Verdades desagradáveis sobre o transporte público

  1. Reduzir a tarifa só mediante a desoneração do transporte público é meia-sola. Se você não cobra de uns, o resto da população paga. Parece indolor, mas não é. Com a reclamação de municípios e estados, a conta - como sempre - acabará no governo federal (ou seja, todos). Os políticos apostam na ilusão fiscal para que a medida seja aplaudida. Como ninguém sabe direito o quanto paga, fica mais fácil engolir; 
  2. Se ficar só na desoneração, o trânsito e o transporte público continuarão tão ruins quanto eram. Para mudar mesmo é necessário desagradar: a) os donos de empresas; b) os motoristas de carros e motos;
  3. O transporte individual nas metrópoles deve ser taxado. O professor de Introdução à Economia nos ensinou: cada veículo na rua impõe um custo aos demais. Essa fração de segundo a mais de congestionamento atinge cada um dos outros na via e isso não é contabilizado pelo motorista. Com um pedágio urbano isso pode ser corrigido. (O uso de tarifas para combater congestionamento de estradas já estava no debate entre Pigou e Knight lá na década de 1920!);
  4. Não basta melhorar o transporte público, tem que encarecer o privado. (Eu, hipócrita,  tenho um bom ônibus e metrô disponíveis, mas costumo vir para o trabalho de carro.)
  5. A ideia de passe livre é ruim devido aos pontos 1 e 2;
  6. A ideia dos libertários de desestatizar o transporte público é ruim pelo ponto 3;
  7. Hoje tem manifestação do MPL em Brasília. Que tal pedirem, para começar, o fim do estacionamento gratuito na cidade? Ou algo mais modesto: multas para o estacionamento irregular?
  8. Quer consertar o trânsito de sua cidade? Nomeie o meu amigo Carlos Henrique como czar dos transportes. (Ele não vai aceitar, mas  sabe tudo sobre o assunto e já esteve de todos os lados da mesa. Dizem que já foi até maquinista, mas isso eu acho que é lenda).

Breaking news! O Carlos Henrique será entrevistado hoje na Globonews pela Mônica Waldwogel!

5 comentários:

Ticão disse...

Na 2a ou 3a feira vi um convidado do jornal da Record falando que existem cidades no mundo onde a tarifa é livre.

E parece que até aqui no Brasil existem algumas cidades praticando a tarifa livre.

Que tal perguntar ao seu amigo, especilialista no ramo, se essas experiências são um desastre total ou estão tendo algum êxito ?

Ou seja, que tal menos teoria e mais pratica nessa avaliação ?

Iury disse...

Leo, acredito que o problema nos transportes públicos seja a falta de infraestrutura de metros e trens. No Rio, aonde moro, o serviço de metrôs é horrível. Existem poucas linhas construídas (2 linhas) e é uma luta para entrar e sair de tão cheio. Já deveriam ter construído mais linhas a muito tempo, agora o custo é muito mais alto, afinal de contas, é muito mais facil construir um metrô quando não há nada construido em cima.
As medidas que você citou são medidas de curto prazo e acredito que funcionem, porém estão longe de ser uma solução ao trânsito.
Acho que o governo pode procurar por novas tecnologias, como os metrôs de superfície que podem provar ser um excelente investimento.

Leo Monasterio disse...

- Ele me contou que em BH colocaram passe livre em uma linha que circundava uma favela. Um mês depois a própria comunidade pediu que uma tarifa simbólica fosse estabelecida. O problema é que a garotada - sem outra diversão - ficava o tempo inteiro no onibus zoando e, com isso, afastava os passageiros. N=1, mas talvez haja algo a aprender nessa história.

Jorge Browne disse...

Concordo especialmente com o ponto 2, tinha pensado só nas empresas mas estás muito correto: quem tem carro tem que assumir mais esse custo (aiai).

Ticão disse...

Essa história da linha de BH de fato é pitoresca.

Mas estou mais interessado em saber a história das poucas cidades brasileiras com passe livre.

Será que seu amigo poderia pelo menos dizer em que cidades do Brasil se pratica o passe livre?

Talvez ele até saiba algum resultado da experiência.

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