Off-topic: a lista do Ramon de bandas

É certamente o meu post com a maior capacidade de gerar ganhos de bem-estar para os leitores/ouvintes. O grande-mestre-que-tudo-sabe Ramon Fernandez preparou um playlist sensacional:

Putnam errou?

Em uma outra encarnação, eu escrevi um tanto sobre capital social e crescimento econômico regional. Confesso que fiquei meio saturado do assunto e faz quase uns 10 anos que não acompanho a literatura.
De qualquer forma, esbarrei em dois abstracts sobre o assunto:

  • Este aqui testa o papel do capital social no crescimento econômico nos municípios brasileiros entre 2000-2003 (??? esquisito mesmo);
  • Na Cliometrica, acaba de sair um artigo que questiona os resultados do Putnam para a Itália. O capital social das regionais italianas só teria sido importante nas última décadas; na primeira metade do século XX, o importante mesmo foi o capital humano.

RCT na PPP

Obtivemos a autorização dos autores para traduzir o "Test, Learn, Adapt" e publicar na PPP. Eu já fiz aqui  propaganda dessa ótima introdução ao uso de Randomized Controlled Trials nas políticas públicas.

Economias e deseconomias de muita aglomeração mesmo

O Bernardo Furtado acaba de voltar da ERSA  em Bratislava. Segundo ele, esse slide lembra um post antigo do blog.
A propósito, o genial Randall  Munroe XKCD tratou de um problema semelhante a esses experimentos mentais

Entrepreneurship and Urban Growth: An Empirical Assessment with Historical Mines por Glaeser, Kerr e Kerr

Eu sei lá se o instrumento é válido ou não, mas renderia uma boa tese reproduzir o estudo para MG:
Measures of entrepreneurship, such as average establishment size and the prevalence of start-ups, correlate strongly with employment growth across and within metropolitan areas, but the endogeneity of these measures bedevils interpretation. Chinitz (1961) hypothesized that coal mines near Pittsburgh led that city to specialization in industries, like steel, with significant scale economies and that those big firms led to a dearth of entrepreneurial human capital across several generations. We test this idea by looking at the spatial location of past mines across the United States: proximity to historical mining deposits is associated with bigger firms and fewer start-ups in the middle of the 20th century. We use mines as an instrument for our entrepreneurship measures and find a persistent link between entrepreneurship and city employment growth; this connection works primarily through lower employment growth of start-ups in cities that are closer to mines. These effects hold in cold and warm regions alike and in industries that are not directly related to mining, such as trade, finance and services. We use quantile instrumental variable regression techniques and identify mostly homogeneous effects throughout the conditional city growth distribution.
Falando em instrumentos criativos no cruzamento história com  economia regional, esse outro artigo usa a localização das óperas na Alemanha do século XVIII como instrumento para medir o impacto dos boêmios no crescimento regional.

O que aprendemos sobre a industrialização brasileira está errado

Veja a tese de Michel Marson, orientada pelo Renato Colistete:
Esta tese trata das origens e evolução da indústria de máquinas e equipamentos em São Paulo entre 1870 e 1960. ... demonstramos que os efeitos da Primeira Guerra Mundial contribuíram para a redução na importação de máquinas e o aparecimento de várias pequenas empresas, geralmente pequenas oficinas e fundições para reparar as máquinas importadas. ...Também mostramos que os efeitos da crise de 1929 afetaram negativamente a indústria de máquinas e equipamentos paulista, mas apresentamos evidências que a diversificação da produção de máquinas para a indústria acelerou-se na década de 1920 e não foi resultado da crise. A recuperação da indústria de máquinas e equipamentos foi rápida e no final da década de 1930 a indústria se modernizou, iniciando a produção regular de máquinasferramenta. Apresentamos dois estudos de caso que ilustram que a indústria de máquinas e equipamentos teve sua origem no final do século XIX, passou por transformações nas décadas de 1920 e 1930 e se fortaleceu na década de 1940. Assim, nossos resultados divergem da periodização mais aceita da industrialização brasileira, que reconhece a importância da indústria de máquinas e equipamentos e de bens de capital somente após a década de 1950.
O boletim da FIPE tem uma síntese de partes do trabalho.

Um efeito catraca institucional

 Os sinais são desencontrados. A confiança no governo brasileiro teve uma forte queda (via Alexandre Rocha). Já os Der Spiegel diz que  o Brasil virou um modelo de qualidade institucional (via Drunkeynesian). O Mansueto, por sua vez, aponta que o personalismo/ voluntarismo aumentou na política econômica.
Pois é. O texto de Alston e Mueller argumenta que as instituições realmente melhoraram no Brasil. O Bernardo Mueller sustenta que agora mesmo o pior presidente não consegue fazer um governo ruim porque tem as mão amarradas pelas instituições e pela realidade.
Lá vai uma hipótese (talvez) não-testável-e-que-alguém-já-deve-ter-escrito-melhor-do-que-eu: existe um efeito-catraca :em uma crise, as reformas são feitas. Com cai a tensão, a catraca fica folgada e as instituições pioram um pouco. Mas quando o bicho pega mesmo, o governo faz o que deve fazer. O caso recente das concessões/privatizações (escolha o termo que mais gostar ) seria a mais fresca evidência em favor dessa tese.
Essa catraca explicaria o porquê do Brasil, aos trancos e barrancos, ter se transformado em um país mais normal nas últimas décadas. E é nessa hipótese que fundamento o meu medo de que o pré-sal leve a uma maldição dos recursos naturais por via institucional... Mas isso é outra história.

Diversos

  • Eu nunca li o Niall Fergunson e nem estou aí para essa briga recente com a blogosfera americana. As Reith Lectures  dele são apenas ok, mas os debates são bem legais;
  • Adolfo está escrevendo um livro e já circula os primeiros capítulos;
  • Quando eu defendo o uso de randomized controlled trials nas políticas públicas, eu esqueço que isso não é feito - lamentavelmente - nem na medicina;
  • Eu não uso mais o OpenGeoDa, mas aviso aos navegantes que acabou de sair a versão 1.2.
  • O texto de Pereira, Nadalin, Albuquerque e meu foi aceito na Geographical Analysis. Ueba. Em breve estará disponível nos periódicos capes da vida.

Minha lista de leitura de Tópicos em Economia Regional na UCB

... ou o instrumental da microeconometria (RCT, IV, Dif-in-Difs, PSM) adaptado para a avaliação de políticas regionais. Os textos base são "Econometria" (Stock e Watson) e o  "Mostly Harmless Econometrics" (Angrist e Pischke).
Compartilho com vocês a lista de leitura que montei para o curso (sugestões seguem sendo bem-vindas):
ANGRIST, J.; PISCHKE, J. S. The Credibility Revolution in Empirical Economics: How Better Research Design Is Taking the Con out of Econometrics. Journal of Economic Perspectives, v. 24, n. 2, p. 3–30, 2010.
BURSZTYN, L.; COFFMAN, L. C. The Schooling Decision: Family Preferences, Intergenerational Conflict, and Moral Hazard in the Brazilian Favelas. Journal of Political Economy, v. 120, n. 3, p. 359 - 397, 2012. (Não é regional, mas é muito bom mesmo e eu precisava de um texto de randomized control trial).

BUSILLO, F.; MUCCIGROSSO, T.; PELLEGRINI, G.; TAROLA, O.; TERRIBILE, F. Measuring the effects of European regional policy on economic growth: a regression discontinuity approach. . [S.l.]: Working Paper. Disponível em: . Acesso em: 16 ago. 2012. , 2010.

CHAGAS, A. L. S.; TONETO, R.; AZZONI, C. R. A Spatial Propensity Score Matching Evaluation of the Social Impacts of Sugarcane Growing on Municipalities in Brazil. International Regional Science Review, v. 35, n. 1, p. 48–69, 2012

CRISCUOLO, C.; MARTIN, R.; OVERMAN, H.; REENEN, J. VAN. The causal effects of an industrial policy. . [S.l.]: National Bureau of Economic Research. Disponível em: . Acesso em: 21 ago. 2012. , 2012.

FALCK, O.; FRITSCH, M.; HEBLICH, S. Bohemians, human capital, and regional economic growth. [S.l.]: CESifo, Center for Economic Studies; Ifo Institute for economic research, 2009. 
FALCK, O.; HEBLICH, S.; KIPAR, S. Local industrial policies difference-in-differences evidence from a cluster-oriented policy. 36th annual conference of EARIE (European association for research in industrial economics) in Ljubljana, Slovenia, in September. Anais... [S.l: s.n.]. Disponível em: . Acesso em: 16 ago. 2012. , 2009.

NUNN, N. The Long-Term Effects of Africa’s Slave Trades. Quarterly Journal of Economics, v. 123, n. 1, p. 139–176, 2008.
RESENDE, G. M. Measuring Micro- and Macro-Impacts of Regional Development Policies: The Case of the Northeast Regional Fund (FNE) Industrial Loans in Brazil, 2000–2006. Regional Studies, n. Forthcoming, p. 1-19, 2012.
A propósito, o site da União Européia Inforegio tem um ótimo guia introdutório para a avaliação contrafactual de políticas regionais

A educação acabaria com a desigualdade regional no Brasil? (cont.)

Só para esclarecer o post anterior:
- Não se pode partir de regressões mincerianas (ou seja,  regredir salário sobre características individuais, incluindo escolaridade) para estimar o efeito agregado da educação nas regiões. Afinal, existem efeitos de equilíbrio. Se todos tiverem educação boa, cai o diferencial entre os mais e os menos educados;
- A educação deve melhorar porque - ora bolas! - é o mínimo que qualquer país decente deve fazer. Se outras coisas melhorarem, ótimo. Isso me lembra aqueles estudos que mostram que aplicar vermífugo nos estudantes reduz o absenteísmo. Bela notícia, mas matar os vermes era motivo suficiente para apoiar o programa, mesmo antes dos resultados;
-Enfim, repetindo o ponto: existem determinantes econômicos da desigualdade regional que vão além das características individuais. Não estou dizendo nada de novo. Só me ocorreu que o caso francês fornecia um exemplo interessante (e um gráfico bacana). 

A educação acabaria com a desigualdade regional no Brasil?

Claro que um choque de educação no Brasil reduziria as disparidades, mas o mecanismo tem seus limites. Façamos o exercício: suponha que existe um país que - por gerações - ofereça a mesma educação pública em todas as suas regiões. Quando eu digo a mesma, é realmente a mesma educação. Suponha que o país se chame França. Veja o gráfico abaixo com a renda disponível per capita das regiões da União Européia. Pois é, a desigualdade regional francesa é considerável. (Se olharmos para a renda primária -sem transferências- a diferença entre a região mais rica e a mais pobre chega a 67%).

Fonte

Hoje eu não comemoro o dia do economista

Todo dia 13 de agosto eu retomo a campanha.  Viva o Festivus! A propósito, outras causas que eu apóio: "Plutão é planeta" e "Abaixo o caps lock". A luta continua!

Só off-topic


Uma tribo tão chata que ninguém quer pesquisar

The Baining—one of the indigenous cultural groups of Papua New Guinea—have the reputation, at least among some researchers, of being the dullest culture on earth. Early in his career, in the 1920s, the famous British anthropologist Gregory Bateson spent 14 months among them, until he finally left in frustration. He called them “unstudiable,” because of their reluctance to say anything interesting about their lives and their failure to exhibit much activity beyond the mundane routines of daily work, and he later wrote that they lived “a drab and colorless existence.” Forty years later, Jeremy Pool, a graduate student in anthropology, spent more than a year living among them in the attempt to develop a doctoral dissertation. He too found almost nothing interesting to say about the Baining, and the experience caused him to leave anthropology and go into computer science.
Agradeço ao Pedro Souza pelo link! (A história depois perde a graça porque os antropólogos descobriram que eles não eram tão malas assim).

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