Vermes: a treta no mundo dos experimentos em políticas públicas e o meu pitaco
- O gênio Michael Kremer e Miguel publicaram, em 2004, um artigo na Econometrica em que mostram que os benefícios de dar vermífugo para as crianças no Quênia atingiam não só as tratadas, mas também as demais (por diminuir a contaminação).
- Dez anos depois, outros autores pegaram os dados e o código do Kremer e Miguel e não encontraram os mesmos resultados, i.e. os benefícios para as crianças não tratadas. (Teve gente que não concordou com o estudo.)
- Ben Goldacre, um craque na análise das políticas públicas (veja aqui um texto ótimo dele, em português), ressuscitou a polêmica com um post no Buzzfeed com aquele jeito Buzzfeed de ser: exagerado e com fotos sensacionalistas.
- O debate foi para o Twitter e envolveu o grandes Chris Blattman e o Michael Clemens. A discussão foi para tecnicalidades e para saber o que é, afinal, replicação de um estudo.
Meu pitaco irresponsável: esse experimento com vermífugo tem interesse acadêmico, mas eu ainda não sei qual sua relevância para políticas públicas. Ora bolas, você deve matar os vermes da criançada de qualquer forma, mesmo sem benefício no desempenho escolar nem em externalidades. Experimentos devem ser guardados para aquelas políticas públicas cujo resultado não seja óbvio ou um fim em si mesmo.
Atualização: o Chiss Blattman escreveu um post.
2 comentários:
Apesar de não ter lido nenhum desses estudos especificamente, li alguns outros relacionados e fiquei com a seguinte entendimento:
Tem gente que diria que é importante investir em educação. Outros diriam que o importante é investir em saúde. Esses estudos viriam a mostrar que, para as políticas públicas, mesmo quando se busca "maximizar a educação", deveríamos tratar da saúde (vermes) antes de tudo. Entendi errado?
É como no caso do Head Start. Parece que não tem efeito algum de longo prazo sobre cognição. Ao mesmo tempo, pegar as crianças em situação de risco social e colocá-las em um lugar seguro, agradável e divertido já não é bom o suficiente, mesmo que não haja efeitos permanentes de ganho cognitivo?
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