A distribuição espacial dos médicos

Meus pitacos irresponsáveis:
  • É besteira que todo município deve ter médico . O  Brasil tem municípios demais, uns com menos de mil pessoas. Por outro lado, existem municípios como Altamira (PA) que é maior do que a Suiça e Portugal. Somados. O município é uma péssima unidade de análise.
  • A questão é a acessibilidade aos serviços de saúde (por tipo de atendimento). Ou seja, o tempo que demora para uma família chegar ao médico (ou vice-versa). O atendimento primário deve ter uma acessibilidade mínima para todos. Notem que eu  trato de acessibilidade. Na população distante, barcos e aviões fazem mais sentido do que deixar lá uma equipe médica de plantão.
  • A concentração espacial dos médicos é esperada e desejável.  Pelo mesmo motivos que  os outros serviços especializados são concentrados em metrópoles: economias externas e internas de escala.
  • O caso dos médicos cubanos parece  "uma solução em busca de um problema". Na função de produção de saúde, os fatores não devem ser lá muito substituíveis. Ou seja, um médico, imagino eu, precisa de um certo número de outros profissionais de saúde e um conjunto determinado de equipamentos. Justamente são os médicos o que  falta no Brasil?
  • Na hipótese improvável de que a falta de médicos seja o gargalo relevante, quer dizer que 6 mil , ou seja, 1.5% do estoque de médicos, fariam diferença e seriam a ação prioritária?
  • Certamente, nada disso é novo. Meu assistente de pesquisa mostra que existe até um  International Journal of Health Geographics, com textos como esse.
  • Com o Censo 2010 e Datasus dá para fazer uns mapinhas legais (se é que alguém já não fez) para o Brasil. Isso ajudaria muito a discussão.

14 comentários:

Anônimo disse...

Leo meu caro, vc tem razão em todos os pontos. A única consideração que eu faço é que, em nenhum momento, se disse que a vinda de 6 mil médicos cubanos seria a solução de um problema que tem a própria dimensão de nosso país. Até onde eu sei, esse seria um mero acordo de cooperação internacional, que Cuba já tem com vários outros países, para a vinda de profissionais para atuarem na atenção básica meramente, e por um período fixo: 2 anos. Seria uma ação vamos dizer proativa, de saúde preventiva, em regiões pobres e com difícil acesso aos serviços médicos. Sem falar que eles viriam a um custo muito barato. Até hoje não entendi pq uma ação a princípio simples causou tanta polêmica. Ou melhor, sei sim, apenas pelo fato dos médicos serem cubanos. Mas que outro país há no mundo que pode abrir mão de uma qtde tão grande dessa de médicos? Grande abraço! Sandro

Lucila disse...

Desculpe-me, mas o sr. parece desconhecer a proposta do governo e faz uma avaliação puramente econômica de saúde pública. Despreza, ainda, a importância da saúde preventiva e parece avaliar que a assistência médica deve se dá apenas em caso de urgência e emergência. Como este texto está sendo apresentado como análise ponderada, para melhor embasamento, sugiro quatro discussões: http://drauziovarella.com.br/destaque1/o-problema-da-ma-distribuicao-dos-medicos-no-brasil/ ; http://www.istoe.com.br/reportagens/313133_O+BRASIL+TEM+METADE+DOS+MEDICOS+QUE+PRECISA?pathImagens=&path=&actualArea=internalPage ; http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/arquivos/pdf/2013/Mai/23/ppt_evento_provab_2305_final.pdf ; http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2013/07/guest-post-medicos-cubanos-farao-o-que.html

Ana Maria disse...

Lucila, excelente observação! Ele realmente desconhece a proposta do governo. E, realmente, o blogueiro em sua análise detem-se apenas à assistência médica em caso de urgência e emergência.
Dizer que é desnecessário manter um plantão médico é demais!
E, como fica a assistência médica preventiva?
Imagina, para cada pessoa que queira ir a uma consulta de rotina, precisar pegar um avião, um barco!! Ah, já sei!! Seria uma nova versão do "pau de arara".(aéreo e fluvial). Legal, né?!

Leo Monasterio disse...

Sandro,
Ok que ninguém disse textualmente que seria a solução, mas a foi - se me lembro bem- a única proposta concreta para a Saúde que a Dilma citou no pronunciamento naquele momento crucial.

Lucila e Ana Maria,
Vcs leram oque eu não escrevi.

Aquele abraço,

Lucila disse...

Bom, aparentemente, Ana e eu lemos mais que o sr., que se dedicou a tecer "pitacos irresponsáveis"... "Um tolo nunca é mais tolo de que quando se mete a sábio"

"O" Anonimo disse...

O fato que os medicos são cubanos e vêm temporariamente apenas é suficiente para que qualquer pessoa decente seja contra sua vinda -- afinal a escravidão foi abolida no Brasil em 1889! É uma vergonha que a vinda de profissionais cubanos, que têm seus passaportes confiscados pela embaixada de seu país ao chegarem no pais de serviço, e não podem abandonar seu emprego, nem receber salários condizentes com as condições locais, seja considerada.

Leo Monasterio disse...

O Anonimo,
Eu acho melhor que 6 mil cubanos cubanos melhorem de vida temporariamente do que nenhum melhorar. (Não sei mesmo: eles não vem para cá obrigados, né?). Se uns desertarem, melhor ainda.
Mas lembro que eu sou um escroque. Afinal, já fui para Cuba para aproveitar a praia, mesmo sabendo das safadezas do regime e que eu o estava financiando diretamente. Os mojitos me fizeram esquecer disso tudo.

Jorge Browne disse...

Concordo que a concentração é esperada e até desejada. Mas a questão central pelo que vi é que se esta a falar de saúde preventiva. Um posto de saúde, uma equipe do PSF, podem fazer muito na saúde básica.

Até aqui no RS temos municípios com dificuldade em conseguir médicos. Quem dirá em outros lugares? Se serão cubanos, javaneses ou aborígenes é um detalhe menor...

"O" Anonimo disse...

Leonardo, as condições de trabalho dos médicos Cubans no exterior são de escravidão. Eles não podem abandonar seu emprego, devem entregar seu passaporte para as autoridades que os controlam e não tem liberdade de ir e vir. Sejam 6, 60 ou 6000, é melhor ter zero médicos sob regime escravo. Pelo mesmo motivo que é melhor ter zero cortadores de cana ou programadores de Cobol submetidos à escravidão do que 6000 deles.

"O" Anonimo disse...

Prezado Jorge, o problema não é a origem dos médicos, mas as condições de trabalho escravo. Não tenho nenhuma restrição à livre entrada de profissionais estrangeiros. Sou inclusive a favor de conceder cidadania brasileira a qualquer estrangeiro que vier para cá com um diploma universitário. Mais que isso: diria até que o Brasil deveria pagar para estrangeiros com alta qualificação venham para cá adotar nossa cidadania. Agora ressuscitar a escravidão em nome de transferir renda para um regime totalitário é o cumulo da imoralidade.

Jorge Browne disse...

"Eles não podem abandonar seu emprego, devem entregar seu passaporte para as autoridades que os controlam e não tem liberdade de ir e vir."

"O", se forem essas as condições concordo contigo.
Mas duvido que se aceite aqui um convênio integralmente nesses termos, o que seria um escândalo. De qualquer forma a meta são estrangeiros, não necessariamente apenas cubanos.

Unknown disse...

Como economista concordo com todos os seus argumentos, porém acho que o terceiro ponto pode ser complementado, pois como sabemos a concentração leva a poder de mercado e isso não é nada bom principalmente quando falamos de um serviço como o de saúde. Vou exemplificar o meu ponto de vista: moro em uma cidade, não tão pequena (quase 300 mil habitantes)e que serve como polo para ouros pequenos municípios da região, porém esta cidade fica no interior da Amazônia, e acredito que por isso algumas especialidades médicas sejam raras por aqui, de modo que os poucos profissionais existentes tendo o poder de mercado não aceitam planos de saúde e muito menos atendem no serviço público, suas consultas chegam a custar 400 reais e só podem ser agendadas com 2 meses, o paciente fica na mãos do médico e se submete a pagar e esperar.
Zilda

Lucila disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lucila disse...

Excelente comentário, Zilda! A questão do corporativismo médico não se limita a evitar que estrangeiros tomem o lugar de brasileiros. É mais cruel, é manter a exploração de populações interioranas por poucos profissionais que lucram, muito, com isso.

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