Manual / Caderno de campo

Caderno de campo


Os antropólogos levam o caderno de campo muito a sério. Na verdade, toda a Antropologia se baseia nele. A propósito, se você é antropólogo, pule essa seção porque ela não vai lhe ensinar nada novo.
A ideia é você ter um caderno em que vai anotar, em ordem sequencial, todos os dias de pesquisa. Você escreverá aquilo que você fez, pensou em fazer, referências que esbarrou, comentários sobre artigos que leu e gostou ou não gostou. Tudo isso deve ser anotado no caderno.
Não pense que você se lembrará das suas atividades durante a sua pesquisa. Em duas semanas, os textos que você passou os olhos vão para o mesmo inacessível lugar da sua cabeça em que você guarda a sobremesa que você comeu na semana passada. Ou seja, estão perdidos para sempre. Um caderno de campo bem-mantido é como uma memória externa que lhe impede de repetir passos já dados, além de guardar aquelas ideias que parecem interessantes no momento que você as tem (se a ideia é boa, ou não, você só descobrirá depois. Mas o importante é que você a tenha por escrito). Nossa memória é tão pouco confiável que, muitas vezes, só acredito que fui eu que escrevi porque seria muito difícil acreditar que um hacker invadiu o meu computador para acrescentar trechos no meu caderno.
O caderno não é um fim em si mesmo. É só um instrumento e não vale a pena gastar muito tempo mantendo-o organizado. Usar canetas de cores diferentes para cada tipo de anotação ou fazer desenhos caprichados acabam se tornando uma forma de procrastinar o trabalho sério mesmo.
Seja, contudo, rigoroso no caderno. Imagine que está escrevendo não para você, mas para uma outra pessoa que assumirá o seu trabalho no futuro. De certa forma, isso acontecerá. O seu eu-futuro é outra pessoa, bem parecida com você, mas ele daqui a dois meses (ou dois dias) não lembrará do que você sabe hoje. Seja generoso com o seu eu-futuro. Anote tudo de forma detalhada para que ele possa refazer os seus passos, caso isso seja necessário.
Qualquer caderno serve, contanto que ele sempre esteja com você, o tempo todo da pesquisa. Eu sou a favor do caderno em espiral de tamanho médio. Os cadernos em espiral ocupam menos espaço e ficam melhor quando abertos ao lado do computador.
Uma alternativa ao caderno de campo tradicional é você manter um arquivo digital em seu notebook. As vantagens são possibilidade de backup e o uso do recurso de busca dentro do arquivo. Mas o problema é que você provavelmente não anda com o seu notebook todo o tempo. Além disso, o tempo de boot ainda é um desestímulo para que se anote isso tudo que vem a sua cabeça.
Tablets são uma opção intermediária: não servem para longas notas, mas são ágeis o suficiente.; Enfim, não existe solução única. Cada um descobrirá a melhor forma de ter um caderno de campo. O importante é tê-lo.
Manter um blog público sobre a sua pesquisa é uma opção menos desejável. Pois, além de todos os problemas do notebook e de conectividade, a falta de privacidade restringirá os seus movimentos e pensamentos. A única vantagem é que outras pessoas da blogosfera poderão lhe ajudar. De qualquer forma, converse com o seu orientador antes de fazê-lo.

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