Cultura e Desenvolvimento

"...nós ainda sofremos com o preconceito contra os "negócios", legado dos dias em que a aristocracia e os proprietários de terra não se envolviam em nada tão vulgar quanto comprar e vender bens."
Um ótimo retrato do Brasil, não é? Devido à formação histórica do Brasil, nás criamos uma cultura não empreendedora que tem preconceito contra ganhar dinheiro e restringiu o desenvolvimento brasileiro. Maldito legado da colonização portuguesa! Ao menos isso é o que muitos dizem...
O engraçado é que o trecho acima se refere aos ingleses e não aos brasileiros! A autora, Kate Fox, convincentemente mostra que os resíduos da mentalidade aristocrática na Inglaterra de hoje ainda explicam muito do comportamento contemporâneo de todas as classes. (Tirei o trecho de Watching the English: The Hidden Rules of English Behaviour, um livro ótimo de antropologia para não-antropólogos. Recomendo fortemente.)
Meu ponto é que, da mesma forma que essa aversão aos negócios não impediu a revolução industrial britânica, as explicações culturalistas para o atraso brazuca são questionáveis. Enfim, não foi o mentalidade escravocrata e patrimonialista que fez com que o Brasil ficasse para trás. Bem, mas isso é só a minha opinião.

4 comentários:

Anônimo disse...

Eis uma limitação das ciências sociais.

Com pesquisas sociológicas, antropológicas, etc. é possível compreender como determinados fatores (culturais, políticos, etc;) são condicionantes da realidade. Mas fica evidente que não se pode falar de determinação; O problema é que isso acaba se tornando uma faca de dois gumes. Como não há determinação, ficamos na relação de condicionamentos sócio-culturais que são muito difíceis de serem comprovados empiricamente, mensurados isoladamente, etc.

Assim, por um lado, podemos afirmar que o fator cultural histórico (de aristocracia escravocrata) não foi impeditivo da revolução industrial britânica. Mas, por outro, é difícil demais (se é que é possível) desenvolver uma metodologia que aponte de forma satisfatória que esse fator (de aristocracia escravocrata) teve ou não teve efeito sobre o desenvolvimento econômico e industrial no Brasil (e se teve, qual a intensidade desse efeito). O fator cultural pode não ter apresentado efeito nenhum; pode ter apresentado efeito mas sem intensidade suficiente, etc.

Em qualquer um dos casos, essas afirmações ficam pautadas sobre uma perspectiva histórica compreensiva (a lá Max Weber). Aliás, o estudo de Weber sobre a importância da ética protestante para o desenvolvimento capitalista é um bom exemplo de uma pesquisa que aponta a importância que um fator cultural teve sobre o curso da história. Enfim, um ótimo exemplo de que pesquisa histórico-compreensiva com rica fundamentação empírica (sem precisar de úteis modelos econométrico, mas que são fetiche de muita de gente)

Leo Monasterio disse...

Olha, essa questao de causalidade em ciencia sociais eh complicada. Meu pitaco: quando der para fazer exercicios contrafactuais, otimo. Se nao der, podemos acumularmos evidencias sque darao apoio a uma ou outra hipotese. Ex. o Landes argumenta que a rev industrial nao aconteceu primeiro na franca por questoes culturias. Outros carinhas vao leem outros relatos da epoca e mostram que - comparativamente - o pais nao era taaoo diferencte assim quanto ao empreendedorismo. Portanto, se nao havia diferenca inicial no aspecto cultural, ele nao pode ser o responsavel pelo atraso na industrializaacao francesa.
No caso brasileiro, se mostrarmos que os brasileiros eram nao tinham uma cultura tao diferente dos ingleses, as explicacoes culturalistas caem por terra.

(Sobre a etica protestante, o Prof. Sanson jah comentou aqui no blog os relatos de epoca que condenavam o corpo mole dos trabalhadores alemaes durante a rev industrial)

Anônimo disse...

Concordo com seu pitaco sobre a utilidade de pesquisa histórica na argumentação contrafactual. Para argumentação de 'corroboração' é que complica. rsrsrs.

Agora, sobre o corpo mole de relatos de ópoca, bem... Muitas vezes a única coisa que se tem são relatos de época, então não tem para onde fugir. Mas imagine se os relatos de época que apontavam o índios como preguiçosos no Brasil fossem assimilados sem crítica cultural alguma....

Nesses casos (de estudos históricos, de relatos e documentos, etc.) é imprescindível saber "quem" está falando e "de onde" está falando, não é?

Enfim. as dicussões do Blog continuam ótimas, mesmo quando só a gente conversa heheh. abraço.

Anônimo disse...

Leo,

O Thorstein Veblen, cuja obra você conhece melhor do que eu, pois já escreveu sobre o assunto, teorizou sobre isto ao comentar sobre a classe ociosa.
Certamente ele tinha conhecimento sobre os hábitos das classes ricas norte-americanas e européias ao falar que elas eram avessas ao trabalho produtivo (incluindo o comércio) e ainda mencionar que as forças armadas e outras instituições governamentais empregavam boa parte dos membros desta classe.
Veblen teria, nos países da América Latina,vários laboratórios para desenvolver suas ideias...
Abraço.

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