Diversos

Reclamação contra a carga tributária brasileira em 1831

Agradeço ao Thales Zamberlan pelo envio. (A propósito, o Thales é doutorando na FEA/USP e será uma ótima contratação para qualquer programa de pós-graduação. Spread the word!) 

Capitalismo de compadrio não é um problema cultural

Eu costumo dizer -  um pouco brincando- que "cultura não importa". No caso da discussão sobre o crony capitalism, no entanto, eu falo a sério: a chave está nos incentivos econômicos.
O historiador econômico Stephen Haber resume isso bem na introdução de um livro jóia sobre o assunto. A lógica é a seguinte: em termos ideais, quando há boas instituições, os empresários sabem que não serão expropriados pelo governo. Este taxa todo mundo, ganha o seu, mas não distribui privilégios. Logo, não há sentido em ser amigo do governo,  nem financiar campanhas.
Agora, quando as instituições são ruins e o poder discricionário do governo é grande, surge um dilema. Como o empresário vai investir se sabe que uma hora qualquer as regras podem mudar contra si? Sem investimento, não há o que tributar.  A solução mútua é transformar o governo em sócio de alguns empresários. Assim, cria-se um compromisso crível: o governo não vai passar a perna nas empresas de quem é "amigo" pois tem uma parcela no negócio. É uma solução institucional quebra-galho, que beneficia uns, mas é ruim para a economia como um todo,
No Brasil, os órgãos de controle e a Polícia Federal estão fazendo o melhor para coibir o capitalismo de compadrio, mas eles continuarão a ter muito trabalho se o Estado preservar seu poder discricionário. Quanto maior este for, maior será a pressão para "amizades" governo-empresas. Isso acontece em todo canto, em toda época.
Então esqueçam a explicação culturalista que culpa a mentalidade ibérica- ou a algo no ar do Brasil-  pelo crony capitalism. Reformas que reduzam a possibilidade de arbítrio estatal seriam a maior arma contra o compadrio.

Salários e escolaridade por ancestralidade/cor no Brasil

Aí vão dois gráficos do meu Texto para Discussão Ipea "Sobrenomes e ancestralidade no Brasil" que acabei de encaminhar. Avisarei aqui quando o texto estiver no ar.
Claro que os gráficos são apenas ilustrativos e não há qualquer causalidade nisso. Muitos outros elementos variam junto com os sobrenomes dos indívíduos.

A legenda é a seguinte: JPN= Japonesa; ITA= Italiana; EAS: Leste europeia; GER= Alemã; IBR: Ibérica; NAT= Indígena; MXD= Parda; BLK= Preta.
Nota: A fonte é a RAIS 2013 e só considerei os trabalhadores no setor privado entre 20 e 60 anos, com jornada maior que 40 horas.


Gasto tributários importam

Gastos tributários são tudo aquilo que o governo poderia, mas deixa de arrecadar. Entram na rubrica as isençoes, desonerações e tudo mais.
 O revelador trabalho Radiografia do Gasto Tributário em Saúde 2003‐2013 de Ocké-Reis e Gama apresenta um gráfico impressionante sobre a importância desses gastos por Minstério.

Gastos tributários são problemáticos? A princípio não, mas as letras pequenas da legislação contêm um monte de coisa estranha que é isenta de impostos. Aquelas aulas de Pilates que você desconta do IR como gasto em saúde é apenas a ponta do iceberg.

Para quem reclama da vida de professor universitário

... esse texto é muito bom e tem conselhos úteis:

  • "I have not attended a faculty meeting since 1972. I found that I liked my colleagues much better if I did not listen to their silly comments in such meetings. "
  • "I used to lunch with colleagues, but I found that their continual complaints about the administration and the students soured my attitude toward the college"
  • " I do not pick up the telephone in my office, and my voice-mail message informs callers that I do not check for telephone messages."

OK, aceito que são recomendações um pouco misantrópicas (apesar de generoso com os estudantes), mas o ponto geral vale: não dá para reclamar da vida de professor.

microdadosBrasil: PNAD, POF, Censo 2000/2010 e os Censos do INEP

O grande Lucas Mation (Ipea-BSB) preparou um pacote do R para o acesso a uma penca de microdados de pesquisas oficiais. Muito obrigado !
(Lucas era um militante do Stata e discutíamos as vantagens de um e outro programa enquanto engolíamos PFs preparados por vendedores de rua com critérios questionáveis de higiene.  Será que agora ele se converteu?)

Atualização: para o Censo de 2010, o Rafael Pereira preparou um código bem rápido.

Diversos

"Como realizar pesquisa com cliometria?"

Recebi o convite por email para responder essa pergunta lá no novo site PRorum. (Pelo que entendi, é iniciativa do Daniel Cajueiro, um dos mais citados pesquisadores da área de economia (e super gente boa.))
Bom, aí vai a minha resposta:
"Hoje não há mais grande diferença entre a pesquisa  cliométrica e o restante da Economia. Nos anos 60, era inovador pensar em hipóteses testáveis e contrafactuais na pesquisa histórica. Hoje, isso é o padrão. Qualquer número do  Journal of Economic History mostra que a hisória econômica compartilha os métodos das outras áreas. E a maior parte dos textos recentes também incorpora as ferramentas da Revolução da Credibilidade: variáveis instrumentais, descontinuidade, diff-in-diff e outras.  Uma prova da convergência da história econômica com o restante é que boa parte dos novos textos foram publicados nos top journals gerais da economia (AER, QJE...)
A principal diferença da pesquisa cliométrica é no valor que se dá à coleta de dados históricos. Mergulhar nos arquivos públicos, publicações esquecidas, fontes históricas obscuras é muito bem-vindo. (Solow escreveu que o historiador econômico era o pesquisador com alta tolerância ao pó. Hoje, graças às fontes digitalizadas no Brasil e fora até os asmáticos podem trabalhar na área.).
Há muito o que fazer em história econômica no Brasil. Há muita opinião e pouca evidência empírica. Até mesmo os Censos oficiais não foram devidamente explorados. Isso tudo é ótimo. Significa que existe muito dado de acesso fácil que apenas aguarda pesquisadores motivados e bem treinados no instrumental da pesquisa empírica.
Em termos mais práticos, além de conhecer as ferramentas (micro, macro e econometria...), a dica é ler:
  • Os números recentes do Journal of Economic History para aprender o jeito de pensar e escrever dos pesquisadores atuais;
  • A literatura tradicional brazuca em história econômica e questionar: a) há evidências para as afirmações?  b) o que o autor afirma está de acordo com algum modelo econômico sensato? Esse exercício serve para sugerir problemas de pesquisa.

"Mortalidade entre brancos e negros no Rio de Janeiro após a abolição" por Thales Zamberlan Pereira

Eu não imaginava que as diferenças fossem tão grandes. No caso da tuberculose, a mortalidade média dos brancos era 294 e a dos negros, 2317 por 100.000 habitantes entre 1907 e 1916. Segue o resumo:
O objetivo deste artigo é analisar a diferença de mortalidade entre brancos e negros no Rio de Janeiro durante os primeiros anos da República brasileira. Utilizam-se dados de mortalidade de doenças relacionadas a condições precárias de moradia e acesso à infraestrutura como um indicador de desigualdade econômica. Apesar de o Rio de Janeiro possuir taxas de mortalidade declinantes durante o início do século XX, não ocorreu convergência entre a população branca e negra. Além disso, a análise quantitativa apresenta evidências que doenças que afetavam mais a população pobre, como a tuberculose, aumentavam indiretamente a probabilidade de morte por outras doenças, fenômeno conhecido como Mills-Reincke. Isto sugere que a taxa de mortalidade para a população não branca pode ter sido previamente subestimada. 

Como rodar regressões com grupos de variáveis no R

Enquanto o livro de R do Análise Real não fica pronto, aí vai uma dica simples, mas que eu demorei um tempão para perceber.
Sabe quando você quer rodar várias regressões com grupos de variáveis independentes distintas? Há  um jeito simples. Defina os grupos assim:

grupo1 = c("x1", "x2")
grupo2 = c("x3", "x4")

Para regredir y sobre x1 e x2:
eq0 = lm( y ~ ., data=df[, c("y", grupo1)] )

E para regredir sobre ambos os grupos:
eq1 = lm( y ~ ., data=df[, c("y", grupo1, grupo2)] )

PS: Erros corrigidos. Obrigado, Pedro!

Acabou o dinheiro

O artigo "Neoliberalism: Oversold?", por pesquisadores do FMI, fez muito barulho mundo afora. O guardians da vida interpretaram erroneamente como "o neoliberalismo morreu". Claro que o texto não dizia isso.
Contudo, ainda mais estranho foi quem achou que o artigo seria argumento contra as políticas de austeridade no Brasil de hoje. (Pouparei meus 847.373.384 leitores dos links para os textos dos culpados). O artigo original diz que a austeridade pode não ser uma boa idéia em países com espaço fiscal. Ou seja, quando não há risco de crise fiscal, talvez não seja bom obter superávits primários para reduzir a dívida.
Ora pitombas, tudo que não há no Brasil de hoje é espaço fiscal. Estamos em plena crise, com déficit primário e dívida em trajetória explosiva (se nada for feito). A austeridade é um obrigação imposta pela realidade.
O Tyler Cowen escreveu bem: a população confunde "austeridade é ruim" com " as consequências de ficar sem dinheiro são ruins". O Brasil está no segundo caso.

Pós-doutorado em Economia na UCB

Uma ótima oportunidade para os recém-doutores.
As inscrições vão até 18 de Julho. Edital e formulário de inscrição.

Censo 2010 no R

O UrbanDemographics mandou essa dica nos comentários de um post anterior:
"O Anthony e o Djalma sao fora de serie. Mas confesso que nao gostei muito de usar o monetdb, entao eu criei um script em R "puro sangue" para download dos dados. O script eh bem rapido. Qualquer comentario e sugestao eh bem vindo. https://github.com/rafapereirabr/Brazilian_Census_2010"
Valeu!
Lembro que os usuários de Stata tem o ótimo site Data Zoom da turma da PUC-RJ para baixar Censos e Pnads.

Immigration and local performance in the long-run: the role of ancestry

Essa foi a apresentação de ontem no proseminar de Economic History da UCLA. Ainda não tenho paper e os resultados ainda são muuuito preliminares mesmo.
Comentários, como sempre, são bem-vindos.

Tecnologia do Blogger.