Seminários, jornalistas e Dani Rodrik

Uma parte do argumento do Rodrik está correta. De fato, o que os economistas dizem nos seminários fechados é distinto do discurso público. Nos seminários baixamos a guarda, discordamos bem mais e somos mais céticos. E daí?
Os médicos dizem : "Faça mais exercício" ou ¨Coma mais vegetais". Não precisa ser o  Dr. House para imaginar situações em que essas recomendações piorariam o estado do paciente. Contudo, como norma geral, o conselho médico segue válido. É bem arriscado trazer a público certas discussões de saúde pública.
O mesmo acontece na Economia. Casos extremos como bens de Giffen e crescimento empobrecedor - para pegar os mais simples - só são ensinados quando o aluno já entendeu o núcleo da teoria econômica. Quer  na Medicina, quer na Economia, ou qualquer outra área (séria) certas discussões são feitas internamente antes que o debate seja aberto para o público não especializado.  E não há nada de errado com isso.
Atualização: Por coincidência, o  The Browser me aponta hoje para um texto relacionado com o assunto do post: Democracy is not a truth machine.

6 comentários:

Anônimo disse...

Dá uma olhada Leonardo: http://www.nber.org/papers/w17431.pdf

Thomas H. Kang disse...

No caso do texto do Rodrik, discordo de ti, Leo. Por exemplo, no caso de livre comércio e todo mundo feliz, a coisa não é bem esse de acordo com a própria teoria. Os modelos mais simples de comércio internacional, quando contam com mais de um fator, apontam ganhadores e perdedores com o livre comércio. Além disso, sabemos de todos os possíveis efeitos Dutch Disease dentro de um arcabouço convencional - o modelo de Dutch Disease é um modelo de três setores derivado do Heckscher-Ohlin, e recebeu atenção de caras como Krugman ou mesmo Jeffrey Williamson, principalmente no seu último livro "Trade and Poverty". Defender livre comércio intransigentemente ignorando a discussão de literatura não me parece legítimo em termos teóricos ou empíricos, embora eu reconheça a verdade lógica das vantagens comparativas (quem não reconhece, precisa pensar um pouco, porque é uma questão de lógica). No entanto, existe uma série de outros efeitos (ganhos e perdas dos fatores ou queda do custo médio no longo prazo da indústria com proteção via learning by doing) que devem ser levados em conta.

Thomas H. Kang disse...

Ou seja, acho que o Rodrik tem a mais completa razão. ;)

Leo Monasterio disse...

Meu argumento é que existem debates que devem ficar nos seminários de economia e não no público, isso vc concorda, né?
Sobre o caso do livre comércio, mesmo admitindo que existem bons argumentos teóricos para o protecionismo, acertamos - como profissão- recomendando livre comércio como regra geral. Afinal-por motivos que a teoria econômicaaté prevê- o mundo é mais protecionista do que deveria.
Enfim, coma vegetais e se exercite mais.
Abraços!

Thomas H. Kang disse...

Sim e não, heaha.
Concordo que a maior parte dos casos de proteção do mundo são mais explicados por economia política do que por qualquer outra coisa. A regra geral, com muitas ressalvas e exceções, é comércio livre. E talvez devêssemos falar das exceções. Vide caso do setor autombilístico chinês, que foi protegido. Restam dúvidas se valeu a pena ou não, mas certamente é discutível (ao contrário da proteção ao nosso setor automobilístico, muito mais lobby do que qualquer outra coisa)

Thomas H. Kang disse...

tenho comido vegetais, mas o último futebol me causou dores na perna... coisas da vida. ;)

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