Smith sobre colonização
No meu esforço desesperado de auto-promoção, reproduzo aqui um trecho -não revisto- sobre Adam Smith, tirado do artigo que Philipp Ehrl e eu estamos trabalhando. Sério, vejam só as sacadas do autor escocês, em especial a nota de rodapé 4.
Espero que ainda em maio o texto esteja disponível como TD Ipea. (Viram? Consegui falar de Smith sem tratar da treta com certa comentarista esportiva-econômica).
Aí vai:
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Espero que ainda em maio o texto esteja disponível como TD Ipea. (Viram? Consegui falar de Smith sem tratar da treta com certa comentarista esportiva-econômica).
Aí vai:
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Como costuma acontecer, é
na obra de Adam Smith onde se encontra a origem de ideias relevantes para a Economia. No
capítulo “On Colonies” de
“A Riqueza das Nações”(SMITH,
1776), investiga a história da colonização, sua função econômica e até acena com uma tipologia
preliminar baseada na História Antiga.
Smith escreveu
o capítulo durante a Revolução Americana (1765-1783) e, portanto, sua preocupação se
volta para examinar o papel destas e
as consequências econômicas dos “present disturbances” (SMITH, 1776, p. 186) para a economia inglesa[1]. Ao fazer o balanço dos
benefícios das colônias para a
Europa, ele aponta o
aumento da diversidade de bens e a expansão
do mercado (SMITH, 1776, p. 223). Por outro lado, as distorções causadas
pelas restrições ao livre-comércio e os custos de proteção e
manutenção das colônias, as tornariam, no cômputo geral, um fardo econômico para os países europeus (SMITH,
1776, p. 225).
Para os fins deste artigo, o relevante é
apresentar a oposição entre as colônias gregas e romanas. Smith
lembra que a palavra latina “colonia” significava simplesmente “plantation”, enquanto
a palavra grega “apoixia” remeteria à
“separation of dwellling, a departure from home, a going out of the house” (SMITH, 1776, p.
209). Ele afirma que nas colônias gregas
(SMITH, 1776, p. 209):
The mother city, though she considered the
colony as a child, at all times
entitled to great favour and assistance, and owing in return much gratitude and respect, yet considered it as an emancipate child, over whom she pretented to claim no direct
authority or jurisdiction.
Já nas colônias romanas, não havia quaisquer
interesse de ter um estado
indepen- dente. Elas foram criadas como uma forma de que os ricos de Roma tivessem acesso a novas terras. Mesmo tendo alguma autonomia legal, estas deveriam ser vistas como um tipo de “corporation”
submetidas à autoridade da
cidade-mãe.
Ainda
sobre as colônias romanas, ele sustenta que elas se localizaram
em áreas já
povoadas, cabendo poucas
terras para
novos colonos e sem liberdade para
cuidar de seus próprios interesses (SMITH, 1776, p. 2213). Com isso, o desenvolvimento econômico teria
sido mais limitado. Além disso, elas seriam fontes
de receitas para a sede do império, enquanto o
mesmo não aconteceria com as colônias gregas.
Voltando-se para as colônias
de sua época, Smith afirma que elas superaram em muito as da antiga
Grécia. Apesar de estas, inicialmente, se assemelharem com as romanas,
a distância em relação
à metrópole as teria tornado mais independentes, em busca de seus próprios
interesses. A colônia
de uma nação civilizada em uma terra vazia ou esparsamente
povoada se desenvolveria com mais velocidade do que qualquer outra. A
razão seria que os
colonos trariam não só maior tecnologia como também as instituições europeias.[2]
Neste momento,
Smith faz a diferenciação entre as colônias
espanholas e as demais. Aquelas,
desde o início teriam sido fonte
de receitas para a Coroa enquanto essas foram, em boa parte, esquecidas. O autor prossegue: as colônias espanholas talvez não tenham se desenvolvido justamente pela maior
atenção que receberam.[3] A menor
liberdade dos colonos espanhóis
teria sido uma das causas do seu mais lento desenvolvimento.
Ao voltar o
seu foco para colônias inglesas na América do Norte,
Smith aponta que, apesar
das terras serem inferiores às sul-americanas, as “political
institutions
of the English colonies have been more favourable to
the improvement and cultivations of this land”
(SMITH, 1776, p. 215). Primeiro, as
regras de ocupação da terra teriam gerado uma distribuição mais equitativa, por evitar a
apropriação das não cultivadas. Além disso, como a taxação do trabalho dos
colonos ingleses era menor,
haveria maiores incentivos para produzir
e acumular (SMITH, 1776, p. 2213). E, por fim, as colônias inglesas
foram favorecidas também por não terem
sido submetidas a restrições
tão graves no comércio internacional quanto as demais nações do Novo Mundo
(SMITH, 1776, p. 216-220). Em suma,
as colônias inglesas teriam tido
melhor desempenho do que as das demais
nações europeias, por não serem tão “iliberais” quanto as demais.
Smith
antecipa a literatura ao
tratar do papel
das instituições de mercado e do capital humano para
as diferentes trajetórias das colônias[4].
Apesar de Smith iniciar a análise
com um esboço de tipologia das
colônias, ele acaba a desenvolvendo com ênfase no caráter da
ocupação dados pelas diferentes potências coloniais. Em alguns
momentos (p. 234), ele traça paralelos entre as colônias
britânicas no Novo Mundo e
as gregas da Antiguidade; e também o faz entre
as colônias romanas e as de Portugal e Espanha
(p. 224). Ou seja, Smith dá início a
ideia de uma tipologia colonial, mas não a aprofunda
tanto
quanto os autores que se seguiram."
Unidos.
[2] Nas suas palavras (SMITH, 1776, p. 212 ): “ The colonies carry out with them a knowledge of agriculture
of other useful arts, superior to what can group up of its own accord
in the course of many centuries among savage and barbarous nations.
They carry out with them, too, the habit of subordination, some notion of the regular government which takes place in their own country, of
a the system of laws which support it,
and of a regular administration of
justice; and they naturally establish something of the same kind in the new settlement.”
[3] Sobre o Brasil, Smith tem uma interpretação curiosa. Segundo ele, antes de
terem
sido encontrados
metais preciosos, durante o período
de esquecimento, o
país teria se transformado em
uma “great and powerful colony.” (SMITH, 1776, p. 213 ).
[4] O autor
se mostra premonitório ao se referir ao futuro
das lideranças políticas das colônias da América do
Norte (SMITH, 1776, p. 236): “From shopkeepers,
tradesmen, and attornies, they
are become statesmen and legislators, and are employed in contriving a
new form of government for an extensive empire, which,
they flatter
themselves, will become, and which, indeed, seems very likely to become, one
of the greatest and most formidable that ever was in the world”.
Um comentário:
NEW TRETA
Mas e aí? Ele foi ou não sequestrado por uma mulher Roma enquanto criança?
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