Não acredite em estatísticas ditas no Oscar - Atualizado

Número de escravos nos EUA em 1850: 3,2 milhões.
Número de afroamericanos presos em 2009: 0,9 milhões.

Atualização:
Um comentarista escreveu:
Anônimo disse... não que seja importante, mas como você gosta de se colocar como alguém que valoriza "getting the facts straight", nessa vc está errado. os ganhadores do oscar não usaram como referência o número total de escravos, mas o número total de escravos homens. e eles não falaram "presos", mas "under correctional control". de qualquer forma, concordo que o debate público não pode confiar muito em discursos na festa do Oscar. nem em blogs. http://www.politifact.com/rhode-island/statements/2014/dec/07/diego-arene-morley/brown-u-student-leader-more-african-american-men-p
Ele está certo. Eu me orientei pelo que tinha lido no Twitter e não pela fala no Oscar. Grato pela correção.

"Manual de Sobrevivência na Universidade" em 1o. no kindle br

A Amazon fez uma promoção ontem e o livro foi para o primeiro lugar. Os leitores do blog que quiserem poupar R$5,99 podem me mandar um e-mail que eu envio o pdf grátis.

Links diversos



  • Debate Roberto Campos X Luis Carlos Prestes em 1985. Eu não lembrava que o Prestes era tão ruim de debate;
  • Versão datilografada do clássico do Domar "The Causes os Slavery: a hypothesis";
  • Resultado interessante, mas que eu desconfio: cidades europeias mais próximas da invenção da impressão cresceram bem mais rápido;
  • Arte;Dados;Arte. Os quadros da galeria Tate foram medidos e seus tamanhos representados na figura (quadro?) abaixo. O autor até deixou disponível o código em Python necessário para isso. (Bonus track: arte ou dados?)


    • Por que tem tanta besteira na internet?

      Devido à queda  queda dos custos de disseminação da informação.* É sempre assim: a cada choque tecnológico, um monte de gente começa a publicar, uns se ofendem, outros amam, todos chiam e, com o tempo, a poeira assenta e bola para frente.
      A queda no preço do papel e a tipografia levaram ao boom da imprensa:

      Os poderosos reclamaram. Um monte de intelectuais da Europa moderna puxaram cana ou foram censurados. Então, John Milton, Stuart Mill, Voltaire e turma começaram a longa luta contra a Igreja e o Estado pela liberdade de expressão.
      Com o tempo, a liberdade de expressão virou um princípio e as pessoas ficaram insensíveis. Liberaram a impressão de heresia e se pôde falar mal do governo. Ninguém mais se importava taaanto assim. (Claro, trato apenas das democracias liberais)
      Aí chegou a internet. Qualquer imbecil pode berrar com custo zero. E -surpresa!- os idiotas berram. E berram  para o globo inteiro. Os choques "culturais" entre os idiotas e os inteligentes geram tragédias, mas também ótimos momentos (Correa X John Oliver).
      Minha previsão: com o tempo, vamos nos acostumar que sempre haverá algo ofensivo na web. Alguém vai sempre ofender tua política econômica preferida, religião ou gosto musical.  Os calos emocionais se formarão e menos e menos gente se incomodará.**
      Enfim: como disse o filósofo J Rodrigues: "Deixa que dizem, que pensem, que falem."

      *Nota: esta hipótese não entra em choque, eu acho, com a minha teoria anterior.
      **Ou então os filtros de inteligência artificial nos protegerão da estupidez alheia.

      Por que uns países são tão ricos e outros são tão pobres?

      Foi uma boa sacada do David Landes reunir as explicações em duas categorias:
      One says that we are so rich and they so poor because we are so good and they so bad; that is, we are hardworking, knowledgeable, educated, well-governed, efficacious, and productive, and they are the reverse. The other says that we are so rich and they so poor because we are so bad and they so good: we are greedy, ruthless, exploitative, aggressive, while they are weak, innocent, virtuous, abused, and vulnerable.
      Eu só percebi agora que essa dicotomia também se aplica aos debates sobre pobreza e riqueza das famílias dentro de uma mesma sociedade.

      A sonegação de impostos no Brasil é realmente de R$ 500 bilhões?

      Versão curta: não.
      Versão longa: não. Vamos lá, o número é baseado no estudo do Sinprofazenda.  A chave dos resultados está na Tabela 8.

      Os autores obtiveram o "Indicador de Sonegação Estimado % do Tributo" das fontes listadas na última coluna. Vejamos a metodologia de cada estimativa de sonegação por imposto:
      • IBPT (2009): Utilizaram valores estimados de evasão a partir do autos de infração das empresas. Ora, as empresas fiscalizadas não são uma amostra aleatória. Elas foram investigadas porque eram suspeitas. Logo, a estimativa provavelmente superestima a sonegação;
      • Siqueira (2006): Não olhei a metodologia, mas a estimativa de evasão do IRPF (34%) foi feita com dados das declarações de 1999. Desde então, a Receita melhorou muito a fiscalização.  Logo, o número também deve estar superestimado;
      •  Paes (2011): Parece ser um trabalho muito bem feito de cálculo de hiato tributário (ou seja, a diferença entre a arrecadação legal e a efetiva). Nada tenho contra essa estimativa.
      (Outra peculiaridade: como os autores não atualizaram os percentuais estimados de sonegação, a cada aumento da arrecadação, maior será o valor absoluto da sonegação estimada.)
      Infelizmente,  a estimativa de R$500 bi é repetida nos jornais, nas redes sociais e no constrangedor  sonegômetro. Isso dá um peso de verdade ao número que ele não tem.
      Claro que há sonegação e também tem elisão fiscal.  Tudo devido a um sistema tributário infernal. O Brasil é o país com maior desperdício de tempo para acertar as contas com o Leão. Gasta-se aqui mais que o dobro de horas do que o segundo colocado, minha querida Bolívia. Que tal simplificar o sistema?

      Novo número da PPP

      Já foi lançado o mais recente número da Planejamento e Políticas Públicas.
      Conforme programado, é o meu último número como editor, Agora, Maurício Saboya assume a editoria e Patrícia Sakowski é a adjunta. A revista estará em ótimas mãos!
      Parodiando Smith: "Só o mendigo e o editor de periódico contam com a boa vontade alheia para a sua sobrevivência." Senti isso na pele. Eu devo agradecer muito ao pessoal do editorial do Ipea, aos autores e - fundamentalmente - aos pareceristas que tanto colaboraram para a publicação.
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