"Brasil em Desenvolvimento 2014"

O livro do Ipea que Marcelo Neri, Sergei Soares e eu editamos está disponível para download em pdf e e-book vol. 1 e vol. 2. São 38 artigos assinados por mais de 80 pesquisadores do instituto e esta edição apresentou propostas de políticas públicas.

McCloskey sobre o Piketty

A resenha é diversão garantida e, como sempre, é maravilhosamente bem escrita. Ela se centra em um ponto: crescimento é mais importante que redistribuição. Claro que, no limite, ela está certa, mas é bem possível que um pouco mais de redistribuição não afete, ou afete pouco, ou até contribua com o crescimento no longo prazo.
Eu não li o Piketty, então nem sei se ela está certa ou não quando escreve sobre o livro. De qualquer forma, o texto tem trechos sensacionais. O meu predileto:
Getting the accounts right and getting the sums right within the accounts is the way that most economic questions are answered. (Eu deveria seguir isso como lema)
E esse:
Remarks such as “there are still poor people” or “some people have more power than others,” though claiming the moral high-ground for the speaker, are not deep or clever. Repeating them, or nodding wisely at their repetition, or buying Piketty’s book to display on your coffee table, does not make you a good person. You are a good person if you actually help the poor. Open a business. Arrange mortgages that poor people can afford. Invent a new battery. Vote for better schools. Adopt a Pakistani orphan. Volunteer to feed people at Grace Church on Saturday mornings. Argue for a minimum income and against a minimum wage.



Plugin para restringir a procrastinação

  • StayFocusd (Chrome) - Gratuito e muito bom. Tem até um modo que só permite mudanças de configuração se você resolver um enigma.

Prêmio do Tesouro Nacional 2014

Um monte de trabalhos bacanas. Destaco três : a) um sobre o impacto dos créditos do  BNDES nos municípios (adivinhem o resultado?); b) outro do Márcio Bruno, meu colega de coordenação no Ipea, sobre o comportamento fiscal dos estados pós LRF; c) e aquele sobre progressividade do IRPF.

Por que o ortodoxo San Tiago Dantas foi ministro do Jango?

A resposta está em Credibility and Populism: The Economic Policy of Goulart.
Os autores mostram que aquilo que parecia uma política contraditória, incoerente, tem tinha uma lógica interna. É um ótimo texto em que o meu amigo Prof. Sérgio e o meu orientador de mestrado, Pedro Fonseca, acertaram em cheio.

Mais um livro novo: Novo Regime Demográfico uma nova relação entre população e desenvolvimento? (ed. Ana Amélia Camarano)

Os craques da área de demografia brasileira estão lá. Ainda não li os artigos com o cuidado devido, mas um gráfico me chamou atenção: a evolução da sobremortalidade masculina por faixa etária entre 1980 e 2010. O gráfico indica que, em 1980,  na faixa entre 20-24 anos, morriam 228 homens para cada 100 mulheres. Em 2010, esse valor pulou para 454 homens para cada 100  mulheres mortas. É assustador o impacto da violência nas últimas décadas.


Avaliação de Políticas Públicas no Brasil: uma análise de seus impactos regionais (ed. Guilherme Resende)

O volume 1 e o 2 estão disponíveis para download. (Este que vos tecla tem um capítulo - junto com o Marcelo Caetano - no vol. 2)

Foto de navio negreiro a caminho do Brasil? Eu acho que não

Hoje, dia da Consciência Negra, está rolando na internet essa suposta foto tirada por Marc Ferrez de escravos a bordo de um navio negreiro francês em 1882 a caminho do Brasil.


Sim, Ferrez fotografou escravos aqui nessa época, mas eu temo que essa não seja uma das suas fotos.
Argumentos:
  • O barco é bom demais para ser um navio negreiro;
  • Em 1882, não havia mais tráfico transatlântico, muito menos em um navio francês. (Para lembrar da dimensão desse tráfico de escravos, eu sempre gosto de indicar incrível site Slave Voyages, feito pelo David Eltis e equipe.) . Mas ainda poderia ser um registro do tráfico interprovincial brasileiro. Contudo:
  • As crianças são pequenas demais para serem escravas no Brasil da época;
  • O que fazem aqueles caras de turbante à esquerda na foto?

Eu desconfiei que era uma foto do tráfico do Índico para os países árabes. Um google image search me levou para um post de 2008 que sustenta que são escravos resgatados por um barco inglês em 1868 no Índico. Isso me parece mais plausível.

PS:  Eu já postei aqui, mas não canso de citar o paper do Nathan Nunn sobre os efeitos de longo prazo da escravidão na África.


Instituições realmente importam?

Que belos posts criticando a literatura "institutions matter"! O primeiro é só sobre as regressões cross-country, o segundo sobre o Acemoglu, Johnson & Robinson e o terceiro, bem, esse ainda não saiu.

Produtividade no Brasil : desempenho e determinantes

Livro essencial para o debate sobre produtividade no Brasil com muitos dos craques da área. Pode ser baixado de graça aqui (pdf).
  • 1 OS DILEMAS E OS DESAFIOS DA PRODUTIVIDADE NO BRASIL/ Fernanda De Negri e Luiz Ricardo Cavalcante
  • 2 DESAFIOS PARA O CÁLCULO DA PRODUTIVIDADE TOTAL DOS FATORES/ Roberto Ellery Jr
  • 3 METODOLOGIAS DE CÁLCULO DA PRODUTIVIDADE TOTAL DOS FATORES E DA PRODUTIVIDADE DA MÃO DE OBRA/ Alexandre Messa
  • 4 PRODUTIVIDADE E ARMADILHA DO LENTO CRESCIMENTO/ Regis Bonelli
  • 5 EVOLUÇÃO RECENTE DOS INDICADORES DE PRODUTIVIDADE NO BRASIL/ Luiz Ricardo Cavalcante e Fernanda De Negri
  • 6 COMPARAÇÕES INTERNACIONAIS DE PRODUTIVIDADE E IMPACTOS  DO AMBIENTE DE NEGÓCIOS/ Lucas Ferreira Mation
  • 7 PRODUTIVIDADE DO TRABALHO E MUDANÇA ESTRUTURAL: UMA COMPARAÇÃO INTERNACIONAL COM BASE NO WORLD: INPUT-OUTPUT DATABASE (WIOD) 1995-2009 / Thiago Miguez e Thiago Moraes
  • 8 PRODUTIVIDADE DO TRABALHO E MUDANÇA ESTRUTURAL NO BRASIL NOS ANOS 2000/ Gabriel Coelho Squeff e Fernanda De Negri
  • 9 INFORMALIDADE, CRESCIMENTO E PRODUTIVIDADE DO TRABALHO NO BRASIL: DESEMPENHO NOS ANOS 2000 E CENÁRIOS CONTRAFACTUAIS/ Gabriel Coelho Squeff e Claudio Roberto Amitrano
  • 10 O DESAFIO DA PRODUTIVIDADE NA VISÃO DAS EMPRESAS/ João Maria de Oliveira e Fernanda De Negri
  • 11 PRODUTIVIDADE DO TRABALHO E HETEROGENEIDADE ESTRUTURAL NO BRASIL CONTEMPORÂNEO/Mauro Oddo Nogueira, Ricardo Infante e Carlos Mussi
  • 12 PRODUTIVIDADE AGRÍCOLA NO BRASIL/Rogério Edivaldo Freitas
  • 13 EVOLUÇÃO DA PRODUTIVIDADE DO TRABALHO DAS CADEIAS PRODUTIVAS DEVIDO A MUDANÇAS TECNOLÓGICAS DA INDÚSTRIA BRASILEIRA (1990-2009) /Luiz Dias Bahia


O Efeito de Longo Prazo das Missões Jesuíticas

Taí um resultado que eu não esperava: os locais com missões de jesuítas na Argentina, Brasil e Paraguai tem - até hoje! - melhores indicadores educacionais.
O trabalho parece muito bem feito (ah, e cita o paper que Irineu e eu fizemos).

O problema de ler pouco

O ex-ministro do Trabalho Antônio Magri disse que só tinha lido dois livros na vida . "Ler muito confunde as ideias", teria dito. Ele estava certo. A leitura realmente deixa o cara confuso. Só que isso é bom, porque nos faz menos cheio de certezas e prontos para julgar melhor.
Tomemos o caso de quem só leu "Formação Econômica do Brasil" do Furtado  e "A Economia Brasileira em Marcha Forçada" do Barros de Castro. Ainda mais se o cara fez uma leitura rasteira, ele sai seguro que crises são oportunidades [bip! bip! Alerta de clichê] e que, via gasto público, é moleza garantir a demanda agregada ou superar o gargalo externo "levando a economia brasileira para outro patamar" (seja lá o que isso queira dizer).
Contudo, quem também leu Suzigan, Peláez, Bonelli, Malan, Fishlow - só para ficar na geração que produziu sobre tais temas nos anos 70 e 80 - aprende que tudo é bem mais complicado do que contam as histórias reconfortantes da bibliografia básica das disciplinas de Economia Brasileira.

Eu sou eu e os hormônios a que fui exposto

Coisas que se aprende em uma banca de qualificação: a relação entre o tamanho do dedo indicador e o anelar (um marcador da exposição à testosterona no útero materno) influencia tudo: opção sexual, doenças mentais, capacidade matemática e até o-seu-interesse-em-spams-com-serviços-de-alongamento-de-certas-partes-do-corpo-masculino*.
Para aplicações em Economia, a referência no Brasil é a tese do Anderson Mutter Teixeira (que também estava na banca de qualificação): Ensaios em Economia Comportamental: Uma Investigação Experimental para o Marcador Biológico 2D:4D.


* Não é bem isso, mas eu não quero escrever para evitar o risco de desavisados googlarem e caírem neste casto blog.

Por que você está insatisfeito com o seu candidato?

 Hotelling (1929) explica: suponha que os consumidores estão distribuídos ao longo de uma praia e existem dois sorveteiros, cada um em um dos extremos. Aquele que está à esquerda anda um pouco para a direita porque assim ganha consumidores nessa direção e não perde nenhum dos eleitores, digo consumidores, à esquerda. O mesmo acontece com o que iniciou na ponta direita. A situação final são os dois sorveteiros-candidatos localizados bem no meio da praia.
No segundo turno da eleição:
- Os eleitores nos extremos ideológicos, à direita e à esquerda, ficam frustrados por seus candidatos não seguirem a "agenda histórica" do partido (ou seja, tem que andar muito até chegar ao sorvete), mas votam neles de qualquer forma;
- Como qualquer opinião polêmica afastaria o candidato do eleitor mediano, o negócio é não discutir propostas e só atacar o caráter, o passado do outro ou simplesmente mentir descaradamente.
Em quatro anos, como dizem os rótulos de shampoo: "Repita o operação".

How was life? Global well-being since 1820

Sensacional publicação da OCDE com boas notícias para todos*. Para qualquer medida de bem-estar humano, a situação melhorou como nossos antepassados não poderiam imaginar. Vejam o gráfico das expectativas de vida ao nascer.  Isso convence qualquer um e os dados de altura do Baten e cia corroboram os resultados
Na publicação, descobri também a existência do site Clio Infra: reconstructing global inequality.
*Exceto ambientalistas.

Via @ZeRobertoAfonso

Causalidade

Para quando eu tiver tempo sobrando (aka nunca):


Dois eventos

  • "Por que o Brasil cresce pouco?"sensacional  seminário do livro do Marcos Mendes e debate com Marcos Lisboa, Samuel Pessoa e Raul Velloso. No TCU/BSB, dia 6 de outubro;
  • Amanhã, quinta-feira (2 de outubro), em um evento levemente menos high profile, eu vou  apresentar o trabalho “Stature and Immigration in Southern Brazil, 1889-1914″ na FEA-USP.

Quase 10 mandamentos para jornalistas econômicos


1- Não compararás estoque com fluxo;
2-Diferenciarás: milhão de bilhão; bilhão de trilhão;
3- Não compararás faturamento das empresas com PIB de países;
4- Levarás em conta o poder paridade de compra das moedas;
5- Deflacionarás os valores;
6- Não escreverás "maior da história" a cada resultado contábil, sem antes calcular em termos per capita, ou como % do PIB;
7- Saberás que o número de empregos da economia não é fixo. Migrantes não tiram empregos;
8- Não escreverás: "Apesar da queda da inflação, a cesta básica encareceu". Um fato não contradiz o outro;
9- Não lamentarás um aumento de importações;
10 - [Em aberto. Sugestões?]

Analisar POF, PNAD, Censo, Pisa... com o R

Aqui. Bonus: os tutorials desse cara são muito bons.
Obrigado, Lucas Mation (que está em processo de conversão ao R). 

"Reinventing State Capitalism: Leviathan in Business, Brazil and Beyond" por Musacchio & Lazzarini

O livro deveria ser leitura obrigatória para quem abrisse a boca sobre o papel das estatais (e do próprio estado) no Brasil. O livro anterior do Lazzarini eu já comentei nos bits desse blog e os textos do Musacchio eu conhecia.
Minhas expectativas estavam altas. Mesmo assim, o livro me surpreendeu positivamente. A ênfase é mesmo no caso brasileiro e os autores conseguiram costurar muito o resultado de suas pesquisas empíricas recentes com uma discussão ampla sobre o papel da intervenção estatal nos diversos ambientes institucionais.
Eu não sei como andam as vendas do livro, mas temo que ele terá um impacto limitado justamente pelos seus méritos. São dois os motivos:
  • O livro não apresenta respostas fáceis, bordões, nem apresenta uma lei geral. Suas visões são ponderadas, cheias de nuances e não se enquadram em nenhuma ideologia de boteco.
  • O leitor imputado é o acostumado a ler uma tabela de regressão. Em seus livros de divulgação, Moretti e Glaeser esconderam a econometria na bibliografia e nas notas. Musacchio e Lazarinni, por sua vez, discutem no corpo do texto questões de endogeneidade, viés de seleção, etc. nas suas análises quantitativas. Tudo ao alcance de um aluno do 2o. ano de Economia, mas que pode excluir boa parte dos leitores potenciais.
Eu recomendo fortemente o livro para os meus 17 milhões de leitores.

Só autopromoção descarada

Textos meus que saíram recentemente:

E se a educação não for a solução?

Em 1940, a Argentina tinha 12% de analfabetos, enquanto o Brasil ,50%. Em 1970, apenas 7% dos hermanos eram analfabetos; um número que ainda não alcançamos. (Fonte)
No fim dos anos 80, eu ouvi de um professor meu (eu acho que foi o Barros de Castro) : "E se depois da inflação acabar descobrirmos que o problema do Brasil não é esse? E se descobrirmos que nem temos o caos inflacionário como desculpa?"
A realidade mostrou que a estabilidade foi condição necessária, mas não suficiente para o país tomar jeito. Hoje existem dois entraves consensuais ao crescimento: 1) infra-estrutura; 2) educação. A infra-estrutura é um gargalo óbvio e eu não tenho nada a acrescentar. A minha dúvida é sobre a educação.
Meu medo: fazemos um choque de educação, aumentamos o número e a qualidade do ensino e aí... nada acontece. Depois de 20 anos descobriremos que nossas instituições são uma porcaria e impedem o desenvolvimento econômico. Perceberemos que o acúmulo de coalizões distributivas* nos tornou incapazes de fazer as reformas urgentes.
Ou seja, mesmo que a educação melhore, temo que viraremos uma Argentina tropical no século XXI. Educados, mas estagnados e sem o consolo de uma Belle Époque ou de um Borges no currículo.
(Só para tirar qualquer dúvida:  é claro que eu defendo o avanço da educação. Eu defenderia mesmo se os ganhos econômicos fossem nulos.)

*Use aqui o jargão institucionalista que você quiser. Eu usei Mancur Olson.

Mestrado e Doutorado em Economia na UCB

O curso é nota 5 na Capes. Maiores informações aqui.

3 Textos Novos sobre Desigualdade Regional no Longo Prazo (2 sobre Brasil e 1 para o mundo)

  • O artigo excelente mesmo- um clássico imediato e resultado de anos de trabalho- é o do Eustáquio Reis "Spatial income inequality in Brazil, 1872–2000". Ele usa os dados das Áreas Mínimas Comparáveis para examinar os determinantes da  desigualdade regional brasileira. O resultado é que custos de transporte e geografia, mais do que instituições, foram os fatores-chave.
  • Agriculture, transportation and the timing of urbanization: Global analysis at the grid cell level. Impressionante: fizeram um grid de umas 63 mil células do mundo inteiro para examinar os determinantes geográficos da urbanização;
  • Last and least, meu humilde texto "Fronteira de Desigualdade Regional: Brasil (1872-2008)" saiu na Revista Análise Econômica.

Chamada para pareceristas ad hoc (de fora de Brasília)

A FAP-DF está cadastrando pesquisadores para elaborarem pareceres. Eles pagam R$240,00 por parecer. O pesquisador tem que ser doutor a mais de 7 anos e trabalhar fora do DF.

Número novo da Planejamento e Políticas Públicas

Aqui. Agradeço, como sempre, aos autores e pareceristas!  (A propósito, eu saio da editoria no final do ano.)

A dica mais importante deste blog

...para jovens economistas aplicados: Code and Data for the Social Sciences: a Practioner's Guide por Gentzkow e Shapiro. (O primeiro ganhou a John Bates Clark).
Leia o texto ou veja o vídeo (é o último da lista), mas faça o favor a si mesmo e aprenda as técnicas. Eu já enfrentei todos os problemas e cometi todos os erros que eles apontam. Ah, se eu tivesse lido isso antes... (Dica do Lucas Mation).

Handbook of Regional and Urban Economics Conference

A China é a maior economia do mundo?

Os novos dados de câmbio poder paridade de compra mudaram as estatísticas. A China quase ultrapassou os EUA e o número de miseráveis no mundo desabou de terça para quarta.A imprensa adorou o assunto.
Contudo, preciso lembrar que não importa saber qual é a maior economia do mundo.  (Essa atenção exagerada talvez seja reflexo da preocupação que a população masculina tem com as dimensões de certa parte da sua anatomia durante um determinado período de suas vidas: da puberdade até a demência senil.).
Não faz sentido comemorar ter ultrapassado um país, ou lamentar ter ficado para trás. Em geral, salvo por considerações patrióticas ou ambientais, quanto mais rico o mundo, melhor para todos. Mais ainda, o fato de outros países terem taxas de crescimento maiores da produtividade ou da renda per capita tem pouquíssimo efeito sobre o nosso bem-estar.
Voltando ao assunto, comparar os PIB dos países usando câmbio PPC é menos errado do que usar taxas de câmbio correntes. O problema é que super difícil estimar o câmbio PPC, mas isso deve ser feito - e é feito - da melhor forma possível.
O meu ponto é: a preocupação com a precisão deve estar não no câmbio PPC, mas no PIB chinês. Essa é a estranha omissão no debate. A maior parte das pessoas acha que é superestimado, o grande Fogel dizia o oposto. Medir o PIB em uma economia que passa por mudança estruturais em velocidade inédita na história humana é uma tarefa ingrata. Ademais, não há incentivos para produzir estatísticas precisas. Prova:  Eu tenho este livro oficial de estatísticas chinesas (eu uso só para impressionar os amigos). A soma da população provincial não bate com o total!
Alguns textos interessantes sobre a questão da ultrapassagem dos EUA estão aqui, aqui ou aqui. Já esse aqui está todo errado.

Diversos


Conselhos Fiscais: um dia chegaremos lá

Mais do que duas dúzias de países já tem conselhos e as evidências sugerem que isso está associado a um melhor desempenho fiscal. (Agradeço ao Alexandre Rocha pelo envio do paper)
A Lei de Responsabilidade Fiscal já previa um Conselho Fiscal, mas a tramitação da lei que o regulamenta -até onde sei - está parada. Eu realmente acredito que um Conselho Fiscal, bem desenhado, seria mais importante para o futuro do Brasil do que qualquer outra lei que eu possa imaginar.

R$2 bilhões/ano para "pescadores"

O Programa Seguro Defeso surgiu em 1992 e deveria beneficiar os pescadores artesanais que não trabalham durante os períodos de reprodução dos peixes. Hoje ele custa 1/12 do Bolsa Família e beneficia 700 mil pessoas.
Eu tento a guardar minha revolta contra as transferências que vão para os mais ricos e não para os mais pobres. Mas, nesse caso, eu guardei uma pouquinho de indignação. Gambier e Chaves revelaram números impressionantes para 2010:
(...) 584,7 mil indivíduos receberam ao menos uma parcela do SD (Seguro Defeso). Por sua vez, de acordo com o censo (...) havia 275,1 mil pescadores artesanais.
As seções 3.1 e 3.2 do TD mostram o tamanho da distorção.
Quem quiser, pode até baixar os nomes dos beneficiários aqui.

Bebês não são racistas, mas são egoístas

Eu acho que a mídia, os pesquisadores, ou ambos interpretaram os experimentos de forma equivocada. O experimento mostrou que os bebês preferem as pessoas que dividem os brinquedos de forma igualitária. Agora, se o experimentador  favorece os membros da mesma cor do bebê, ele esquece a justiça e brinca com a pessoa não-igualitária.
Ora, pense como o bebê. Por que inicialmente ele prefere a divisão igualitária? Na falta de mais informação, ele joga maximin e quer evitar o azar de ficar com poucos brinquedos.
Agora, quando ele enfrenta o pesquisador que favorece a sua cor, ele pensa "Maldito racista! Ah, mas dane-se: ele já deu sinais de que gosta de gente parecida comigo, vou tentar me dar bem também. Vou pegar um brinquedos desse preconceituoso."
Um possível teste: repetir o experimento, mas com um experimentador que favoreça os ursinhos de pelúcia. Garanto que o bebê vai evitar o pesquisador "especista".

Por que o imposto sobre aeronaves é uma má ideia?

O pessoal do Economista X já respondeu, mas eu vou dar o meu pitaco.
Os números do Safatle não batem: ao invés dos 22 mil "jatinhos e helicópteros" do artigo, existem , na verdade, menos que 9 mil aeronaves de uso privados. E o número de total de jatos de qualquer uso é de 724. (Fonte: Anuário da Aviação Geral).
 O Luis Felipe (vulgo B.O.), que me chamou atenção para o artigo,  fez a conta e viu que, usando os dados do Safatle, cada aeronave teria que pagar R$363 mil por ano. Ou seja, os defensores supõe que os donos vão pagar 1/3 de milhão por ano sem pestanejar.
O ricos não são diferentes. Eles também não querem pagar impostos. E quando você tributa os muito ricos eles tem muito mais capacidade de elidir os impostos. No caso, imagino eu, bastaria registrar o avião em outro país e pronto. (Já notou quantos navios são registrados na Libéria ou no Panamá?).
Enfim, não só a base tributária é minúscula como a receita tributária será bem elástica. Essa é a receita para uma arrecadação mixuruca, que não vai pagar os custos de arrecadação.
O Safatle mirou no que viu e errou no que não viu. Eu - e a torcida do América - defendemos mais impostos diretos (e menos indiretos) e uma carga tributária mais progressiva. Ao invés de se incomodar com os jatinhos, que tal aumentar a arrecadação do ITR e IPTU?

Lberais não conservadores

Eu já gastei a minha cota vital de discussões ideológicas.
Hoje, estou muito velho para isso, mas tenho que recomendar o site do Mercado Popular. É um Bleeding Heart Libertarians brasileiro, em que jovens mostram que você pode ser liberal, sem ser careta ou brucutu (Sim, minhas gírias denunciam a minha idade mental). Eu bom site para quem, como eu, sonha que o Brasil um dia vire uma holanda-com-sol-e-queijos-aceitáveis.
Aproveito o post "ideológico" para linkar o clássico: "Why I am not a Conservative" do Hayek. 

Teste de Turing da Política Econômica

Tente distinguir o discurso de um defensor da "nova matriz econômica" da fala do Geisel. Não é mole.

Se eu tivesse um caminhão, escreveria isto no para-choque

Uma dúvida rápida sobre o FPE

Todo o rolo sobre o FPE resultou na Lei Complementar 143/2013. Entre as mudanças estava a substituição do PIB per capita pela renda per capita estadual nos critérios de distribuição. Isso foi motivado por aqueles estados em que aquele era maior do que este.
Foi um erro: colocou em uma pesquisa amostral, a PNAD, a responsabilidade pelo resultado; antes, era uma dado de contas regionais. Pobre IBGE.
O que eu não entendi da confusão atual é que a Lei diz:
§ 3o  Para efeito do disposto neste artigo, serão considerados os valores censitários ou as estimativas mais recentes da população e da renda domiciliar per capita publicados pela entidade federal competente.”
 Qual a razão da pressa em ter as estimativas já em janeiro 2015 se na Lei valem as estimativas "mais recentes"? Alguém sabe?
PS: Não é uma pergunta retórica. Eu realmente quero entender.

Erros de um técnico do Ipea e acertos de outro

Aqui. Errei faz quatro anos. Ah, ainda tenho outro erro mais recente aqui e, certamente, devo ter feito mais um monte de erros que seguem ocultos. Foi bem fácil para mim assumir esses erros. Afinal, ninguém leu os trabalhos e os temas não eram polêmicos.

Eu já admirava o Rafael Osório pela seriedade, produção e capacidade técnica. Agora eu o respeito ainda mais pela dignidade com que lidou com a situação. Procurou o erro, encontrou, assumiu, pediu desculpas e se puniu. Quem dos seus críticos teria dado todos esses passos?

De graça: "Manual de sobrevivência na universidade"

Até amanhã: aqui (amazon br) e aqui (amazon us).
O livro, admito, é um fracasso de vendas, mas os meus poucos leitores deram 4,6 e 4,8 estrelas aqui e lá. Valeu!

Pausa no blog

Por falta de tempo e de cabeça, o blog ficará paradão por mais um tempo.
Enquanto isso, fiquem com um link para duas entrevistas exclusivas super bacanas que saíram na Revista Desafios e que eu me esqueci de postar:
- Banerjee sobre experimentos e políticas públicas;
-  Hanuschek sobre economia da educação.
Adianto para vocês que o próximo número virá com um perfil bem interessante do grande Albert Fishlow. PS: Eu sou do comitê editorial da revista, mas -infelizmente - não posso tomar para mim os méritos dessas ótimas escolhas.

Hausmann, economistas e dentistas

Tem uma frase do Keynes muito boa, aquela usada pelo Drunkeynesian como lema no blog:
 "If economists could manage to get themselves thought of as humble, competent people on a level with dentists, that would be splendid." 
Os dentistas eram arrancadores de dentes na época do Keynes. Gente que agia só no momento de crise para diminuir a dor, mesmo que as custas de um ou dois molares.
Eu concordo com a frase do Keynes. Economistas devem ser como dentistas, mas dentistas contemporâneos. Ou seja, o cara que diz: "escove os dentes depois das refeições", "use flúor e fio dental",  "não coma tanto açúcar" e outros conselhos que descumprimos religiosamente. Ou então que aja como o ortodontista que vai, aos poucos, corrigindo uma ou outra distorção.
O Haussman escreve aqui que os economistas deveriam agir como o autocomplete do google, ou como um cérebro,  antecipando os próximos passos. A experiência internacional acumulada apontaria o caminho a seguir na próxima fase do desenvolvimento econômico.
Enfim, eu nem critico a visão "ferroviária" do desenvolvimento implícita na proposição do Hausmann. Eu critico sua ambição. Eu prefiro algo mais modesto, na linha de bom dentista-economista: "prefira rules à discretion", "elimine as distorções alocativas", "combata a inflação" e assim por diante.

International Conference on Finance, Banking and Regulation - Prorrogação do prazo

Aviso: meus colegas da UCB que organizam o evento prorrogaram para 10 de Fevereiro o prazo para submissão de papers. A propósito, artigos em português também serão aceitos.

Viva as cotas de importação!

Como vocês sabem, cotas de importação são a forma mais estúpida de protecionismo. Geram aumento de preços dos importados, rent-seeking e nada de arrecadação. Ontem aprendi que elas tiveram tiveram efeitos colaterais positivos para a economia global...
A história é a seguinte: Nixon lutou pelo Multi Fibre-Agreement para proteger a obviamente decadente indústria de roupas norte-americana. O acordo impôs uma baita restrição quantitativa às exportações sul-coreanas. A solução foi levar as fábricas coreanas para outros países não incluídos no acordo, como Bangladesh. Hoje o país é um tremendo exportador de roupas. Bangladesh ainda é bem pobre, o setor tem lá seus problemas, mas umas três milhões de pessoas (90% mulheres) trabalham no setor. As cotas do Nixon, quer diria, apressaram a globalização da produção de roupas.
Eu aprendi tudo isso no ótimo podcast Planet Money. Eles entrevistaram até os envolvidos diretamente na instalação da primeira fábrica em Bangladesh. [Eu fiquei emocionado com os depoimentos (mas acho que só eu me emociono com essas coisas)].

O futuro energético do Brasil

Com base nessa notícia explosiva (desculpas),  meu amigo Mauro Oddo, livre-pensador  e engenheiro, fez a seguinte conta:
"500 litros de gás por dia por vaca;
Rebanho bovino brasileiro = 210 milhões de cabeças; 
Produção diária de gás vacum = 105 milhões de metros cúbicos por dia; 
Produção diária de gás natural no Brasil = 65 milhões de metros cúbicos por dia. 
Ou seja, a Petrobrás não produz em seus campos nem a metade o gás produzido pelas nossas vaquinhas!!!! Tá na hora de criar a Peidobrás!!! É um manancial mais rico que o pré-sal!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!"

Quatro coisas que você não sabe sobre econometria


  1. Você acha que o b estimado de uma dummy em uma regressão semilog deve ser entendido como o impacto b*100 na variável dependente, né? Você (e o Robert Lucas) estão errados, como mostraram Halvorsen e Palmquist (1980). Faz uns 6 anos eu já havia alertado para isso cá no blog. Contudo, outro Lucas, o Mation, me contou ontem que eu continuava errado. Tem um paper do Peter Kennedy (1981) que corrige um probleminha do trabalho anterior.
  2. O Stata acha que missing é um valor muito grande. Se y for missing e você fizer gen x=1 if (y>10), vai ter x=1 para todos os casos. A justificativa dos criadores do Stata está aqui.
  3. No R, experimente fazer .1==.3/3.Viu? Ele acha que são números distintos. Mais comportamentos estranhos em R Inferno (dica do Bernardo Furtado, eu acho)
  4. A Norah Jones é filha do Ravi Shankar. Veja aqui. (Tá, não é econometria, mas é tão inusitado que eu tinha que contar para alguém).

Diversos

"Comparing the incidence of taxes and social spending in Brazil and the United States" por Higgins & Lustig

Acabou de ser lançado.  Vejam que curioso: os EUA redistribuem mais que o Brasil. Contudo, se você considera que os brasileiros menos pobres pagam pelos serviços privados de saúde e educação não-superior, ambos redistribuem na mesma medida. Dica do Christian Lehmann. (O site do Christian, a propósito, vale uma visita. Ele aplica equilíbrio geral para o estudo do bolsa família. Coisa fina).

 Sean Higgins and Nora Lustig

 Abstract: 
We perform the first comprehensive fiscal incidence analyses in Brazil and the US, including direct cash and food transfers, targeted housing and heating subsidies, public spending on education and health, and personal income, payroll, corporate income, property, and expenditure taxes. In both countries, primary spending is close to 40 percent of GDP. The US achieves higher redistribution through direct taxes and transfers, primarily due to underutilization of the personal income tax in Brazil and the fact that Brazil’s highly progressive cash and food transfer programs are small while larger transfer programs are less progressive. However, when health and non-tertiary education spending are added to income using the government cost approach, the two countries achieve similar levels of redistribution. This result may be a reflection of better-off households in Brazil opting out of public services due to quality concerns rather than a result of government effort to make spending more equitable.

Ainda Localistas X Globalistas

Uma  banho de chuveiro depois eu me toquei que a diferença de opinião sobre programa Primeira Chance poderia ser interpretada como o velho dilema eficiência X desigualdade.  Se para você identificar talentos  e transferi-los para as boas escolas particulares é bom, então eficiência está acima de tudo. Por outro lado, você pode criticar o programa pelo aumento da desigualdade. As crianças das escolas ruins ficam ainda piores (porque perdem o efeito contágio dos bons alunos) e as melhores escolas ficam ainda melhores. O principal problema dessa interpretação é que eu perco o meu exemplo da polêmica "Localistas" X "Globalistas".
Vamos a outro exemplo mais apropriado então:  inventam um jeito que faz com que o número de golfinhos mortos por redes de pescadores de atum caia 50%. Localistas comemoram: "Menos 50%  de vítimas!". Globalistas: "Nenhum golfinho deve morrer. Essa invenção é uma enganação".
(Notem que não é exatamente uma diferença entre pragmáticos e idealistas.  De qualquer modo, imagino que alguém já deva ter feito a distinção  "Localistas" X "Globalistas", eu só não tenho tempo saco de procurar.)

Da arte nos abstracts

Aqui vai um exemplar notável. (via urban demographics, como sempre).
Outras contribuições memoráveis: aqui (o abstract original é só: "No, and maybe not") e um outro que eu já comentei.

"Localistas" e "Globalistas" nas políticas públicas

O texto do Gaspari relata o programa Primeira Chance que dá bolsas e apoia alunos brilhantes oriundos de escola públicas no Ceará. É um bom exemplo para ilustrar uma fonte de polêmicas nas políticas públicas.
Chamarei-os de "Localistas" e "Globalistas". "Localistas" apoiam quaisquer políticas que gerem ganhos marginais de bem-estar, mesmo as que não conduzam a um ótimo global.  Ou seja, eles se satisfazem com políticas que aproximem a sociedade de um ótimo local. Já os "Globalistas" são mais exigentes. Eles só defendem políticas que movam na direção do ótimo global e morrem de medo de ficarem presos em ótimos locais. No caso em questão, os Localistas pensam: "Deu para salvar alguns alunos. Não é a solução geral, mas é melhor do que perdê-los.". Os Globalistas dizem: "As bolsas são um erro porque não combatem o verdadeiro problema: a baixa qualidade das escolas públicas".
O debate entre "Localistas" e "Globalistas" surge em todo o canto. Sempre que você ouvir: "De que adianta mitigar X , se Y é a causa?" trata-se de um Globalista. Um Localista diz: "Ao menos resolveremos X. Y é para depois." Arrisco dizer que esta diferença de posturas é a responsável pelo maior gasto de saliva e papel entre debatedores de políticas públicas.

Falta de tempo + procrastinação= Twitter

O blog está devagar. Primeiro, porque está faltando tempo (em pleno janeiro!). Segundo, porque eu acabo pensando "vou fazer um post sobre isso"  e acabo esquecendo. As duas coisas me fazem a postar por impulso no twitter @lmonasterio e não aqui. (Lá eu sou ainda mais off-topic do que o geral).
A minha resolução de domingo foi, contudo, menos twitter e mais blog. Portanto, nesta semana já tenho novos posts programados.

Regional Studies Association Global Conference 2014, Fortaleza,Brazil

Stature and Immigration in Southern Brazil (1889-1914)

Meu texto, ainda produto de outra encarnação, acabou de ser publicado na América Latina en la Historia Económica. Já que você está lá, eu recomendo muito ler a resenha do excelente  Measuring Up: A History of Living Standards in Mexico, 1850-1950. Como seria bom um livro análogo sobre o Brasil!
Tecnologia do Blogger.