Os sorveteiros e a eleição

Aí vai a minha interpretação papo-de-boteco da eleição. Minha única ferramenta: o modelo de Hotelling (1929). Suponha que os consumidores estão distribuídos ao longo de uma praia e existem dois sorveteiros, cada um em um dos extremos. Aquele que está à esquerda anda um pouco para a direita porque assim ganha consumidores nessa direção e não perde nenhum dos eleitores, digo consumidores, à esquerda. O mesmo acontece com o que iniciou na ponta direita. A situação final são os dois sorveteiros-candidatos localizados bem no meio da praia. (O legal do modelo de Hotelling é que esse resultado só existe para 2 jogadores. Para três, não existe equilíbrio).

1 Turno:

- No começo, Dilma e Serra começam no meio da praia e a Marina tentou ocupar o mesmo lugar se mostrando bem parecida com os demais. Vendo que não subia nas pesquisas, ela passou para uma estratégia de mostrar que era a alternativa e totalmente distinta dos demais. (Olha o Hotelling aí!) Cresce nas pesquisas, mas não o suficiente.

2 Turno:
- Dilma e Serra são idênticos no discurso. Agora é só um processo de ajuste fino. Eles já fizeram de tudo e mudaram suas opiniões para satisfazer o eleitor mediano. O jeito é acusar o outro de incoerência com o seu passado, de ter duas ou mil caras e por aí. (Pedir coerência aos políticos é como pedir castidade a uma prostituta. É totalmente incompatível com a profissão). O que aconteceu foi apenas que os candidatos mudaram seu discurso para alcançar o eleitor mediano.

Garçom, uma outra cerveja, por favor.

PS: Encontrei um link aberto para o texto original do Hotelling.

5 comentários:

Lucas Reis disse...

"Pedir coerência aos políticos é como pedir castidade a uma prostituta. É totalmente incompatível com a profissão" - melhor frase dos últimos dias!

Leo Monasterio disse...

Valeu. Na primeira versao do post, eu escrevi:
"Pedir coerência aos políticos é como pedir castidade a um padre." mas achei que poderia ser mal compreendido.

Lucas Reis disse...

Bom saber que existe algo como "primeira versão" de um post, com conteúdo mais impróprio!

Leo Monasterio disse...

Acir, meu colega de IPEA, nao gosta de comentar em blogs e me mandou o e-mail super legal:
"Leo:

Sobre o título “Os sorveteiros e a eleição”, do seu blog:

Lembro-lhe de que a aplicação do modelo de competição espacial do Hotelling a escolhas coletivas foi feita primeiro pelo Duncan Black (teorema do eleitor mediano) e depois pelo Anthony Downs (para o caso específico de eleições majoritárias).

Concordo que as plataformas de Serra e Dilma são pouco distintas (convergência pro mediano), o que os leva a privilegiar ataques pessoais (reputação, capacidade, etc.).

Mas é interessante notar que o debate sobre o aborto pode ser entendido como uma tentativa (do Serra) de criar uma segunda dimensão de diferenciação entre os candidatos (talvez um eixo conservador-progressista, ortogonal ao eixo esquerda-direita). Mas será que eles são realmente diferentes nessa dimensão?

Ab.

"

Anônimo disse...

Fico me perguntando até onde o fato de que os políticos são incoerentes - o que concordo - é derivado da democracia. Um político eleito antes com uma opinião, é levado a esposar outra opinião para atender uma nova demanda eleitoral. Na verdade, acho que os políticos gostariam de manter sua coerência, mas sua vontade de manter o poder é maior, então a opção pela incoerência.

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