Lazzarini

O livro deveria ser leitura obrigatória para quem abrisse a boca sobre o papel das estatais (e do próprio estado) no Brasil. O livro anterior do Lazzarini eu já comentei nos bits desse blog e os textos do Musacchio eu conhecia.
Minhas expectativas estavam altas. Mesmo assim, o livro me surpreendeu positivamente. A ênfase é mesmo no caso brasileiro e os autores conseguiram costurar muito o resultado de suas pesquisas empíricas recentes com uma discussão ampla sobre o papel da intervenção estatal nos diversos ambientes institucionais.
Eu não sei como andam as vendas do livro, mas temo que ele terá um impacto limitado justamente pelos seus méritos. São dois os motivos:
  • O livro não apresenta respostas fáceis, bordões, nem apresenta uma lei geral. Suas visões são ponderadas, cheias de nuances e não se enquadram em nenhuma ideologia de boteco.
  • O leitor imputado é o acostumado a ler uma tabela de regressão. Em seus livros de divulgação, Moretti e Glaeser esconderam a econometria na bibliografia e nas notas. Musacchio e Lazarinni, por sua vez, discutem no corpo do texto questões de endogeneidade, viés de seleção, etc. nas suas análises quantitativas. Tudo ao alcance de um aluno do 2o. ano de Economia, mas que pode excluir boa parte dos leitores potenciais.
Eu recomendo fortemente o livro para os meus 17 milhões de leitores.

Só autopromoção descarada

Textos meus que saíram recentemente:

E se a educação não for a solução?

Em 1940, a Argentina tinha 12% de analfabetos, enquanto o Brasil ,50%. Em 1970, apenas 7% dos hermanos eram analfabetos; um número que ainda não alcançamos. (Fonte)
No fim dos anos 80, eu ouvi de um professor meu (eu acho que foi o Barros de Castro) : "E se depois da inflação acabar descobrirmos que o problema do Brasil não é esse? E se descobrirmos que nem temos o caos inflacionário como desculpa?"
A realidade mostrou que a estabilidade foi condição necessária, mas não suficiente para o país tomar jeito. Hoje existem dois entraves consensuais ao crescimento: 1) infra-estrutura; 2) educação. A infra-estrutura é um gargalo óbvio e eu não tenho nada a acrescentar. A minha dúvida é sobre a educação.
Meu medo: fazemos um choque de educação, aumentamos o número e a qualidade do ensino e aí... nada acontece. Depois de 20 anos descobriremos que nossas instituições são uma porcaria e impedem o desenvolvimento econômico. Perceberemos que o acúmulo de coalizões distributivas* nos tornou incapazes de fazer as reformas urgentes.
Ou seja, mesmo que a educação melhore, temo que viraremos uma Argentina tropical no século XXI. Educados, mas estagnados e sem o consolo de uma Belle Époque ou de um Borges no currículo.
(Só para tirar qualquer dúvida:  é claro que eu defendo o avanço da educação. Eu defenderia mesmo se os ganhos econômicos fossem nulos.)

*Use aqui o jargão institucionalista que você quiser. Eu usei Mancur Olson.

Mestrado e Doutorado em Economia na UCB

O curso é nota 5 na Capes. Maiores informações aqui.

3 Textos Novos sobre Desigualdade Regional no Longo Prazo (2 sobre Brasil e 1 para o mundo)

  • O artigo excelente mesmo- um clássico imediato e resultado de anos de trabalho- é o do Eustáquio Reis "Spatial income inequality in Brazil, 1872–2000". Ele usa os dados das Áreas Mínimas Comparáveis para examinar os determinantes da  desigualdade regional brasileira. O resultado é que custos de transporte e geografia, mais do que instituições, foram os fatores-chave.
  • Agriculture, transportation and the timing of urbanization: Global analysis at the grid cell level. Impressionante: fizeram um grid de umas 63 mil células do mundo inteiro para examinar os determinantes geográficos da urbanização;
  • Last and least, meu humilde texto "Fronteira de Desigualdade Regional: Brasil (1872-2008)" saiu na Revista Análise Econômica.
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