Os 50 anos da Formação Econômica do Brasil
Neste Janeiro, o livro do Celso Furtado completa cinco décadas. Eu já por várias fases em minha relação ao livro: na graduação, quando me foi apresentado como a Verdade revelada, eu adorei e acreditei em tudo. Já a partir do mestrado, quando li os autores críticos à obra, eu fui para o extremo oposto e achei que o livro do Furtado era um queijo suiço empírico e metodológico, só tropeços e o culpado de todos os males do mundo. Ano passado, eu reli o livro. Sabem que eu até gostei? Pô, ele foi baseado nas evidências históricas disponíveis e na teoria econômica hegemônica da época. Mas é um ótimo exercício interpretativo, com boas sacadas e, por bem ou por mal, o livro guiou as pesquisas em história econômica brasileira desde então.
O que me incomoda mesmo é que a Formação Econômica do Brasil será a única coisa que os alunos de graduação em Economia lerão sobre história econômica brasileira. É uma vergonha que uma publicação com 50 anos de idade ainda tenha essa posição de livro-texto. Ele deveria ser apenas uma visão e não um livro sagrado.(Thomas Kang já escreveu sobre o mesmo problema.)
Ah, antes que me perguntem. Quem quiser cortar caminho e ler um tanto da discussão sobre a formação da indústria brasileira, sugiro ir direto ao sensacional: SUZIGAN, Wilson. Indústria Brasileira: origem e desenvolvimento. 2ª ed. São Paulo:Editora Hucitec/Unicamp, 2000.
O que me incomoda mesmo é que a Formação Econômica do Brasil será a única coisa que os alunos de graduação em Economia lerão sobre história econômica brasileira. É uma vergonha que uma publicação com 50 anos de idade ainda tenha essa posição de livro-texto. Ele deveria ser apenas uma visão e não um livro sagrado.(Thomas Kang já escreveu sobre o mesmo problema.)
Ah, antes que me perguntem. Quem quiser cortar caminho e ler um tanto da discussão sobre a formação da indústria brasileira, sugiro ir direto ao sensacional: SUZIGAN, Wilson. Indústria Brasileira: origem e desenvolvimento. 2ª ed. São Paulo:Editora Hucitec/Unicamp, 2000.
7 comentários:
É realmente triste a forma que esse livro é tratado até hoje no Brasil (e não é o único). Infelizmente o debate acadêmico até hoje no Brasil muitas vezes não é tão marcado por uma discussão das evidências.
Lembrei do seu blog essa semana. Estou lendo o livro do Landes, The Wealth and Poverty of the Nations. O que achas? Abraço!
Pois eh, eu sempre tive orgulho que a Economia no Brasil nao tem seus PaulosFreires ou MiltonSantos. Esses "sabios" só atrapalham a vida. O Furtado eh um dos poucos que tem uma posicao parecida na economia. Menos mal que ele soh domina a historia economica.
Sobre o Landes, acho bom pacas. Mas os meus autores favoritos sao os arqui-inimigos dele: Gershenkron, Nick Crafts e a turma cliométrica. Mesmo assim, a leitura do landes de obrigatoria mesmo.
Leo, voce se encontra? Essa é uma pergunta franca porque nao recebi o ultimo convite para o almoco da segunda, mesmo assim, continuo achando seu comentário sobre o furtado meio murista e com um certo ar de adoracao, particularmente, ou pessoalmente, nao faço mais nenhuma concessao as interpretacoes daquela vertente. Um abraço.
haha, não esperava outra opinião do Anaximandros.
Mas enfim, é verdade. É interessante observar que muitos dos entrevistados em "Conversas com Economistas Brasileiros" valorizam muito a leitura do clássico de Furtado, mesmo que hoje advoguem posições diferentes. É um ensaio inicial, um passo importante, mas, como tu disse, uma interpretação. Não se pode esquecer dos muitos avanços desde então
Leonardo, acho que "Formação Econômica do Brasil" tem sua importância por ter sido o pontapé inicial da discussão sobre esse tema no país. Antes temos alguma coisa, mas acaba sendo mais uma interpretação sociológica do que econômica (vide o Caio Prado Jr., por exemplo, com o "Formação do Brasil contemporâneo" de 42 e o "História Econômica do Brasil" de 45 - que, apesar do nome, não é lá tão "econômica" assim). E temos que ter em mente que Furtado escreveu sua grande obra sobre forte influência cepalina e da teoria econômica vigente na época - é só atentar pro uso dos multiplicadores que ele coloca na sua teoria.
Acho que é mais ou menos como comparar com Adam Smith e seu "Riqueza das Nações". É o pontapé inicial, a partir daí é que se desenrola a discussão sobre economia no mundo. Antes até tínhamos os fisiocratas mas argumento de verdade para entender como funciona o sistema econômico, ah, isso foi com Smith.
É por isso que, independente de tudo, o devido crédito deve ser dado ao Furtado e você o fez acertadamente, Leonardo.
Abraço,
Quanto mais velho eu fico, mas livros e papers eu coloco na categoria: sei lah se eu concordo, mas gosto assim mesmo.
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